Atlético, 116 anos de muita história e de uma paixão cármica
Por Max Pereira @MaxGuaramax2012
116 anos de história e de muita paixão. Uma história que começou no velho coreto do Parque Municipal, que viu os primeiros chutes de um clube chamado inicialmente de Athletico Mineiro Football Club serem desferidos em um campo de terra ali mesmo e que viu desde aquele já distante 25 de março de 1908, um clube se estruturar e se projetar gigante no antigo casarão de Dona Alice Neves, localizado na rua Goiás.
Foi ela, a grande mãe atleticana, a primeira “CEO” alvinegra, que recepcionou aqueles garotos ousados e deu àquele clube preto e branco a sua primeira roupa, o seu primeiro escudo, o seu primeiro sentido de organização e a primeira torcida organizada feminina do Brasil, numa época em que as mulheres tinham pouco ou nenhum espaço em uma sociedade claramente misógina e machista. A presença feminina nos campos de futebol no início do século XX era apenas um adorno dos homens.
Dona Alice, mãe de um dos garotos fundadores do Gigante da Colina Lourdes, foi uma mulher à frente de seu tempo. O seu velho casarão da rua Goiás, onde mantinha uma pensão e um ateliê de costura, se transformou na primeira sede daquele clube destinado a ser a paixão maior de um povo. E foi ao lado deste casarão, esquina de rua Guajajaras, em um lote vago capinado pelos próprios fundadores que também foram os seus primeiros jogadores, que o Galo teve o seu primeiro campo de futebol.
Velhos postes de madeira da antiga empresa responsável pelo fornecimento de energia elétrica para a nova capital mineira, gentilmente doados ao novo clube, formaram as primeiras balizas (traves) alvinegras.
Embora condenado desde a sua fundação a ser o time do povo, foram estudantes de classe média que fundaram e deram vida ao Atlético. Na época, o clube já trajava um uniforme que carregava as tradicionais cores do Galo: o branco e preto. No entanto, levou um tempo para que a primeira partida finalmente saísse do papel.
Somente um ano após a sua fundação foi que o Atlético disputou uma partida oficial. No dia 21 de março de 1909, a equipe entrou em campo pela primeira vez, contra o Sport Club Foot-Ball, também de Minas Gerais. O jogo terminou em “goleada” para o Galo: 3 a 0 no placar final. Aníbal Machado, um dos maiores escritores brasileiros de todos os tempos, foi o autor do primeiro gol atleticano.
Assim como quem casa quer casa e quem cresce sonha voar alto e conquistar novos mundos, o Atlético, já Clube Atlético Mineiro, ganhou a Taça Bueno Brandão, primeiro campeonato de Belo Horizonte em 1914 e, no ano seguinte, o primeiro campeonato mineiro.
O Atlético precisava de um campo maior. E foi na antiga Avenida Paraopeba que o Galo teve o seu segundo campo. Uma curiosidade cerca esta avenida. Ela está na história e nos primórdios dos três grandes times de BH. Foi nela também que o América teve o seu primeiro campo e o rival azul iniciou a sua trajetória. Hoje, conhecida como avenida Augusto de Lima, esta tradicional artéria da capital mineira faz parte da história do futebol das alterosas.
Na quadra onde hoje se ergue o Minas-centro, o Galo cantou mais alto e, ironicamente em frente, onde hoje se situa o Mercado Central, o América mandou os seus jogos no início de sua história. O antigo Palestra, na mesma avenida, adquiriu a massa falida do Yale, extinto clube belo-horizontino, exatamente onde durante anos teve o seu estádio, o JK. E mais um detalhe irônico e curioso: o nome completo do Yale era Yale ATLÉTICO Clube.
E não acabam aí as ironias: foi nesse campo do América na avenida Paraopeba que o Galo aplicou no time a Tl a maior goleada do super-clássico, os icônicos 9 x 2, com show e gols do trio maldito: Said, Jairo e Mário de Castro. Sempre primeiro em tudo no futebol brasileiro, o Galo sagrou-se o primeiro campeão nacional em 1937. O torneio Campeão dos Campeões, no qual um diabo louro se imortalizou e hoje é nome da mais tradicional premiação do futebol mineiro, o Troféu Guará.
Primeiro clube do continente americano a pisar em gemidos europeus, a icônica campanha do Gelo, e a ganhar o primeiro campeonato brasileiro da era moderna, o Atlético que também é de Kafunga, Renato, Mão de Onça, Mazurkieviski, Taffarel, São Victor, Marcial, João Leite, o Goleiro de Deus, Ortiz, Careca, Sinval, Mussula, Everson, Mexicano, Marcos Rocha e Nelinho, o Bomba Santa, Murilo e Ramos, William, Bueno e Procópio, Olivera e Luizinho, Léo Silva e Rever, Cincunegui, o Deus da Raça, Arana, Paulo Roberto Prestes, Oldair e Jorge Valença, Zé do Monte, Cerezo, Laci, a Pérola Negra, Ronaldinho Gaúcho, Pierre e Donizete, Gilberto Silva, Zaracho, Dátolo e Ramon Menezes, Buião, o Garrincha de Minas, Lucas Miranda, Luan, o Menino Maluquinho, Tardelli, Paulo Isidoro, Marcelo, Lola, Amauri, o Cabecinha de Ouro e Beto Bom de Bola, Sérgio Araújo, Marques, o Xodó da Massa, Keno, Tião Cavadinha, Romeu Cambalhota, Éder Aleixo, o Bomba Santa, Jô, Bernard, Marinho, Gerson, Valdir do Bigode, Guilherme Alves, Lucas Pratto, Nilson, o Calcanhar de Vidro, Toninho Catimba, Ubaldo Miranda, o Miquica, artilheiro dos gols espíritas, Dr. Haroldo Lopes da Costa, Tomazinho, o craque goiano da camisa 10, de Dadá Maravilha, o Peito de Aço, do Rei Reinaldo e do incrível Hulk, tem muita história, tradição e uma torcida inigualável, temida e respeitada. Dúvida? Pergunte ao vento.
O Atlético dos saudosos e inesquecíveis Zé das Camisas, Wilson Oliveira, Barbatana, Sempre, Júlio o Mais Amigo, Dr, Fábio Fonseca, Valmir Pereira, Adelchi Ziller, Gregório, Victor Bastos, Zé Maria Pena, Lambreta, Roberto Drummond, Xico Antunes, Mário Ribeiro, Aníbal Goular, Paulo Roberto Pinto Coelho, o repórter que sabia de tudo, Moreno Neto, Nelson Campos, Luiz Carlos Alves, o comentarista de personalidade, Elias Kalil, Gil Costa, José Lino Souza Barros, Betinho Naves, Cecivaldo Bentos, o Tite, Dona Ana Cândido, a Vovó do Galo, Cássia Eller, Dona Ifigênia, mãe do Marinho da Betânia, Claudio Guzella, Emanuel Monteiro, Waleuska, ex-atleta de vôlei, Dom Serafim Fernandes de Araujo, Dionísio Carvalho, Vovô Barto, Velha Zulmira, seu Malaquias, Velho Jeremias, Ricardo, o Pão, Nelson Thibau, Vander Lee, Capitão Estrela, Raimundo Suzano, Ubaldino Guimarães, o Bolinha, de Chico Fulô, do meu tio e padrinho, o velho Lindolfo, do meu tio João Coelho e do meu velho e querido pai, o seu Bené, é o maior campeão mineiro, 48 títulos, é também o maior detentor de títulos consecutivos da era profissional em Minas, o hexacampeonato de 1978 a 1983, uma série interrompida pelo tapetão.
O Galo dos atores Daniel de Oliveira, Marcos Frota, Shophie Charlotte, Isis Valverde, Mariana Rios, Priscila Fantin, Vanessa Giacomo, Pedro Bismark, o Nerso da Capetinga, Lima Duarte e Jonas e Débora Bloch, do rapper Froid, do humorista Yuri Marçal, do influencer Gustavo Tubarão, dos jogadores de vôlei Ricardo Lucarelli e Henrique, das atletas de vôlei Erica, Fabiana, Sheila, Cristina Pirv e Thaísa, do eterno atleta João da Mata, campeão da São Silvestre envergando o manto sagrado, dos cantores Rogério Flausino, Ana Carolina, Maria Lúcia Godoy, Wilson Sideral, Djonga, Gabi Martins e Paula Fernandes, do tenista André Sá, dos pilotos Cristiano da Matta, Toninho da Matta e Bruno Junqueira, mdo lutador Paulo Borrachinha, da modelo e apresentadora Daniela Cicarelle, do Cavaleiro Victor Alves Teixeira, da ex-BBB Fernanda Keulla, da modelo e ex-Miss Brasil Natália Guimarães, dos jornalistas Chico Pinheiro, Mariana Spinelli, Mário Marra, Leonardo Bertozzi, Leda Nagle, Fernando Mitre e Fred Mello Paiva, de Lelo Zanetti e Haroldo Ferretti, ex-Skank, dos músicos do Sepultura, Max e Igor Caballera e Paulo Xisto, do ex-Ministro do STF Sepúveda Pertence e da ex-presidente do Brasil Dilma Rousseff, marcou sua história no lendário estádio Antônio Carlos onde se tornou o primeiro clube mineiro a jogar contra e a vencer um time estrangeiro.
Na época de sua fundação o Futebol ainda era considerado um esporte exclusivo da ELITE, ate que 22 jovens se reuniram no coreto do Parque Municipal naquele mítico dia 25 de março de 1908 e fundaram um clube aberto a pessoas de todos os grupos sociais, rompendo as barreiras elitistas do futebol na época. Não sem razão, o Atlético foi um dos primeiros do Brasil a aceitar negros e pobres no seu elenco
As cores tradicionais do clube, o preto e o branco, foram adotadas desde sua fundação. O Galo foi, também, o primeiro clube de Minas Gerais a substituir as tradicionais bolas de meias por bolas de couro.
Um ex-presidente, Gregoriano Canedo, visionário e arrojado, ainda na primeira metade do século XX, percebendo que o estádio Antônio Carlos já estava acanhado e insuficiente para receber a massa atleticana, sonhou com um estádio com cada idade para 60 mil espectadores. O projeto, infelizmente, não saiu do papel.
O Atlético de Manoel Tobias, Falcão, Lenísio, Vinícius, Índio, Jackson, Paulo Nunes, Paulinho Bonfim, Walmir, Faissal, João Mansur, Ronaldo, Amadeu, Vander Carioca, Piu, Adelmo, Adriano, duas vezes campeão da Conmebol, uma vez dono da América, três vezes campeão brasileiro e duas vezes da Copa do Brasil, e, também, supercampeão dos campeões, campeão das Copas Cinquentenário e Centenário de Belo Horizonte e de “n” torneios de verão na Europa, é também campeão da Copa do Brasil de Futebol de Salão em 1985, duas vezes campeão brasileiro (da Superliga) de Futsal e uma vez campeão intercontinental/mundial também de futsal.
O Galo mais mais famoso e mais querido do mundo tem história e é fonte de uma paixão cármica e inesgotável, ímpar e imorredoura. Um gigante por natureza que não tem, nunca teve e nunca terá um só dono. Ele é do povo. Ele é da Massa. Afinal, como Vicente Mota nos ensinou cantar: NÓS SOMOS DO CLUBE ATLETICO MINEIRO. Nós somos o Atlético Mineiro. O Galo é todos nós que o temos como seiva e sentido da vida.
Enquanto existir uma criança o Atlético é imortal, já diziam os antigos. Essa é uma paixão que passa de geração para geração. O Galo é o time do amor, é o sangue que corre nas veias do atleticano, é a história que se confunde com as nossas vidas. O Galo é o time das viradas impossíveis. A paixão do atleticano é mais forte que o vento. Galo é história, é carma, é paixão, é vida.