Atlético x SAF: apostando alto, apostando no escuro, apostando tudo!

Por Max Pereira @Pretono46871088 @MaxGuaramax2012
Muito antes da Lei n° 14.193/2021, que regulou a Sociedade Anônima do Futebol (SAF) e trouxe inovações no espectro societário dos clubes de futebol entrar em vigor, os simples rumores de que o futuro do futebol brasileiro estava compulsória e inevitavelmente atrelado à transformação dos clubes brasileiros em empresas, já me deixavam com os dois pés atrás, em razão da singeleza e da exiguidade de argumentos levantados a respeito de um tema tão polêmico quanto complexo.
No artigo “ATLÉTICO, SAFe-se ANTES QUE SEJA TARDE DEMAIS!!!”, publicado em 27 de Janeiro deste ano aqui nessa coluna, lembrei inicialmente que. “o futebol se transformou em negócio multibilionário e complexo e, em consequência, em um mostrengo sistêmico, no qual se interagem com interesses e graus variados de influência e poder diversos agentes” e que “apesar disso e, sem surpresa, os clubes tupiniquins continuaram sendo geridos quase que sem exceção de forma amadora, temerária e inconsequente”.
Naquela oportunidade aduzi ainda que “para muitos que historicamente orbitam os interiores politico-administrativos de nossas agremiações, seja individualmente, seja por tradição familiar, os clubes são vistos e tratados como feudos. E, independentemente de possuírem ou não expertise para administrar um clube de futebol, insistem em conduzi-los totalmente avessos a compartilhar suas ideias, a ouvir críticas e sugestões e, claro, sem se cercar de profissionais competentes e minimamente experientes”, especificamente no trato do futebol.
Lembrei também que, “de há muito, investidores estrangeiros monitoram o futebol brasileiro à procura de oportunidades de investimento”. E acrescentei: “entretanto, o endividamento crescente e descontrolado e a estrutura ‘cartoligárquica’ dos nossos clubes, a má ingerência ou a omissão corrosiva dos conselhos deliberativos, um mal que deve ser definitiva e radicalmente extirpado, a inexistência de uma legislação que lhes desse garantias e o espectro cultural do povo e do futebol brasileiro, têm afastado muitos dos interessados em ‘fazer’ futebol aqui no Brasil”.
Isso sem falar das recorrentes crises econômicas, outro fator fortemente desestimulante. E emendei: “nesse contexto, no qual um número cada vez maior de clubes grandes e tradicionais do futebol brasileiro estão ficando sob o risco máximo de insolvência e de ingovernabilidade, uma nova legislação foi cunhada e é tida por muitos como a salvação da lavoura do esporte bretão nessas terras brasileiras. Mas, a SAF em si não é garantia de nada. Nem de sucesso e nem de fracasso. Uma grande dúvida pairava no mercado a respeito da transformação dos clubes em empresas: por que alguém compraria um clube com dívida bilionária? Por mais que haja torcida, tradição e potencial, o passivo era exagerado e desalentador”.
E concluí dizendo que “além de tudo isso, é fundamental a qualquer clube que quiser constituir a sua SAF saber escolher bem o parceiro para o qual será dada a prerrogativa sagrada de gerir a sua marca, mormente em se tratando de um gigante com seus milhões de torcedores, sua identidade e sua história, riquezas intransferíveis e inegociáveis, como é o caso do Atlético. Para escolher bem o investidor é preciso conhecê-lo bem.
E, conhecer bem o parceiro é saber se ele tem a expertise para gerir um clube de futebol, é saber quais são as suas intenções, é saber qual é o modelo de clube que ele pretende desenvolver, é saber se esse modelo de clube se choca ou não com os interesses esportivos do clube originário, com a sua história e com as expectativas de sua torcida e, por fim, é saber se a identidade, as cores, o escudo, nome e símbolos do clube formador da SAF serão respeitados e preservados por ele”.
Ainda que muitas vezes ficasse aparentemente em segundo plano na vida do Atlético e fosse por vezes indisfarçadamente requentada para desviar o foco seja das recorrentes más atuações do time em campo, seja do incontrolado e muito mal explicado endividamento do clube ou seja ainda das polêmicas contrapartidas da Arena e de sua também mal contada dívida, a verdade é que a SAF atleticana sempre foi o principal movimento do clube, em função do qual tudo aconteceu e vem acontecendo nos últimos anos.
As péssimas e constantes atuações da equipe atleticana indicando que, intramuros do clube, as coisas não vão nada bem, as visíveis e induvidosas mudanças de rota e de discurso, o desmonte do elenco campensíssimo em 2021, o crescimento exponencial e sem qualquer justificativa minimamente razoável da dívida do clube, a temerária e mal conduzida alienação de ativos, a nítida corrosão do ambiente interno, o inescondível desconforto do diretor Rodrigo Caetano, as justas broncas do ex-treinador Eduardo Coudet, os sutis reclamos do Turco Antônio Mohamed, o rosário de notícias contraditórias e de outras tantas que se desmentiam em um piscar de olhos, fizeram com que um número crescente de torcedores alvinegros começasse a se inquietar e, mais que isso, a se indignar e protestar contra este estado de coisas que está sacudindo negativamente o até então glorioso Clube Atlético Mineiro.
A venda de Allan para o Flamengo, tida por muitos atleticanos como um desrespeito à torcida e à história do clube, e o fato de o valor e as condições da negociação serem considerados por outros tantos ridículos e muito aquém do que o volante valia, despertaram de vez no atleticano a necessidade vigiar, questionar e cobrar. Melhor, fizeram acender a capacidade de se indignar e o desejo de protestar.
Por tudo isso voltei ao assunto no artigo “SAF: MAIS DÚVIDAS DO QUE CERTEZAS, MAIS PERGUNTAS DO QUE RESPOSTAS. E, COMO PERGUNTAR NÃO OFENDE…”, publicado em 4 de julho passado, também aqui no Fala Galo, onde enumerei algumas questões que, no meu entender deveriam anteceder à modelagem da SAF e, claro, pautar a sua constituição e qualquer cessão de participação acionária.
Nestas últimas semanas as redes sociais atleticanas foram infestadas por mil e um questionamentos sobre as dívidas do clube e da Arena e, particularmente, sobre a constituição e modelagem da SAF alvinegra e sobre quem seriam e qual seria a participação dos acionistas. “Onde foi parar o dinheiro do Shopping?” é a pergunta que se mais ouviu e mais se leu por aí nestes últimos dias.
Se particularmente sobre o Atlético quanto mais acho que sei, mais vejo que nada sei, começo a perceber cada vez mais que não estou sozinho nesse sentimento/constatação. As críticas sobre a falta de transparência são cada vez mais recorrentes.
A composição da SAF atleticana, valuation, investidores, holding, percentuais, o que entra e o que não entra no pacote e o que deve e o que não deve entrar, são atualmente as dúvidas mais frequentes dos atleticanos. Afinal, muitas são as informações e as “informações”, muitas as explicações e as “explicações”, muitas as incertezas e muitas as perguntas sem respostas.
Mas, tão importante quanto estas questões, um tema me chama particularmente a atenção e não custa menciona-lo também neste artigo: “a elaboração e a aprovação pelo Conselho Deliberativo de um novo e moderno estatuto estruturando o clube para essa nova realidade deveria anteceder à autorização para a constituição da SAF. E, como perguntar não ofende, por que até agora este novo regimento ainda não foi sequer colocado em discussão entre os conselheiros?”
E, se ao que tudo indica, a SAF atleticana deverá ser aprovada pelo Conselho Deliberativo antes mesmo que um novo ordenamento esteja em vigor, quais âncoras terá o Atlético, na sua condição de clube originário, para garantir seus direitos e os seus interesses?
Ainda que os investidores/controladores da SAF sejam atleticanos, sempre vai haver conflitos de interesse, porquanto as naturezas da associação Atlético e da SAF são bem diferentes entre si e, por isso, seus interesses e objetivos poderão ser, por vezes, antagônicos e conflitantes. Não é absurdo imaginar que os interesses esportivos do clube poderão ficar em segundo plano na SAF, ou seja, atrás dos interesses financeiro-econômicos dos investidores.
Espera-se que os conselheiros atleticanos estejam à altura da imensa responsabilidade que lhes recai sobre os seus ombros. A votação do dia 20 é e será a mais importante da história do clube.
E, além das questões levantadas nesse e nos artigos anteriores citados acima, é mister lembrar que a Lei 14.193/21 possui muitos pontos obscuros e já está gerando muitas decisões jurídicas controversas em questões que certamente serão pacificadas pelo Supremo Tribunal Federal,.
Também não se deve esquecer que a legislação que regula a SAF inevitavelmente irá sofrer ainda alterações profundas, supressões ou acréscimos em razão do Projeto de Lei, PL 2.978/2023, em tramitação no Senado Federal, e das emendas que induvidosamente serão interpostas até a sua aprovação final.
Todo o cuidado é pouco. O futuro do Atlético está em jogo. E o voto do conselheiro se reveste de uma importância que não pode ser desprezada. Vale a pena dizer de novo: “Diante de tantas dúvidas e de tantas perguntas, o atleticano quer respostas”. Respostas claras e transparentes. E, claro, quer também um voto consciente e responsável de cada conselheiro no próximo dia 20.
Ao que tudo indica o Atlético está apostando alto, apostando tudo e com o seu voto, conselheiro, talvez apostando no escuro. Se vc, como eu, ao achar que sabe de tudo, perceber que nada sabe, vote com consciência. Não aprove nada no escuro. Pense apenas no Atlético. O clube e os atleticanos agradecerão penhoradamente.
Este texto é opinativo, de total responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do portal Fala Galo.