Base, planejamento e os pecados cometidos pelo Atlético
Por: Davi Salgueiro
Tudo começou em 2020, quando Savinho estreou bem contra o Goiás, com 16 anos, sob a batuta de Jorge Sampaoli. Depois disso, devido à oscilação normal da idade e a conhecida impaciência do treinador argentino com seus jogadores, pouco apareceu no restante do ano.
No ano seguinte, sob o comando de Cuca, Savinho ganha minutos nas quatro primeiras rodadas do Campeonato Mineiro. Infelizmente, mais uma vez oscila e novamente fica escanteado no restante do ano. Acredito que Cuca seja um dos menores culpados, tendo em vista como o ano se desenvolveu (pressão pelo título Brasileiro depois de 50 anos e a quantidade de jogadores tarimbados no setor ofensivo).
Porém, uma decisão tomada no decorrer de 2021 pode ter mudado o futuro de Savinho no clube: Assinatura do pré-contrato de Ademir para 2022.
Ademir fez um 2021 muito bom pelo América, poucos da torcida do Galo eram contra a sua contratação. Porém, uma coisa deve ser levada em conta: é dever de qualquer clube avaliar internamente o estágio de desenvolvimento de seus jovens jogadores antes de ir ao mercado.
Esse tipo de avaliação, simples torcedores não conseguimos fazer, exatamente porque não estamos presentes no dia a dia do clube. Porém, o que difere um clube que sabe trabalhar bem as categorias de base de clubes que não sabem trabalhar a base, é fazer esse tipo de avaliação corretamente.
Galo assina pré-contrato com Ademir e chegamos em 2022 com Savarino, Ademir e Keno, além de Vargas e Zaracho, que também jogavam nesse setor. Isso diminuiu ainda mais o espaço que Savinho poderia ter. Mesmo assim, devido a uma série de lesões que acometeu o time no início de 2022, somado à venda de Savarino, o menino ganha minutos enquanto Cristian Pavón só chegaria no meio do ano, e se mostra um outro jogador, muito mais maduro em todos os aspectos de seu jogo.
Acontece que, devido à quantidade de jogadores para o setor e a necessidade financeira, o clube decide pela venda de Savinho exatamente no momento que ele demonstrou estar em seu melhor nível desde que subiu para o profissional.
De quem é a culpa: Sampaoli, que subiu cedo e depois escanteou o menino, Cuca, que não o aproveitou, ou da diretoria, que não soube avaliar o estágio de desenvolvimento do menino antes de contratar jogadores para a mesma posição?
De qualquer forma, essa situação serviu para mudar a visão da torcida sobre a base do Galo. A torcida, agora, acredita que somos capazes de revelar jogadores de alto nível. O que faltava era oportunidades.
Chegamos em 2024 e o clube, no seu primeiro ano como SAF, passa por mudanças na estrutura de seu elenco e promete dar mais espaço para a base. Porém, uma coisa me incomoda: a falta de clareza ao se comunicar com a torcida em relação aos meninos da base, o que passa a sensação de que não estão fazendo as coisas com convicção.
Usando um exemplo, o ano começou com o Galo tendo Pavón e Alisson como pontas de origem e, mesmo assim, prometeram a contratação de mais um outro ponta, já que o elenco realmente precisava.
No meio da janela, Pavón é vendido e usam como argumento que querem dar mais espaço para Alisson. Ok, eu concordo com esse movimento, mas a torcida é pega no susto e fica desconfiada, exatamente porque o clube já necessitava de outro ponta no elenco. Será que o prometido ponta era reposição de Pavón, ou será que com a venda de Pavón, eles passariam a buscar dois pontas?
O mesmo acontece no ataque. Falaram que estavam buscando a contratação de centroavantes, sondaram nomes e, no fim, não conseguiram. E agora vão dar espaço para o Cadu e para o Isaac.
Não teria sido melhor, caso tivessem realmente convicção, se chegassem no início do ano, alguém da diretoria colocasse a cara e falasse expressamente que o planejamento para esse ano seria que jogadores como Alisson, Cadu e Isaac ganhassem espaço real no elenco, já que era de convicção interna que eles avançaram um estágio em suas carreiras?
O que impede a torcida, por exemplo, de desconfiar que esse tempo de jogo que Alisson ganhou só aconteceu porque Zaracho se machucou? No jogo contra o Ipatinga, onde Cadu conseguiu destaque com um gol e uma assistência, Vargas seria titular e só não foi porque estava em negociação avançada.
Falta clareza, não sei se é na comunicação ou no planejamento. Tudo é dito superficialmente por meio de terceiros e as chances aos meninos parecem acontecer ao acaso e não planejadas.
JOGADORES DA BASE E ESTÁGIO DE DESENVOLVIMENTO
Para finalizar, a torcida precisa começar a compreender que o desenvolvimento de jovens atletas não passa apenas pelo desenvolvimento técnico, mas também pelo desenvolvimento físico e mental.
Um jogador x pode ter um potencial maior que um jogador y, mas talvez o jogador y tenha o aspecto mental (é mais focado e competitivo) mais desenvolvido que o jogador x, e por isso, num futuro próximo, o jogador y seja mais útil que o jogador x.
Savinho, em 2020 e 2021, poderia ter o aspecto técnico apurado em seu jogo, mas talvez fisicamente e/ou mentalmente, ele não estivesse pronto. Em 2022, quando ele começou a desempenhar bem, talvez os três aspectos tivessem alinhados em termos de desenvolvimento.
Eu vou citar dois jogadores da nossa base que a torcida gosta muito e que possuem muito potencial, mas que, pessoalmente, eu vejo que ainda precisam jogar no sub-20 para amadurecerem, principalmente o aspecto físico, antes de sonhar com profissional: Vitor Reis e Iseppe.
Se não tiverem cuidado com esses dois, pode acontecer a mesma coisa que aconteceu com Savinho.
*Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, o pensamento do portal Fala Galo.