Por: Hugo Fralodeo
15 de janeiro de 2019, o ídolo do Atlético, na época diretor de futebol, Marques entregava a camisa 11 do Galo ao atacante velocista, que, depois de quase uma década jogando na Europa, era apresentado com a lembrança de uma boa temporada de 2010 pelo Fluminense, clube que o revelou para o futebol. Maicon, que havia feito dupla campeã brasileira com Fred, além de parceria com a estrela Samuel Eto’o, nos tempos de Turquia e carregava o apelido ‘Bolt’ em alusão a um dos maiores nomes dos esportes olímpicos, cegava ao Atlético com a responsabilidade e a esperança de ser o homem que daria as assistências para Ricardo Oliveira seguir como artilheiro. Pelo menos era o que se esperava.
Convidado ilustríssimo do no PODFALAGALO 008, Marques explica a chegada do atacante Maicon Bolt ao Atlético, dando motivos para a contratação do atleta, citando o início promissor, as lesões e apontando o real motivo do retumbante fracasso da passagem de Bolt pela Cidade do Galo.
Marques conta que foi feita uma avaliação do jogador, tendo em vista a necessidade do Atlético de uma peça com as características de Maicon:
“Não tem verdade absoluta. Quando você contrata, tem toda uma avaliação, os critérios… porque a gente precisava de um cara de beirada, que fosse veloz, ele era alto para fechar uma bola em segundo pau…”.
Marques ainda lembra o início promissor do atacante, que chegou a ser decisivo em suas primeiras apresentações, fase que foi interrompida pela primeira lesão muscular que sofreu na passagem pelo Atlético, algo que foi constante. Antes da partida que definiria o destino do Atlético na Libertadores de 2019, o atacante lesionou a coxa direita em um treino:
“Ele teve um início promissor, ele teve uma participação decisiva na pré-Libertadores, acho que contra o Defensor (na verdade, Danubio), no Uruguai, uma assistência, fez um ou outro gol no início da trajetória… depois que vieram as lesões, e ele jamais foi o Bolt que a gente imaginava que seria”.
De fato, Maicon marcou logo em sua estreia, na vitória por 2 a 0 contra o Guarani, pela 5ª rodada do Campeonato Mineiro daquele ano. No jogo seguinte, o atacante deu a assistência para um dos gols de Ricardo Oliveira no empate por 2 a 2 contra o Danubio, no jogo de ida da 2ª fase eliminatória da Libertadores. Seu outro gol com a camisa do Atlético foi dois meses depois, em abril, já pela fase de grupos da Libertadores, quando marcou o gol que deu início à virada contra o Zamora-VEN, no Mineirão, jogo que o Atlético saiu perdendo por 2 a 0 na primeira etapa, virando para 3×2, com este gol de Maicon, um de Vinicius e o terceiro de Fábio Santos. Daí para frente, com as constantes lesões, só conseguiu fazer mais 19 jogos em todo o resto da temporada.
Marques revela que o sentimento pelo insucesso de Maicon foi a frustração. Ele faz uma relação entre a passagem de Bolt pelo Galo com uma de suas passagens pelo Japão, lembrando uma lesão que também prejudicou seu desempenho:
“E aí é frustração, porque você deposita e imagina que qualquer atleta contratado vai te entregar, mas nem sempre é assim. Foi assim comigo enquanto atleta. Eu jogava pra cacete, fui (jogar) no Japão, no Yokohama Marinos, foi a maior frustração da minha vida, eu não consegui jogar. Depois da quarta rodada da J-League, eu tive uma lesão de joelho e nunca mais fui o mesmo atleta, com mais um ano e meio de contrato para ser realizado, não consegui jogar. É assim que é, futebol é imprevisível”.
O ídolo justifica a contratação de Maicon explicando que todo jogador contratado na época em que esteve na direção do clube passava por avaliação criteriosa. Marques cita jogadores contratados na época, que continuam rendendo no Atlético até hoje. Como os casos de Réver, Igor Rabello, Guga e Jair:
“Outros atletas deram certo e estão aí colaborando até hoje. O Jair colabora, o Igor (Rabello) colabora, o Guga toda hora está jogando, o Réver é o capitão do time… mas é assim. Quem está no comando e achar que vai acertar todas, (isso) é a maior mentira. Na oportunidade, eu não me lembro quem trouxe o nome, mas ele, aliás, todos eles passaram por uma avaliação muito criteriosa. Mas a certeza se o atleta vai jogar ou não é nenhuma. (…) É uma pena. Se você tivesse uma bola de cristal, fatalmente não cometeria alguns erros. Mas não tem, você tem que pagar para ver, infelizmente”.
Por fim, o eterno camisa 9 afirma que a contratação foi feita com a intenção de acerto, mas, mais uma vez usa a imprevisibilidade do esporte para justificar o eventual insucesso de um jogador:
“Muitas vezes parece que foi uma sacanagem, ‘ah, trouxe de sacanagem…’ Ninguém está de sacanagem, ninguém quer cometer um erro, o atleta não quer chegar e não produzir… a postura de todos os atletas que nós trouxemos, acredito que até hoje no Atlético, são top, de profissionais na acepção da palavra, todos eles que nós contratamos na época era assim. Não tinha um a para falar dos caras, cumpriam horário, treinavam pra cacete, mas, na hora que botasse ali dentro da arena: ‘cara, vamos ver como vai funcionar’, se vai jogar, se não vai, se vai ter lesão… para fluir ou não. É assim que é o futebol”.
Maicon atuou no Atlético na temporada de 2019, disputou 28 jogos e marcou apenas 2 gols e contribuiu com 5 assistências. No início de 2020, o atacante deixou o clube após rescisão contratual.
Esse e todos os episódios completos do PODFALAGALO estão disponíveis no canal do FalaGalo no YouTube e no serviço de streaming Spotify.