Entre o aceitar e o lutar…
Por Max Pereira @Pretono46871088 @MaxGuaramax2012
Mais uma derrota e daquelas que machucam. Perder para o Urubu em qualquer situação dói e como dói. O sentimento de atleticanidade nunca foi tão testado. Já vivi momentos ruins, de profunda indignação e avassaladora frustração. A perda do título brasileiro de 1977 em pleno Mineirão quando, depois de 120 minutos sem gols, o Atlético foi derrotado na disputa de pênaltis pelo São Paulo, mesmo com João Leite, o Goleiro de Deus, tendo defendido 2 pênaltis, foi um deles. Parece mentira, mas o Atlético conquistou o vice campeonato daquele ano invicto.
As polêmicas e históricas decisões contra este mesmo Flamengo em 1980 nos jogos finais do campeonato brasileiro daquela temporada e, em 1981, a repulsiva eliminação na Libertadores, marcada pelo escândalo do Serra Dourada, considerado por muitos, dentro e fora do país, o maior de todos os tempos na história do esporte bretão em todo o mundo, foram outros momentos de triste memória.
A queda para a série B, doída até os dias de hoje, é outra passagem da vida do Atlético que entristeceu e ainda entristece a qualquer atleticano e que, como as descritas acima e algumas outras, não devem e não podem ser minimizadas e, nem muito menos, esquecidas. Afinal é a história vivida por esse Galo maluco e sempre convulsionado. É a história de desafios e também de conquistas, títulos e glórias.
Dizem os antigos que depois da tempestade sempre vem a bonança. E ainda que em vários momentos o inverno alvinegro tenha sido longo, pesado e parecesse interminável, o verão sempre vinha e aquecia os corações atleticanos, a primavera cobria os caminhos alvinegros de flores e o outono trazia frutos que cada galista apaixonado saboreava com prazer.
Dizem, também, que o atleticano é um ser moldado e cozido na chuva e no sol, na alegria e na tristeza, na derrota e na vitória. O trinômio raiz do gigantismo alvinegro, história, identidade e torcida, é autoexplicativo. Sem qualquer um deles, o Atlético não seria o gigante que é hoje. Sem sua torcida o Galo não escreveria e nem viveria essa história fantástica e extremamente rica. Sem sua torcida o Atlético não teria uma identidade a solidifica-lo, patrimônio inegociável para todo o sempre, amém.
A atleticanidade é demarcada e substantivada por um sentimento de pertencimento de mão dupla, algo que, para o atleticano de verdade, é incorrompível, perene e concreto. Quando o time vence os atleticanos dizem nós vencemos, quando perde, nó perdemos. “Eu sou Atlético”, “Eu só Galo”, são as profissões de fé que todo galista se orgulha de gritar aos quatro ventos. Se algum objeto cair no chão, se se ouvir um barulho qualquer, se fogos de artifício explodiram nos céus, seja por que razão for, se uma buzina se fizer ouvir, o atleticano, esteja onde estiver, grita a plenos pulmões: GALÔÔÔÔ!!!
Mas, este sentimento não se esgota em si mesmo. Ele funciona como um moto contínuo, se retroalimentando continuamente. Ou seja, se ele é combustível essencial para a construção da história, esta, por sua vez o alimenta, mantém aceso e lhe dá sentido. Portanto, aquele mantra de que o atleticano e o Atlético não precisam de títulos é falso, não se sustenta diante da menor contra-argumentarão. Mensagens do tipo “QUEM GOSTA DE VAGA É QUEM FAZ VESTIBULAR”, postada e aqui ali quando o Atlético é eliminado de uma competição mata-mata ou “QUEM GOSTA DE TÍTULO É ELEITOR”, compartilhada sempre que o Galo perde um campeonato, jamais ganham força e nem quem as repercute as leva a sério.
Por isso toda derrota é doída e todo título perdido deixa um sabor acre na boca do torcedor alvinegro quando o Galo não consegue ser campeão. A derrota para os rivais, então, é particularmente sofrida. Assim, se os títulos não são importantes para o atleticano e para o Atlético, por que, então, muitos e muitos galistas derramaram lágrimas de extrema felicidade e gritaram “É Campeão”, “É Campeão”, “É Campeão”, todas as vezes que o seu clube do coração conquistou um título, por menor que seja?
A resposta é simples: a história é dinâmica, acontece todos todos os dias, minuto a minuto, e a vida só tem sentido sendo vivida e renovada intensamente, segundo a segundo. Assim, diante deste sentimento dúbio e desconfortável que o deixa dividido entre o aceitar e o lutar, o atleticano da gema, cada qual à sua maneira, acaba por fim confessando a si mesmo e a quem possa interessar a sua total incapacidade de se afastar definitivamente do clube e deixar de torcer para o Glorioso, como ele sempre se promete fazer nos momentos de muita dor e de ira incontrolável.
Nesses últimos tempos, de pouco futebol dentro das quatro linhas e de uma transformação radical e nebulosa na sua estrutura societária, o Atlético tem sido, como talvez nunca tenha acontecido em sua história, uma fonte inesgotável de dissabores, dúvidas, medos, raiva, angústia, preocupações e muita indignação para parcela cada vez mais significativa de sua torcida. “Estou cansado” e “O Atlético nos faz adoecer”, são algumas das frases mais ditas e repetidas aqui e ali.
Entre o aceitar e o lutar, a minha opção pessoal é a segunda hipótese. Nesses seus 115 anos de história e de vida, o Glorioso talvez nunca tenha precisado tanto de seu torcedor como agora. As ameaças, os riscos e as incertezas sobre o futuro do clube nunca foram tão evidentes e nunca ocuparam o imaginário do Galista como no tempos atuais.
De uma coisa tenho certeza: o atleticano, que um dia já derrotou o vento, jamais faltará ao seu clube do coração, seja nas arquibancadas, seja fora delas. É que ele sabe que, sem a sua torcida, a história do Atlético se tornaria apenas uma memória do passado, coisa do tipo “Era uma vez…”. Entre o aceitar e o lutar, Vicente Mota já deu a dica no Hino do clube: “LUTAR! LUTAR! LUTAR! ESTE É O NOSSO IDEAL!!!”
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