O Atlético pode estar jogando a temporada no lixo
Por Max Pereira (@Pretono46871088 @MaxGuaramax2012)
Na trilogia formada pelos artigos “NO MEIO DO CAMINHO TEM UMA JANELA DE TRANSFERÊNCIA, TEM UMA JANELA DE TRANSFERÊNCIA NO MEIO DO CAMINHO DO ATLÉTICO”, “SERIA CÔMICO SE NÃO FOSSE TRÁGICO” e “MUITO ALÉM DAS QUATRO LINHAS”, publicados nesta coluna, busquei descrever e analisar estas últimas semanas do Atlético, claramente conturbadas e convulsionadas tanto pelos costumeiros ataques externos dos inimigos de sempre, quanto por um malfadado fogo amigo, sempre pronto a tumultuar a vida do clube, um tradicional e histórico gerador de crises.
Era mais óbvio do que a obviedade que o caldo atleticano iria entornar. Eram também mais claros do que um campo de neve ao meio dia os sinais que o time atleticano dentro das quatro linhas enviava para quem quisesse vê-los ou até para quem não os quisesse ver ou com eles se importar, indicando que as coisas dentro do clube andavam de mal a pior. Eram mais que evidentes os indícios de que jogadores, treinador e o diretor executivo Rodrigo Caetano estavam insatisfeitos.
Dentro de campo, os jogadores, mesmo sem nunca abdicar de lutar, vinham explicitando todo o seu desconforto, toda a sua intranquilidade e toda a sua insatisfação e angústia, que se traduziam muitas vezes em uma irritante e dolorosa impotência criativa e ofensiva, em um abusar excessivo de passes laterais e para trás, em colecionar erros de passe e em fazer escolhas equivocadas em profusão, além de falhas incríveis de finalização, momentos de graves indecisões e de fragilidade significativa nas disputas físicas, particularmente no pé de ferro, onde Bataglia é uma honrosa exceção.
Paralelamente, fora dos gramados o clube exibia publicamente um caos financeiro absurdo, buscando de forma inconsequente e suicida justificar a sua necessidade de se desfazer de seus ativos, incluindo aí todo e qualquer atleta, à revelia de qualquer planejamento minimamente diligente. Pelo menos é que qualquer torcedor atleticano ou observador conseguia depreender. Transparência no Atlético sempre foi uma peça de ficção.
Coudet claramente se ressentiu dessa política que, ao que tudo indica, também não era do agrado de Caetano e seguramente trouxe algum desconforto para os atletas, independentemente de estarem ou não diretamente envolvidos nas especulações e no rosário de notícias e de “notícias” que vêm sendo espalhadas aqui e ali, particularmente nas vésperas dos grandes jogos do Atlético, à guisa, claro, de intenções claramente heterodoxas.
Sem surpresa até para o mais incauto dos observadores um dirigente do Flamengo declarou que o rubro-negro jamais pagaria por Allan o que o Atlético estava pedindo, porque, endividado e de pires na mão, o clube mineiro acabaria aceitando uma contra proposta na forma que interessaria ao clube carioca e, claro, com valores bem abaixo. E parece que ele tinha razão.
Se a venda do Allan estiver sendo fechada nos termos e na forma que alguns segmentos das mídias convencional e alternativa estão apontando, além de Coudet que já publicizou toda a sua insatisfação, todo torcedor atleticano minimamente consciente terá carradas de razão para protestar, cobrar e defender o desfazimento imediato do negócio.
E não só pelo aspecto financeiro, claramente ruim para o Galo, como também pelo aspecto moral para o clube e para o atleticano, vez que o Glorioso passaria a depender das conquistas do rival carioca para receber o PLUS negociado. Se o Flamengo for campeão, o Atlético recebe. Caso contrário, … . É bom lembrar que o clube até agora não negou estes termos, noticiados e repercutidos à larga por diversos veículos e perfis, tanto da mídia convencional, quanto da alternativa.
Se tudo isso for verdade mais grotesco impossível e algumas questões éticas e morais se imporão: se para conquistar o Brasileirão o Flamengo depender de uma derrota do Galo, seja ou não em um confronto direto entre os dois, qual será a posição do Atlético? Entre o dinheiro e a ética, o que terá mais peso na balança alvinegra? E o sentimento da Massa atleticana terá alguma valia?
O chocho e irritante empate diante do Bragantino expôs de vez toda convulsão interna do clube. É cada vez mais induvidoso que existe muita insatisfação dentro do Atlético e que as vendas de Allan e de Nathan Silva na forma e no momento que estão acontecendo azedaram de vez o ambiente. Coudet, de forma mais explícita e explosiva e Caetano, mais discreto e cuidadoso, sempre se mostraram claramente contrários a estes negócios.
Existe uma narrativa repercutida e potencializada aqui e ali que busca responsabilizar tão somente o treinador, o diretor Rodrigo Caetano e os jogadores por tudo de ruim que por ventura esteja acontecendo no clube. A iminente solução de continuidade no trabalho desenvolvido até agora, com graves prejuízos técnicos, financeiros e morais para clube, não pode ser atribuída exclusivamente ao treinador, a Caetano e nem aos jogadores. Se a temporada, como muitos acreditam, foi para o lixo, os culpados são também outros.
Sem fazer qualquer caça às bruxas é mister reconhecer que cada um dentro do Atlético tem, nos limites de suas atribuições e graus de poder e decisão, responsabilidade sobre tudo, absolutamente tudo o que acontece de bom e de ruim com e no clube.
Coudet mais uma vez foi atirado no olho do furacão e é novamente a bola da vez. O “Fora Coudet” tem raízes tanto dentro quanto fora do clube. Ninguém agrada a todo o mundo todo o tempo. E, não é segredo para ninguém que as relações do treinador com o alto comando alvinegro estão estremecidas desde que Coudet fez aquelas cobranças pesadas naquela inesquecível coletiva.
Com os jogadores e com Caetano, ao contrário, tudo indica que ia tudo bem. Alguns jogadores como Hulk e Paulinho já explicitaram publicamente que grupo está fechado com o treinador. Alguém acredita mesmo que Caetano quer a saída de Coudet? Eu não. E o próprio treinador já fez questão de isentar o diretor de suas críticas e cobranças.
A informação de que Coudet teria dito aos atletas que não mais confiava no grupo parece não refletir a realidade, vez que vai na contramão do bom relacionamento entre ele e o elenco. A indisposição de Coudet nunca foi para com os jogadores e, muito menos contra Caetano e sim, contra o alto comando do clube como ele próprio deixou claro naquela polêmica e tensa entrevista de algum tempo atrás.
Diante de tudo que está acontecendo, é natural e esperado que Coudet nutra algum desejo de pular fora do barco atleticano. E os jogadores sabem disso. E Caetano também. Portanto, a informação de que eles foram pegos de surpresa dentro do vestiário e, em consequência, o clima esquentou, não é lá muito crível. Será que Coudet e Caetano brigaram mesmo? Tenho razões e me reservo o direito de duvidar de tudo isso e também sobre o que Coudet teria dito.
O agente de Eduardo Coudet, Christian Bragarnik, deu outra versão sobre o episódio desse último sábado (10/6). Se por um lado o Atlético entendeu que houve um pedido de demissão, por outro o empresário garante que o treinador ainda está no comando do clube. “Não é bem assim. Ele disse que vai avaliar o futuro caso não cheguem reforços. Mas hoje é o treinador do Atlético, a não ser que queiram demiti-lo”, afirmou Bragarnik.
No vestiário, o técnico argentino teria, uma vez mais, indicado seu descontentamento com a direção do clube, que deve anunciar nos próximos dias as vendas do zagueiro Nathan para o Pumas do México, e do volante Allan para o Flamengo. Nesse sentido, Coudet teria afirmado novamente que o combinado era reforçar o elenco, não enfraquecê-lo.
Em contrapartida, o Galo entende e informou em nota oficial que um, “no dia 10/06/2023, no vestiário do Mineirão, após o jogo contra o Red Bull Bragantino, pelo Campeonato Brasileiro, o treinador Eduardo Coudet comunicou a todos os presentes sua decisão de sair do Clube” e dois, que “diante do fato, Coudet não é mais o nosso treinador”.
Que a continuidade de Coudet no comando do time atleticano havia se tornado inviável já era claro e inquestionável a partir das notícias e “notícias” veiculadas ao final da noite do sábado e na madrugada de domingo. Outrossim, este processo de desenlace entre clube e treinador a partir de agora tende a ser inevitavelmente traumático e muito prejudicial ao Glorioso, como aliás é tudo na vida do clube. Não será surpresa se essa pendenga se estender até as barras dos tribunais.
Outrossim, é natural e nada criminoso que em determinada circunstância, dependendo do momento de sua vida pessoal ou de alguma necessidade familiar ou ainda da proposta recebida que algum profissional queira deixar o Atlético ou qualquer outro clube ou empresa.
Mas, o clube de insatisfeitos no Glorioso tem um número de associados gigantesco e inverossímil. Sempre que qualquer atleta atleticano entra na mira de algum clube interessado em sua contratação é noticiado que o mesmo está insatisfeito e quer sair. Impressionante. Acredite quem quiser.
Os jogadores, por outro lado, parecem não gostar da política adotada pelo clube que vem enfraquecendo o elenco, os desvalorizando e os envolvendo em especulações e em notícias mil, atrasando salários, descumprindo compromissos e, em consequência, minando o trabalho do treinador e o seu rendimento em campo. Caetano, de forma inteligente e ponderada, já falou sobre isso mais de uma vez. Tudo isso justificaria a vontade de sair de algum atleta, não?
Curiosamente e, não sem razão, Coudet e Hulk em uma recente coletiva e de forma ironicamente humorada afirmaram que no Atlético não existe tranquilidade para trabalhar. O incrível artilheiro chegou a atribuir seus precoces cabelos brancos a essa “tranquilidade”.
E, não bastasse tudo isso, a recente decisão da justiça cujo desfecho final pode anular as últimas eleições do Conselho e determinar a realização de um novo pleito e, em consequência, tornar nulas todas as últimas decisões daquele colegiado, inclusive a da definição da sua atual mesa diretora, mostra que o clube deveria ter suspendido todas as suas negociações relativas à SAF, vendas de ativos, inclusive de jogadores, aprovação de um novo estatuto, análise e aprovação das demonstrações financeiras e do Balanço de 2022, etc., desde que a denúncia que deu origem judicial foi feita.
O clube claramente precisa ser passado a limpo, único caminho para resgatar a credibilidade e o respeito perdidos, sem os quais nenhum negócio ou projeto pode e deve prosperar. Aqui é bom lembrar que o reconhecimento formal do título de 1937 pela CBF nada mais será que o justo recontar da história, o que aliás, nem necessitaria de qualquer pleito neste sentido.
O Atlético pode estar jogando definitivamente a temporada no lixo e uma pergunta não quer calar: ainda é possível reverter esse desastre cada vez mais visível e próximo de se materializar? Sinceramente não sei. Mas, uma coisa é líquida e certa: cobrar, protestar e exigir que o clube repense para ontem suas políticas e estratégias e reveja imediatamente seus negócios, particularmente suas ações no mercado da bola é mais que preciso. É vital. O resto será consequência do que vier a acontecer. Quem planta ventos colhe tempestades.