Galo em risco: rebaixamento à vista?
Por: Gustavo Lopes Pires de Souza
Foto: Pedro Souza
O torcedor do Atlético, apaixonado e fiel, vive um dos momentos mais delicados de sua história recente. Chegamos à última rodada do Campeonato Brasileiro com o fantasma do rebaixamento rondando a Arena MRV. Este cenário, embora doloroso, não deveria ser surpreendente para quem acompanhou de perto a trajetória recente do clube.
Neste ano, o Galo foi vice-campeão da Copa do Brasil e da Libertadores, mas não pelas mãos firmes de uma gestão eficiente.
Chegamos longe mais por lances isolados de genialidade de jogadores como Hulk e Paulinho do que por uma estratégia institucional sólida.
As conquistas e boas campanhas nos últimos anos, muitas vezes, mascararam um problema maior: a ausência de planejamento estratégico, a dependência de improvisações e as decisões de curto prazo.
A falta de uma visão integrada sobre o futebol e a gestão colocou o Atlético em um abismo que agora ameaça engolir não apenas uma temporada, mas sua credibilidade como uma das grandes forças do futebol brasileiro.
Os Erros de Gestão: Uma Crônica Anunciada
Gestão esportiva é mais do que paixão e grandes investimentos; é planejamento, responsabilidade e visão de longo prazo. Infelizmente, o Galo parece ter ignorado esses princípios básicos em sua caminhada.
Falta de Planejamento Financeiro Sustentável
A receita oriunda da venda de jogadores e patrocínios foi destinada a contratações aleatórias e circunstanciais, sem análise técnica profunda. O custo-benefício de algumas dessas apostas é questionável, com nomes que chegaram ao clube sem justificativa de desempenho e que oneraram a folha salarial.
Apostas em Modelos de Gestão Sem Base em Resultados
A constante troca de treinadores e a dependência de um modelo de contratações “de impacto” são sintomas de uma gestão que vive de curto prazo.
O Atlético viveu o 2024 apostando nas Copas e negligenciando o Campeonato Brasileiro.
No mercado corporativo, empresas que apostam sem estratégia clara acabam sucumbindo, como foi o caso da Kodak, que ignorou a transformação digital, e da BlackBerry, que apostou exclusivamente em teclados físicos quando o mercado caminhava para telas sensíveis ao toque. Apostar sem visão clara é caminhar para o abismo.
Falta de Integração com a Base
Enquanto clubes como Palmeiras e Flamengo têm colhido frutos de investimentos sólidos na base, o Galo negligenciou esse importante pilar. Jovens promissores são frequentemente ignorados em prol de contratações que não entregam retorno.
Empresas Não Vivem de Apostas: Lições do Mundo Corporativo
A gestão esportiva tem muito a aprender com o mundo dos negócios. Empresas que sobreviveram a crises entenderam a importância de decisões baseadas em dados e não em achismos. A Blockbuster, por exemplo, recusou a oferta de compra da Netflix porque apostava que o streaming era uma moda passageira. Hoje, a gigante do entretenimento reina absoluta enquanto a Blockbuster é lembrança de um passado mal administrado.
O Atlético sabia que não tinha elenco para chegar nas Copas, mas, por sorte, chegou. Negligenciou o Brasileirão apostando nas Copas e, como uma roleta russa, a conta pode chegar neste final de semana com o rebaixamento.
No futebol, times como o Cruzeiro sofreram pelo mesmo motivo: más decisões de gestão. A apostas e a falta de um plano sólido de recuperação culminaram em rebaixamento e anos de instabilidade.
Rebaixamento: O Mal Necessário?
É doloroso dizer isso como torcedor, mas talvez o rebaixamento seja necessário para que o Atlético reencontre o caminho certo. Não é uma sentença de morte; é uma oportunidade de aprendizado e reconstrução.
Times como o Corinthians, em 2007, e o Internacional, em 2016, utilizaram o rebaixamento como um ponto de inflexão para voltarem mais fortes.
O Galo precisa se reinventar, e isso só será possível se houver humildade para reconhecer os erros, coragem para mudar a rota e compromisso com a torcida.
O amor que o atleticano sente pelo clube é inabalável, mas até mesmo o amor exige reciprocidade.
E, neste momento, o Atlético precisa provar que merece a confiança de seu torcedor.
Conclusão
Se o rebaixamento vier, será merecido pelas falhas acumuladas. Contudo, pode ser também o início de uma nova era, onde o Atlético Mineiro se torne um modelo de gestão, sustentabilidade e excelência. O Galo é grande, e sua torcida é maior ainda.
Cabe à gestão honrar essa grandeza com responsabilidade, transparência e competência.