Coluna Preto no Branco: o Atlético é o inimigo a ser batido?
Por: Max Pereira @MaxGuaramax2012
O Atlético de Milito está na boca do povo, dos especialistas e formadores de opinião, dos adversários, da mídia internacional e, claro, dos inimigos de sempre. De repente, o jovem e carismático treinador argentino se transformou no Guardiola das Américas. Elogios sinceros e louvores de lobos em pele de cordeiro se misturam. Uma coisa é certa: o Galo se tornou assunto obrigatório em todas as rodas de futebol e, por óbvio, motivo de preocupação para gregos e troianos.
É natural que um time que, de uma hora para outra e, depois de uma campanha absolutamente irregular, consegue se sagrar penta campeão mineiro em uma decisão apoteótica, passe a praticar um futebol envolvente, de alta intensidade e eficiência tática gostoso de se ver, recupera a alegria de jogar e volte a fazer a sua massa torcedora sonhar, não só desperte a atenção de seus rivais, como também se torne o inimigo a ser batido.
O futebol se tornou um negócio multibilionário, complexo e sistêmico. FIFA, Conmebol, Conselhos arbitrais internacionais, CBF, federações estaduais, Clubes e SAF’s, associações de árbitros e de atletas profissionais, imprensa convencional, (rádios, televisões, jornais, revistas), VAR, mídias alternativas e redes sociais, governos (federal, estaduais e municipais), parlamentos (Congresso Nacional, Assembleias Legislativas e Câmaras Municipais), políticos e partidos políticos, judiciário, mundo corporativo e poder econômico, investidores, parceiros, patrocinadores, fornecedores de material esportivo, agentes e empresários, compõem um leque diversificado e heterogêneo de agentes que, movidos por interesses diversos e com graus de poder de decisão e influência variados, se interagem e, ao longo dos tempos, vêm moldando o futebol, seja para o bem, seja para o mal.
E, não sem razão, não se ganha apenas dentro de campo. Além de uma preparação cada vez mais intricada que exige, intramuros do clube, conhecimento do mundo da bola, muito trabalho, planejamento, cuidados mil, blindagem do elenco e trato diligente do vestiário, o jogo dos bastidores impõe cada vez mais ações, reações e muito poder político-econômico.
Assim, da mesma maneira que o futebol, hoje extremamente físico, tático e mental e, portante, já muito distante daqueles tempos românticos e plásticos, exige, além de treinamentos técnicos e táticos mais e mais inovadores, um condicionamento físico-mental próprio de atletas de alto rendimento, o extra-campo requer atitude, diligência e movimentos político-estratégicos pontuais, firmes e efetivos.
Nesse sentido, o atleticano Cristiano R. Castro (@CrisCastroGalo) publicou no X (antigo Twitter) o seguinte Post: “O Galo precisa se mexer nos bastidores! O teatro armado pela quadrilha carioca foi comprada pela imprensa do eixo! O Galo foi prejudicado contra o Corinthians, contra o Sport, contra o Cuiabá, ontem Felipe Melo deveria ter sido expulso e não foi e o clube precisa entrar nisso!”
Diante deste cenário multifacetado e bastante agressivo, uma visão holística do todo e uma equipe multidisciplinar atuando direta e indiretamente no futebol e no jogo dos bastidores é, hoje em dia, algo indispensável e fundamental à consecução de resultados esportivos e financeiros positivos”.
Para enfrentar um calendário perverso onde se é obrigado a alternar jogos de competições de características díspares, em meio a viagens longas de logística perversa, qualquer clube que pretenda ser protagonista e vencedor, deve estar antenado com a inevitável e até natural evolução dos conceitos táticos e com as crescentes exigências fisico-mentais, cada vez mais pesadas.
Um elenco equilibrado e largo, como o Turco Mohamed em seu portunhol defendia em todas as suas coletivas, é essencial para que qualquer treinador possa desenvolver um trabalho minimamente interessante e produtivo. Escalar jogo a jogo o melhor time possível, considerando a forma de jogar de cada adversário e o desgaste físico-mental de cada atleta, é o objetivo e o sonho de qualquer técnico.
Assim, chegadas e saídas devem seguir um planejamento acurado que permita ao treinador ter opções em quantidade e em qualidade para pôr em campo o melhor 11 (onze) possível. Muitas vezes abrir mão deste ou daquele jogador pensando exclusivamente na meta orçamentária de venda dos seus ativos costuma ser um tiro no pé, uma vez que os desequilíbrios provocados no elenco com saídas deste tipo muitas vezes são insanáveis e o desastre torna-se inevitável.
Aqui é preciso lembrar que o objetivo central de um clube de futebol é, via de regra, o resultado esportivo que, nos dias atuais, se traduz em auspiciosos resultados financeiros. Campeão em quase tudo em 2021, o Atlético amealhou naquela temporada os melhores prêmios distribuídos até então no futebol sul-americano. E fechou aquele ano com superávit em seu orçamento. Ou seja, com lucro.
Por que, então, se ouviu lamentos de dirigentes pelo fato de o clube não ter cumprido a tal meta orçamentária de vendas de jogadores? E por que não se fala com o mesmo entusiasmo e interesse na diversificação e no incremento das receitas? Menos mal, é preciso reconhecer, que a SAF alvinegra tem sinalizado com alguma ênfase uma preocupação e ações no sentido de reduzir o endividamento e equilibrar as contas do clube.
Que sirva de alerta o que aconteceu em 2022. O clube perseguiu tenazmente o cumprimento da meta orçamentária de vendas e cobrir o “prejuízo” do exercício anterior. E conseguiu. O elenco supercampeão foi desmontado, o time não ganhou nada além do Mineiro, terminou o ano no vermelho e viu suas dívidas aumentarem.
Não à toa, alguns jogos são comparados a batalhas. O futebol não deixa de ser uma guerra, onde não se disputam apenas os títulos, mas também as premiações ano a ano cada vez maiores, o protagonismo, a hegemonia, as melhores receitas de patrocínio, de fornecimento de material esportivo e de transmissões televisivas e, ainda, os maiores aportes dos investidores.
Futebol é cada vez mais um vale tudo. E nesta guerra o jogo dos bastidores é cada vez mais decisivo e cruel, exigindo de cada clube que, a exemplo de cada treinador, escale o melhor time possível para cada embate, para cada ação e para cada reação.
O futebol, como é sabido e ressabido, é o esporte mais popular do planeta. Fascinante, muitas vezes imponderável, outras tantas vezes imprevisível e surpreendente, mas sempre impiedoso e cruel, incapaz de perdoar o erro, o esporte bretão desperta paixões como nenhum outro e, como não poderia ser diferente, também é geratriz de ódio, intolerância e ressentimentos.
Com isso, falo, também, do clubismo e do bairrismo, sempre muito exagerados e que, por si só, já são geradores de várias “pérolas” atiradas aos quatro ventos, indefensáveis e risíveis por natureza, mas por vezes devastadoras.
Diante de tudo isso, não tenho nenhuma dúvida de que vários destes elogios que estão sendo dirigidos a Milito e a este Atlético intenso, guerreiro e impositivo são nada mais, nada menos, do que uma forma sutil e matreira de dizer: ESTE É O INIMIGO A SER BATIDO.