Por Max Pereira @MaxGuaramax2012
E o Atlético decepcionou mais uma vez. Bipolar como a sua própria torcida, o time atleticano foi do 80 ao 8. Pela terceira vez consecutiva diante do seu maior rival regional e, dentro de sua Arena, o time atleticano abdicou de jogar futebol, como admitiu Hulk ao fim da partida.
O incrível super-herói alvinegro só não explicou o porquê dessa renúncia. Talvez por entender que a roupa suja deva ser lavada intramuros do clube, Hulk optou por não aprofundar as suas críticas. E Milito, logo na sua estreia, mesmo sem perder o jogo, experimentou o gosto amargo da derrota. Ousado? Corajoso? Inconsequente? Culpado ou inocente?
O futebol é fascinante. Não sem razão é o esporte mais popular do planeta. A bola começa rolar e o que parece muitas vezes impossível, torna-se possível ante o olhar de milhões de espectadores que, incrédulos e atônitos, veem um placar absolutamente insuspeito ser construído diante de si. A bola pune, a bola não perdoa o erro. O futebol, por isso, é também cruel e inclemente.
Se Milito é culpado de alguma coisa, é o de não conhecer o elenco atleticano como me disse provocativamente em seu Zap o grande atleticano Adivaldo, meu companheiro querido de tantas jornadas acompanhando o Galo aqui e ali.
Em relação aos dois fiascos anteriores diante do time azul, o velho Didi, no alto de sua experiência já tinha soltado essa pérola em relação às más escolhas atleticanas: “perdeu dois clássicos por incompetência. Colocar um jogador totalmente fora de forma, como sempre o Galo sempre faz, é dar milho ao bode. O jogador fica 60 dias sem jogar e é lançado. sem preparo, sem ritmo. O rival não teve nenhum mérito. O galo foi incompetente”.
Ele tem razão. Lançar um jogador que vem de longa inatividade em uma decisão e com o time experimentando formação e forma de jogar inéditas, não deixa de ser uma temeridade. Temi por Zaracho e, claro, pelo que poderia ter acontecido em razão dessas variáveis.
Aqui, a bem da justiça e da verdade, há que se reconhecer que Matias Zaracho enquanto teve fôlego foi surpreendentemente muito bem. Mesmo jogando pelo lado esquerdo, já que Igor Gomes caía pelo lado direito, outra surpresa positiva, o argentino deu aula e mostrou que, além de bastante técnico, é um jogador taticamente extraordinário.
No primeiro tempo, o período em que o Atlético foi 80, sem ser perfeito, o Galo de Milito sufocou o rival azul a maior parte do tempo e poderia ter feito um placar mais elástico e, sem nenhum exagero, ter matado a decisão. Mas, como os erros atleticanos que já se prenunciavam durante a semana do clássico, dificilmente deixariam de produzir estragos, veio no segundo tempo, a fase 8 desse time doente e irritante. E deu no que deu. A Massa foi do êxtase à agonia.
Não, não importa a zoeira dos torcedores rivais, mesmo porque eles têm o que comemorar e zoar. Nós atleticanos, ao contrário, mais que lamber nossas feridas, temos que aprender a cobrar construtiva e proativamente. É preciso falar dos erros. É preciso apontar e cobrar soluções.
Era mais do que previsível e esperado que o time sentisse o ritmo bastante intenso empregado na etapa inicial e diminuísse o seu ímpeto e o volume de jogo. Vários jogadores começaram a “morrer” fisicamente no segundo tempo e, em consequência, suas mentes também começaram a se cansar, impedindo-os de dar as respostas táticas necessárias a um rendimento coletivo minimamente razoável e competitivo.
Mas, não é só isso. O gol contra de Jemerson, bizarro em todos os aspectos, funcionou como um gatilho para um descontrole emocional que atingiu a todos os atletas, tanto os que estavam em campo, quanto aqueles outros que estavam no banco. Não tenho nenhuma dúvida de que um filme macabro passou pelas cabeças atleticanas cujo roteiro eram as duas derrotas para o rival nos dois únicos jogos disputados até então entre eles na Arena MRV.
Não à toa, tenho insistido na tese de que o time atleticano está muito doente. No artigo “O PÉRIPLO DE MILITO: UMA JORNADA QUE SE INICIA EM MEIO A UMA DECISÃO E A UMA ESTRÉIA NA LIBERTADORES”, publicado no Arquibancada do Galo em 28.4 passado, fui além e reconheci “que os problemas do Atlético vão muito além das dificuldades táticas enfrentadas por Felipão e antecedem à sua chegada ao Glorioso”. Por óbvio, não pode ser esquecido que Milito chega ao clube sem que estes problemas tenham sido sanados.
No artigo “A MALDIÇÃO DA BOLA ALONGADA”, publicado aqui no Fala Galo, defendi que a péssima performance do time no início desta temporada e, também as irregulares campanhas do Atlético em 2022 e em 2023, repisando anos e momentos de igual desempenho ao longo de seus 116 anos, se explicam por um conjunto de fatores que descrevi naquele ensaio.
Para mim é induvidoso que os até então insanáveis problemas atleticanos estão na raiz da pífia atuação do Atlético na etapa complementar do clássico. Se Milito de fato errou por não conhecer o elenco e pareceu perdido e equivocado nas substituições que fez no segundo tempo e talvez até na escalação ousada que iniciou a partida como alguns defendem, é cruel e exagerado responsabilizá-lo integralmente pelo empate com sabor de derrota.
Por outro lado, entendo que é certo que o clube pecou na transição de um comando técnico para outro, como tem cometido e insistido em vários erros. Alguém viu Lucas Gonçalves no banco? Eu não vi e posso estar enganado. E os erros atleticanos não se resumem a possíveis escolhas táticas equivocadas, à clara incapacidade de administrar o desgaste físico havido durante o jogo, aos gols perdidos por Paulinho, aos erros pontuais defesa, particularmente na bola aérea ou à pexotada de Lemos no lance do gol contra de Jemerson, o azarado.
Mais uma vez o time atleticano caiu nas armadilhas azuis. Aproveitando-se de uma arbitragem fraca, os jogadores rivais fizeram caras e bocas, cometeram faltas contando com o beneplácito do dono do apito e repetiram em graus variados toda aquela “Mise-en-scène” que caracterizou os clássicos anteriores em que o Galo foi derrotado na Arena.
O fato de que, ao final do jogo, o scoult da partida indicasse que foram mostrados mais cartões amarelos para os jogadores do rival não muda em nada o fato de que em várias oportunidades os critérios usados pelo árbitro foram diferentes sempre a desfavor do Atlético. E mais, era natural que, extremamente mais faltoso, o time azul acabasse recebendo mais cartões amarelos.
Além de ter deixado o garoto Matheus Pereira, o melhor jogador do time rival, jogar livre, leve e solto durante os 90 minutos, o Atlético permitiu que o jovem atleta azul, dono de muita personalidade, encarasse vários de nossos jogadores, enquanto outros adversários pressionavam abertamente o árbitro central e, por vezes, seus auxiliares.
Ah! Mas houve um pênalti claro em Hulk não marcado e, sequer, revisado, pelo VAR. Se a penalidade tivesse sido marcada e convertida a história do jogo teria sido diferente? Sim, é quase certo que o jogo teria sido muito diferente e que o Galo tivesse vencido. Isso, porém, não elimina os erros do Atletico. Ainda sobre o pênalti a tesoura aplicada pelo zagueiro cruzeirense foi uma falta grosseira, passível de cartão amarelo.
Se o zagueiro rival tocou ou não na bola antes não elide a falta. Aliás, não existe isso na regra. Tocar na bola antes não me permite empurrar, puxar, dar uma rasteira e, muito menos, aplicar uma tesoura como aconteceu no clássico. Se fosse fora da área o árbitro certamente marcaria a falta e mostraria o cartão amarelo. Duvida? Eu não.
Mas, o Atlético não deixou de ganhar o jogo por isto. Repito: um conjunto de fatores e problemas do clube vêm se somando e se conjugando a desfavor do Glorioso. O mérito do adversário se resume em se aproveitar inteligentemente das vulnerabilidades e dos erros do Galo que, por sinal, não são poucos e nem leves.
Tudo isso revela uma vez mais a fragilidade política e a desimportância do Atlético no jogo dos bastidores. Soma-se a isso o festival de fake News, de vazamentos e de disse me disse nos dias que antecederam o clássico, com o claro objetivo de desestabilizar o clube e o time, além de tirar outras vantagens certamente heterodoxas.
Foi preciso Milito vir a público e pôr fim às especulações sobre sobre saídas desse ou daquele jogador, ao informar que havia pedido um tempo à direção do clube para avaliar o elenco, durante o qual não haveria nem dispensas a qualquer título e nem chegadas, além é claro, daquelas já anunciadas oficialmente.
As anunciadas saídas de Patrick e de Vargas para o Santos, clube penalizado por um Transfer ban, portanto, impedido de fazer qualquer contratação, foi algo mais que grotesco, foi outra bofetada na cara do atleticano. E Vargas no Flamengo? E Vargas no Furacão a pedido de Cuca? Bizarrices? Sacana bem pura.
O Atlético precisa passar por uma profunda reformulação de conceitos e métodos de sua gestão e, em particular, no trato do futebol profissional. Projetos potencialmente exitosos, como o DNA do Galo, deveriam ter tido continuação. Profissionalização, transparência e compliance.
Somente com uma gestão moderna e eficiente o Atlético irá conseguir alcançar e manter o protagonismo. Se nada for feito em relação a isso, o prognóstico sobre o futuro do clube é muito ruim. O Galo Business Day foi apenas uma carta de intenções. A SAF precisa mostrar trabalho e expertise em relação ao futebol.
De imediato, urge um trabalho específico e cuidadoso com o elenco para que novas bofetadas na cara do torcedor não mais aconteçam dentro de campo.
TEXTO OPINATIVO, DE TOTAL RESPONSABILIDADE DO AUTOR E NÃO REPRESENTA, NECESSARIAMENTE, A OPINIÃO DO PORTAL FALA GALO.