Eu acredito na atleticanidade e você?
Por Max Pereira / @MaxGuaramax2012
Antes do jogo contra o São Paulo a matemática dizia que o Atlético tinha 5,8% de chances de ser campeão. “Eu Acredito”, passou a ser o grito da Massa, uma espécie de profissão de fé. Mas, além de uma fortuita combinação de resultados, era preciso vencer o São Paulo, um adversário sempre difícil. Mas, estaria o atleticano preocupado com a matemática e com as probabilidades ditadas pelos números. Tenho certeza que não.
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Um torcedor anônimo soltou a seguinte pérola nas redes sociais: “a matemática entende muito de números. Mas entende pouco de Atlético”. E ainda que os números indiquem o contrário a fé do atleticano permanece inabalável. Afinal, quantas vezes o imponderável se materializou? Como explicar o “Milagre do horto”, quando a perna santa de São Victor isolou aquela bola chutada por Riascos aos 49 minutos da etapa completar em uma cobrança de pênalti que jamais será esquecida?
Ou como explicar aquele escorregão do Ferreira, atacante do Olímpia na finalíssima da Libertadores de 2013, depois que ele havia passado pelo goleirão Victor e tinha a meta atleticana escancarada diante de si?
A matemática explicaria aquelas viradas antológicas impostas ao Corinthians e ao Flamengo na Copa do Brasil de 2014, quando os adversários já tinham uma confortável vantagem de dois gols?
O “Eu acredito” nunca foi fruto do acaso e, sim, um insight natural, talvez imperceptível para muitos, mas seguramente resultante da percepção, ainda que inconsciente para grande parcela da massa, da força da paixão galista que, de há muito, já aterrorizava os adversários. E isso ficou claro em um jogo em particular.
Um episódio emblemático, por um Brasileirão que já vai distante, exemplifica o que a força e a paixão do atleticano é capaz de fazer acontecer. 15, 20 minutos da etapa complementar, o Flamengo, que já havia empatado o jogo logo no reinício da partida, se agigantava, enquanto o Atlético, acuado, perdia força e ficava cada vez mais à mercê do adversário.
A virada do rubro-negro era questão de tempo. O técnico Procópio Cardoso Neto, um dos mais emblemáticos treinadores da história do Atlético e também um de seus mais viscerais zagueiros, lançou mão, então, da mais temível arma que tinha à sua disposição: a massa atleticana.
Pegou uma camisa preta e branca e pôs-se na beirada do gramado a pular e a brandir freneticamente o manto sagrado. E assim ficou até o fim da partida. Sob o comando do emblemático treinador, a massa começou a repetir o seu gesto. As estruturas do Mineirão balançaram e o rubro-negro tremeu.
Os jogadores atleticanos tirando uma força, até então insuspeita, de onde nem eles mesmos sabiam, foram para cima do rival carioca que, atarantado, viu o, então, garoto Cairo fazer o gol da vitória.
Quando soou o apito final, Procópio ajoelhou-se e, em prantos, agradeceu aos céus aquela vitória conquistada na paixão, no amor e na força de uma torcida sem igual, como recentemente o técnico Paulo Autuori e o ex-jogador Pedrinho reconheceram em entrevista ao jornalista Rica Perrone.
Uma vitória com a marca do grande comandante, o homem que conhece, experimentou e vivenciou essa paixão alvinegra, dentro e fora do campo. Muito obrigado por tudo que você, Procópio, fez pelo nosso Galo. Será que os números frios da matemática saberiam explicar aquele jogo antológico e insight do velho comandante?
Quantas e quantas vezes adversários exaltaram a massa atleticana e disseram, com todas as letras, que foram derrotados por ela? Atlético e massa são um só. Se o gigante acordar e souber aquilatar a força que tem, o Atlético se converterá de vez em um time do mundo, vencedor e campeão como poucos. E ser esse despertador é função de qualquer atleticano.
E essa possibilidade aterroriza a gregos e troianos. Essa perspectiva assusta e é a razão, não só dessa raiva incontrolada de várias vozes da mídia do eixo e da própria imprensa local, mas dos ataques e prejuízos históricos que o Galo vem sofrendo há anos.
O que se viu no Mineirão neste último jogo do Galo em Belo Horizonte nesta temporada foi um espetáculo de rara beleza e de suprema emoção. Mais uma vez carregados pela Massa que amarrou as suas chuteiras com as próprias veias, os jogadores atleticanos buscaram e tiraram energia de onde não se imaginava existir e conquistaram uma vitória heroica, histórica, extraordinária contra um São Paulo intenso que parecia jogar uma final de Copa do Mundo.
A melhor e a mais intensa partida do SP nos últimos anos. Cansado, desgastado e sob uma pressão intensa, o time do Atlético não jogou bem a maior parte do jogo. Os últimos 20 minutos do tempo regulamentar e os 14 minutos a mais dados por “sua senhoria” foram de uma luta estoica admirável. E a sinergia time/torcida, transformados em um único só elemento, deu no que deu.
Ao final dos 45 minutos regulamentares do segundo tempo, o árbitro sinalizou acréscimos de 8 minutos, ao fim dos quais, deu mais 2 minutos o que pode até ser aceitável, dependendo do que possa ter acontecido no decorrer desse tempo extra. Decorridos esses 2 minutos adicionais, ele voltou a dar mais 2 minutos e ainda mais 2, sem nenhuma razão que justificasse tais acréscimos, o que acarretou uma pressão terrível para o time atleticano.
Agonia e êxtase. Um turbilhão de sentimentos envolveu time e torcida durante aqueles minutos que pareceram séculos. O choro derramado pelos atletas e por milhares de torcedores que lotavam o Salão de Festas atleticano, eu entre estes, e ainda por outros milhões de galistas espalhados pelo planeta tão logo o jogo acabou, foi justo, catártico e redentor. Torcedores que não se conheciam se abraçava, se beijavam e misturavam as suas lágrimas.
Embora alguns torcedores lamentem os cartões amarelos recebidos, entendo perfeitamente porque Hulk e Paulinho tiraram as suas camisas ao comemorar os seus gols. Foi algo surreal. Tirar as camisas foi um desabafo natural, explicável e necessário. Ninguém é de ferro.
Nenhum jogador, independentemente do salário, do status, do potencial técnico ou tático, da carreira que conseguiu construir, é máquina. Eles são seres humanos antes de qualquer coisa. Eles se cansam, se desgastam, eles choram, riem, amam, odeiam, têm fome, sentem dor, sentem saudades, sofrem, ficam depressivos. Enfim, são seres humanos.
Se o título não vier e, ao que tudo indica o Palmeiras será o campeão, a vitória da atleticanidade já terá compensado todos os dissabores havidos durante este 2024 e em 2023 após a conquista da Supercopa brasileira. Explico.
O que aconteceu no campeonato e praticamente deixou o título nas mãos do Palmeiras não começou nesta última rodada. Campeonato de tiro longo como o Brasileirão tem como requisito fundamental a regularidade. Neste atual Brasileirão, a irregularidade foi a marca da competição. Vai ser campeão quem errar menos. Vai cair quem errar mais.
Para o atleticano tudo é possível. E, por isso, ele acredita sempre. Aliás, o atleticano já provou que a fé move e remove montanhas. Mas, também é preciso aprender com as lições que o futebol nos dá. A bola pune. A bola não perdoa os erros. Assim, com ou sem título, não há melhor momento para torcedores, dirigentes, comissão técnica, funcionários e jogadores conjugarem o verbo esperançar, i.e., entenderem que, além de acreditar, é preciso fazer por onde, ou seja, agir de forma concreta, não só dentro, mas também fora dos estádios, para que os nossos maiores sonhos se tornem realidade.
Se a Massa já derrotou o vento nas arquibancadas e nas gerais e continua mostrando isso, é preciso que, fora dos campos e das Arenas ela também empreste a sua fé cobrando, questionando, protestando e participando da vida do clube com inteligência e de forma construtiva. Lembre-se: o Atlético só é o Gigante que é em razão desse binômio “clube/torcida”. Sem a Massa o Galo sequer existiria. Essa é a lição das arquibancadas.
Eu acredito na atleticanidade e vc?