Hora de aplaudir, aplaudir. Hora de criticar, criticar…
Por: Max Pereira @MaxGuaramax2012
Já escrevi e não canso de repetir que a história atleticana é feita de acasos, improvisos, ações isoladas e, principalmente, de malabarismos financeiros, buscando driblar os crônicos e sufocantes problemas de caixa, gerados e multiplicados pela incúria e pelos erros de seus próprios dirigentes ao longo dos anos.
Foi escrevendo essas palavras que iniciei o artigo “UM RÉQUIEM ENCOMENDADO”, publicado há algum tempo aqui nesta coluna. O importante, no entanto, é demarcar que essa história de desacertos e de um endividamento acachapante e curiosamente incontrolável, vem de longa data e que, como um carma perverso e insuperável, vem marcando drasticamente a vida do Atlético e tirando o sossego de sua grande e apaixonada torcida.
Não atoa, há tempos também em outro ensaio escrevi que “OBA OBA E GESTÃO IRRESPONSÁVEL, NADA tem A VER” com um clube que quer ser um exemplo de governança profissional, moderna e eficiente fora das quatro linhas e, dentro delas, um grande campeão. Ou seja, nada a ver com este Atlético que sói se apresentar no mercado da bola sempre de pires na mão e, em consequência, fazendo negócios bastante criticáveis, ao mesmo tempo em que se vê recorrentemente sacudido por crises intermináveis e asfixiado por dívidas crescentes e mal administradas.
Ou seja, OBA OBA E GESTÃO IRRESPONSÁVEL, NADA TEM A VER com um clube que quer de fato se consolidar como um gigante tanto dentro quanto fora de campo. E, por isso, um dirigente sério, inteligente e diligente como Rodrigo Caetano é um trunfo do qual o Atlético não pode e nem deve abrir mão. Os rumores crescentes de que o diretor pode deixar o clube no final desta temporada, i.e., antes mesmo do mesmo do fim de seu contrato, se constituem em mais uma razão de intranquilidade e muita preocupação para qualquer atleticano minimamente antenado e consciente.
Não custa lembrar que gerir um clube de futebol não é o mesmo que dirigir qualquer outro tipo de organização, empresarial ou não, incluindo as estatais. O futebol apresenta desafios e variáveis que nunca são encontrados em qualquer outra entidade ou empresa, seja ela qual for. E, infelizmente e, com raríssimas exceções, quem comanda os clubes, i. e., quem tem de fato mando e poder de decisão e, por isso, estão acima do próprio diretor de futebol, não raramente pecam por falta de conhecimento das manhas e das nuances do esporte e do vestiário.
Muitas vezes o próprio diretor de futebol ou é um neófito no esporte, ou um péssimo gestor de grupo. O futebol moderno é um negócio multibilionário e sistêmico e, como tal, para funcionar e render os resultados colimados requer, além de uma estrutura complexa, habilidade e expertise de quem se encarrega ou é encarregado de conduzir um clube.
Por outro lado, por melhor que sejam os profissionais responsáveis pela condução do futebol de um clube, o trabalho pode ruir e o vestiário se deteriorar irremediavelmente, se outras peças da engrenagem falharem.
Quando um time inteiro cai de produção ou quando seus jogadores não conseguem render aquilo que sua história no futebol indica e promete e deles se espera e, ao mesmo tempo, mostram, com uma eloquência inescondível que nem sempre querer é poder, como vem acontecendo com a equipe atleticana desde o ano passado, é sinal que os problemas são coletivos, graves, têm raízes profundas e internas e suas soluções requerem um diagnóstico sério, abrangente e que contemple todas as variáveis e todos os atores envolvidos, direta e indiretamente com o futebol.
E, se o fenômeno é coletivo, claro está que as causas vão além de uma simples má fase deste ou daquele jogador ou de uma deficiência de caráter daquele outro e, claro, também não podem ser jogadas tão somente nas costas do treinador de plantão. Tão óbvio quanto a obviedade existem problemas intramuros que precisam ser identificados e atacados na raiz.
Neste e em outros espaços tenho procurado instigar a torcida do Atlético a exigir do comando alvinegro que este produza um diagnostico profundo das causas deste futebol melancólico que tem rendido ao time e ao clube críticas e cobranças que mais o conturbam e pioram as coisas do que contribuem com ele e pouco ou nada o ajudam a resolver com eficiência o que de fato tem que ser resolvido.
No artigo “É TEMPO DE RECONSTRUÇÃO”, publicado em 17 de agosto de 2022 que, sem surpresa alguma permanece atual, eu já clamava por muita reflexão e, óbvio, defendia a importância de muito trabalho e de um bom planejamento. E alertava também que, paradoxalmente, sempre é tempo de caça às bruxas e de eleição de bodes expiatórios. Por isso, lembro que agora, assim como era antes, é também tempo de muitos cuidados e de cabeça no lugar. Sempre é tempo de jogar junto. Sempre é tempo de construir junto.
Mas, afinal O QUE ESTÁ ACONTECENDO COM O CLUBE ATLÉTICO MINEIRO? Esta é a pergunta que, desde a temporada passada, mais tem sido feita tanto nas redes sociais atleticanas quanto por diversos analistas Brasil afora. E muitas são as teorias, algumas dignas dos maiores autores, roteiristas e diretores de filmes de suspense de todos os tempos. Teorias de conspiração não faltam. Caças às bruxas eleitas pelo ódio e pela intolerância também são abundantes e indesejavelmente frequentes.
E, para responder a esta pergunta, título de outro artigo, é preciso partir de uma constatação que se mostra com o passar do tempo mais do que clara e evidente: sem resolver os problemas que estão claramente afetando o rendimento do time em campo, porquanto são cada vez mais óbvios os desequilíbrios emocionais e a falta de inspiração e de imposição mental dos jogadores atleticanos, não adianta trocar de treinador.
Aquele time resiliente, com uma absurda capacidade de superação, com um impressionante nível de contundência e que, por isso, ganhou quase tudo em 2021, em 2022 deu lugar a uma equipe sem alento, sem entusiasmo, sem confiança, sem alegria, sem energia, sem brilho e com a autoestima dos jogadores bem abaixo das travas de suas chuteiras. À exceção do goleiro Everson que salvou o Atlético em alguns jogos, todos os demais jogadores atleticanos estiveram em quase toda a temporada passada, jogando e rendendo muito abaixo do que jogaram e renderam naquele mágico 2021 e do que podem jogar e render. E, como ninguém desaprende a jogar futebol… .
Ao me reportar à queda brutal de rendimento daquele time campeoníssimo ocorrida após a conquista da Supercopa no início de 2022, busco mostrar que o que vem acontecendo com o Atlético é resultante de um conjunto de variáveis e fatores que antecedem e vão além do desmonte daquela equipe, o que, entretanto, não significa dizer que as saídas de jogadores, na forma e valores que vêm ocorrendo há mais de ano, não agudizaram e nem potencializaram os problemas atleticanos dentro e fora das quatro linhas.
A quase certa venda de Allan para o Flamengo, corolário dos maus negócios atleticanos, expõe de vez a necessidade urgente de o clube repensar suas estratégias e métodos operacionais e de governança. Não sem razão, parcela significativa da Massa atleticana vem protestando contra a ida do volante para o rubro-negro carioca, negócio, como não poderia ser diferente, é claramente ofensivo para a alma atleticana.
O tempo passa e a história do Glorioso se repete: como sempre, o clube vai se retorcendo com uma dívida exorbitante, vivendo a expectativa de mandar seus jogos em sua nova arena que também se mostra refém de um endividamento mais que preocupante e, para muitos, mal explicado, curtindo a perspectiva de passar pela mais radical e importante transformação de sua história com a constituição de sua SAF e, no futebol, buscando iniciar um novo trabalho, promovendo e sinalizando mudanças em seu elenco. Enfim, o Galo mais famoso e mais querido do mundo continua se contorcendo NO RITMO DO SAMBA DO ATLETICANO DOIDO.
Considerando os negócios já realizados pelo clube e aqueles outros constantemente ventilados ou alvos daqueles tradicionais recados a quem possa interessar, o Galo continua fiel à sua tradicional e irritante prática, que é gerar no seio de sua massa torcedora mais preocupação e temor do que satisfação e tranquilidade.
Hora de elogiar, elogiar. Hora de criticar, criticar. E agora é hora também de cobrar e de protestar. Em suas redes sociais um torcedor atleticano escreveu que “a pior coisa que aconteceu no Galo foi o extermínio da oposição”. E acrescentou: “Não tem debate sobre nada dentro do clube, nenhum tipo de cobrança… é todo mundo seguindo a manada sem saber para onde ela tá indo”.
Sem deixar de reconhecer algumas estoicas resistências nas pessoas de Caetano, do Turco e de Coudet, com prazer assinaria embaixo dessas sábias palavras. Nada é mais salutar para qualquer associação, clube, sindicato e governo do que uma oposição séria, reflexiva, construtiva e diligente, sem a qual quem está no poder se acomoda e sem qualquer referência crítica, inteligente, parcimoniosa e proficiente, usa e abusa do direito de errar. Choques de realidade e sair da zona de conforto às vezes é revolucionário. Duvida? Pergunte ao Cuca.
De repente o “rico”, “poderoso” e supercampeão, o temível super adversário a ser batido no futebol brasileiro, se transformou em um clube demarcado, fora de campo por um frenesi vendilhão e um endividamento exponencial e sufocante e, dentro de campo, por um time claramente doente que reflete exata e induvidosamente os contrastes gerados em seus interiores. Coisas do Atlético, o clube dos paradoxos?
Dizem que para bom entendedor um pingo é letra. Mas, infelizmente muitos sequer enxergam o pingo ou pior, fazem questão de não enxerga-lo. O PIOR CEGO É AQUELE QUE NÃO QUER VER. Há tempos venho observando que em suas entrevistas coletivas dirigentes, treinadores e jogadores vêm dando recados, alguns cifrados, outros, como Coudet, de forma explícita, muitos pedindo socorro, alguns dando recados de toda natureza, outros tantos fazendo alertas e externando o seu desconforto com este ou com aquele problema.
Já passou da hora do torcedor atleticano entender que tem hora que não dá mais para fingir que está tudo bem. Se tem hora para elogiar e hora para cobrar e protestar, tem também hora para enxergar. E essa hora é agora. Há limite para se fazer olhos e ouvidos de mercador.
TEXTO OPINATIVO, DE TOTAL RESPONSABILIDADE DO ESCRITOR! NÃO NECESSARIAMENTE, REPRESENTA O PENSAMENTO DO PORTAL FALAGALO.