Arena MRV: o caldeirão que não ferve

Por Bernardo Abuid
28 fev 2024 11h20
Em mais de 29 anos acompanhando o Galo em praticamente todos os jogos dentro de casa, sempre vou ao campo muito curioso com o comportamento da torcida.
No jogo das lendas, como todo torcedor, fiquei atento a cada detalhe da nossa nova casa e logo no início fiquei com a impressão que a acústica do estádio não era muito boa. Comentei com minha mãe e com alguns amigos que algo não estava certo, mas me convenceram que um jogo festivo não poderia ser parâmetro para afirmar isso.
Contra o Santos, fui focado em observar detalhadamente a torcida e saí de lá mais preocupado. Fiquei no setor Inter Leste e a primeira observação que tive é que o anel superior e inferior não se comunicam. Com a ideia inicial da Galoucura se localizar no setor inferior atrás do gol, tive uma sensação muito esquisita de ver que a torcida estava sim cantando mas lá de cima praticamente nada se escutava. E por relatos, o contrário também acontecia.
Ora, era a estreia e eu não estava esperando que tudo saísse perfeito. Ajustes seriam feitos, a torcida e o clube iriam se adaptar. Decidi então esperar alguns jogos para ter uma opinião concreta sobre essa sensação ruim que fiquei desde o jogo das lendas.
Após 12 jogos, sendo dois deles clássicos, indo em diferentes setores da Arena MRV, andando pelo estádio durante o jogo, conversando com colegas e vendo comentários de outros atleticanos, chego a conclusão que o estádio tem um problema grave de acústica. Como dito anteriormente, os setores não se comunicam nem de cima para baixo e nem para os lados. Não sou arquiteto, muito menos engenheiro para explicar tecnicamente por quê isso acontece, mas é um fato que qualquer pessoa que já foi ao Mineirão ou a qualquer estádio com uma acústica minimamente decente consegue constatar.
Talvez quem ainda não tenha tido a oportunidade de frequentar a Arena ou quem se importa mais com a festa visual do que com o cântico fique impressionado com os mosaicos, bandeiras e faixas que de fato são incríveis e devem continuar sendo feito jogo após jogo. Contudo, é incontestável que após 12 jogos, a promessa de caldeirão e de estádio mais temido do Brasil ainda não foi cumprida.
Os jogos com melhor desempenho e maior pressão por parte da torcida, contra Cruzeiro e Grêmio, pelo Brasileiro do ano passado, não tiveram metade da pressão de um Independência cheio por exemplo, onde a acústica também não é das melhores.
Há uma tese que tenho acompanhado de que a culpa é do tipo de torcedor que está frequentando a Arena e ela não está toda errada. Esse fator também influencia, assim como a falta de músicas que empolgue a massa. Questões que precisam ser resolvidas também de forma urgente.
Mas esses pontos acompanham a torcida do Atlético faz anos. Nos últimos anos a cobrança por ingressos baratos e a necessidade de se criar músicas novas sempre houve, mas nunca foi um impeditivo para transformar o Mineirão/Horto em um verdadeiro caldeirão.
Seja intencional ou por falha de projeto, a Arena MRV não é ainda o que se prometeu. Cabe a nós cobrar de quem planejou, executou e que hoje são os reais donos do estádio.
O projeto previa exatamente isso? Será assim pra sempre? A questão está sendo discutida internamente? Há algo a ser feito? Perguntas que necessitam de resposta urgente. Quando se acostuma com algo, até perceber o quão danoso é, pode ser tarde demais.
* Este texto é opinativo, de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, o pensamento do portal Fala Galo.