Dia 20.07.2023, o dia do apocalipse atleticano ou do gênesis alvinegro?
Por Max Pereira @Pretono46871088 @MaxGuaramax2012
Não é novidade para nenhum galista e nem para qualquer outro observador que acompanhe minimamente o Atlético que tudo no Glorioso é 8 ou 80. Isso explica as suas recorrentes crises, os seus frequentes tiros no pé e, claro, está na raiz da passionalidade extremada de sua frenética e esquizofrênica torcida. Ou seria bipolar? E, foi assim, em plena convulsão, apostando e jogando com o seu futuro, que o Atlético atravessou essa última semana.
O dia 20 de julho de 2023 ficará para sempre marcado na história de um clube gigante e convulsivo por natureza. A mais que esperada aprovação da SAF atleticana, apoiada por muitos e criticada e rejeitada por outros tantos nos moldes em que foi proposta, não só colocou o Galo mais famoso e mais querido do mundo na boca do povo, mas nas manchetes e nos noticiários Brasil afora e em muitos países do exterior.
Não de repente e tampouco sem surpresa, o Atlético deu o passo final para deixar de ser simplesmente uma associação sem fins lucrativos e se tornar de vez uma SAF nos termos previstos no inciso II do art. 2 da Lei 14.193/21, segundo a qual a Sociedade Anônima do Futebol pode ser constituída, dentre outras formas, pela cisão do departamento de futebol do clube ou da pessoa jurídica original e transferência do seu patrimônio relacionado à atividade futebol.
Legal e formalmente o Atlético ainda é uma associação. O que aconteceu neste dia 20 foi apenas uma autorização formal do Conselho Deliberativo para a constituição da SAF na forma proposta pelo seu Colegiado diretivo. Agora é apenas uma questão de tempo para que um novo clube, agora empresa, passe a escrever uma nova história, quiçá alvinegra para o todo e sempre, como herdeiro de um dos mais gloriosos, agitados e mal geridos clubes do futebol brasileiro.
Em uma votação controversa o Conselho Deliberativo, sob uma saraivada de críticas e outro tanto de questionamentos e também de alguns aplausos, não só aprovou a constituição da SAF do Atlético, como também transferiu à diretoria executiva do clube todo o poder para efetuar e finalizar a modelagem da Sociedade Anônima de Futebol atleticana.
Entre as várias dúvidas e incertezas levantadas aqui e ali por uma parcela cada vez mais considerável de torcedores e de críticos, sobressaem-se a falta de informação sobre o acordo de acionistas, a inexistência absoluta de transparência no processo desenvolvido até o momento, a presença dos interessados, futuros investidores, nos dois lados do balcão de negócios, o valor estimado e forma de cálculo do valuation do clube, a não definição dos direitos de voto e de veto do Atlético como associação originária em relação a medidas, ações e negócios da SAF e o fato do Conselho não ter ainda aprovado um novo estatuto, no qual os direitos e os interesses nobres e inegociáveis do clube estariam estabelecidos e protegidos.
E, não bastasse isso, a Lei 14.193/21, prenhe de pontos discutíveis e dúbios, fatalmente irá sofrer ainda alterações profundas, supressões ou acréscimos a serem introduzidos pelo Projeto de Lei, PL 2.978/2023, em tramitação no Senado Federal, e das emendas que inevitavelmente serão interpostas até a sua aprovação final. Inexplicavelmente nada disso tudo entrou em pauta seja nas conversas, seja nos debates, seja em muitas análises a respeito da SAF atleticana.
Para a estupefação de muitos e, curiosamente, sem surpresa para outros tantos, as discussões sobre esse fato de transcendental importância para a vida e para o futuro do Glorioso se cingiram quase tão somente a uma necessidade desesperada de se adotar esse novo modelo societário em razão de um endividamento perverso, faraônico e muito mal explicado que está estrangulando e inviabilizando o clube e também a uma expectativa de um futuro venturoso calcada em um encantamento que, aos poucos, vai se diluindo.
Enquanto isso, dentro de campo, como não podia ser diferente, o Atlético, refletindo os seus incandescentes e tensos interiores, vem jogando um péssimo e pouco convincente futebol e, ao mesmo tempo, colecionando desastrosas e nocivas decisões, ora da arbitragem, ora do VAR, o que denota, com clarividência meridiana, a desimportância política do clube e a sua total nulidade e desprestígio no jogo dos bastidores.
E não é só no futebol profissional que as coisas no Glorioso vão de mal a pior. Outros setores do clube e a base em particular também vêm perdendo profissionais importantes para outros clubes, especialmente para o Flamengo que não se limitou a tirar do Atlético apenas o volante Allan, como muitos podem imaginar. O diretor Rodrigo Caetano, último esteio do futebol atleticano parece cada vez mais demissionário.
Além disso, se ressentindo da falta de um projeto consistente de formação e de transição, jovens promessas de muito potencial vêm sendo alvos de negócios flagrantemente ruins como o meia Vitinho, quando não são inexplicavelmente dispensados e saem do clube de graça como o jovem Nikollas que foi para o Atlético Goianiense. Paralelamente e, por exemplo, os times do Sub 17 e do Sub20 vão alternando atuações irregulares jogo a jogo. A impiedosa e vexatória goleada por 7 x 1, imposta pelo Sub 17 do Corinthians ao Galinho pelo campeonato brasileiro da categoria escancara o péssimo e equivocado trabalho realizado na base alvinegra.
Não atoa, o noticiário atleticano dos últimos dias dividiu-se entre reações, comentários e chacotas sobre a mais profunda transformação do clube via uma radical alteração do seu modelo societário que, curiosamente, tiveram alguns pontos muito interessantes em comum e aquelas tradicionais notas cortinas de fumaça sobre possíveis saídas e chegadas de jogadores, shows de artistas e bandas estelares na Arena MRV, as atuações ruins do time, as péssimas arbitragens, as polêmicas revisões do VAR e a liberação da capacidade máxima de público para jogos e eventos na nova Casa do Galo, antes da conclusão das obras viárias.
Em meio a um carrossel de episódios demarcados pelo irritante e sempre presente disse-me- disse, o Atlético, líder histórico da Liga Forte Futebol inexplicável e nebulosamente muda de lado e se filia à Libra, liderada por Flamengo e Corinthians, sujeitando-se assim à uma distribuição de receita que o clube sempre repulsou e combateu por discordar dos privilégios daqueles dois gigantes do futebol brasileiro.
O jogo das lendas, um feliz e emocionante reencontro do clube e da torcida com o passado e a história gloriosa deste Galo maluco e muito amado, que também frequentou o noticiário alvinegro e o imaginário atleticano, foi um oásis nessa semana basicamente deserta de glamour e de alegria da Massa atleticana. Não faltou quem buscasse usá-lo para desviar o foco das discussões sobre a SAF.
Diante deste cenário, muitos atleticanos, temerosos quanto ao futuro do clube e bastante incomodados com a forma com a qual o Glorioso vem conduzindo a modelagem e a aprovação de sua SAF, chegaram a antever o fim do Atlético como o conhecemos hoje, entendendo que um clube empresa, um negócio pertencente a um dono, do jeito que está sendo constituído, conspurca inevitavelmente e sem volta a história e a identidade da agremiação. Ou seja, para estes torcedores o Galo nunca mais será o mesmo.
Ora, se o Galo, time do povo, não mais existe, como torcer para o negócio de alguém? Haverá sempre quem possa achar que tal sentimento é extremamente fatalista, trágico e mais que exagerado. Porém, é inegável que, de certa forma, aquele Atlético fundado no já longínquo 25 de março de 1908, a partir da constituição definitiva de sua SAF, terá sofrido a mais radical transformação de sua história e não será literalmente o mesmo.
E aí, algumas perguntas não querem calar: o que deverá ser feito e o que a sua apaixonada torcida deverá ou poderá fazer para que o sentimento de pertencimento entre ela e o clube, o mais sagrado de todos, não seja corrompido? Como, então, preservar a identidade e a história do clube? Onde e como definir e proteger os direitos e interesses inegociáveis do Atlético, inclusive o de resgatar para si, como associação originária, o total controle da SAF e o patrimônio a ela transferidos, se caso se observar o total distanciamento da Sociedade Anônima do Futebol da identidade e dos objetivos inalienáveis e pétreos do clube?
Assim, dependendo do que for feito antes constituição da SAF, o dia 20.7.2023 será conhecido como o dia do apocalipse atleticano ou do gênesis alvinegro. Quem viver, verá.
Mas, atenção: conforme escrevi no artigo “NA PRÁTICA A TEORIA PODE SER O QUE O ATLETICANO QUISER E FIZER”, publicado aqui nesta coluna em 3 de maio do corrente ano, se o torcedor alvinegro que já venceu o vento entender a importância de fazer renascer o seu acreditar, passando a conjugar o verbo esperançar e a jogar junto com o clube do seu coração, i.e., fazendo por onde, lutando, protestando, cobrando, propondo alternativas e caminhos, exigindo transparência e exercendo o seu inegociável direito de discordar e de questionar, fatalmente ele fará verbalizar na prática o seu sonho, seja ele qual for, o sonho de cada galista apaixonado.
Na prática, enfim, a teoria pode ser o que o atleticano quiser e fizer, inclusive de ser partícipe e agente da história do Galo, fazendo com que, finalmente, a SAF não corroa dignidade do clube e nem conspurque a sua identidade. Só assim, o dia 20.7.2023 será conhecido como o atleticano o quiser e o fizer ser.
*Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, o pensamento do portal FalaGalo.*