Atlético, uma história de crises e uma paixão sem fim! Ou não?
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Por: Max Pereira @Pretono46871088 @MaxGuaramax2012
No filme “A História Sem Fim”, lançado em 1984 e dirigido por Wolfgang Petersen, Bastian (Barret Oliver) é um garoto que usa sua imaginação como refúgio dos problemas do dia a dia. Houve um tempo em que o futebol, desde sempre, um fenômeno sócio-cultural sem par, cumpria um papel catártico de excelência, permitindo aos seus milhões de aficcionados exorcizarem os seus demônios “vingando-se” das frustrações e dos problemas do dia a dia.
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O futebol dos tempos atuais se tornou um negócio multi-bilionário e complexo e não mais consegue desempenhar o papel catártico de antes. Ainda assim, permanece particularmente especial e diferente de qualquer outra atividade do mundo corporativo. A paixão do torcedor pelo seu clube, um sentimento de pertencimento, um sentimento de mão dupla, é a seiva vital que fez desse esporte o fenômeno que é. Não à toa, o futebol é o esporte mais popular e mais querido do mundo.
Mas, até quando o futebol resistirá a estes tempos modernos? Até quando a paixão do torcedor se manterá intacta diante de um futebol, hoje cada vez mais físico, mental, de resultados, enfim, feio, pouco ou nada cativante e cada vez menos plástico, menos gostoso de ver e menos empático? Como o Atlético, o time das crises, e agora transformado em empresa sobreviverá a tudo isso? E como se sentirá e agirá o galista apaixonado em seu novo papel de cliente?
Entendo que o futebol e, o Atlético em especial, têm diante de si o maior desafio de suas histórias. “Ah! O futebol evoluiu em muitos aspectos”, diriam muitos. “E não poderia ser diferente, pois se assim não fosse o futebol não acompanharia a evolução tecnológica e, deixando de modernizar suas ferramentas gerenciais e seus métodos, ficaria parado no tempo e não movimentaria os bilhões que hoje movimenta”, sentenciariam outros tantos.
Nada contra os clubes modernizarem e profissionalizarem suas gestões. Nada contra os clubes modernizarem seus departamentos médicos, de preparação física, filológica e fisioterápica. Nada contra os clubes agregarem à preparação física, técnica e tática, cuidados com a saúde mental, emocional e psicológica de seus profissionais. Nada contra o desenvolvimento e a implementação de novos métodos de trabalho e de avaliação. Nada contra o avanço tecnológico.
Tudo contra, porém, ignorar que existem coisas que são intrínsecas à natureza do esporte bretão e ao espectro cultural de cada país, de cada povo. Falei da paixão que o futebol desperta e lembro que o aficcionado por futebol torce para o seu clube. O atleticano, por exemplo, vai muito além do torcer. Ele celebra a sua atleticanidade. A relação clube/torcida em nada lembra ou se parece com a relação empresa/cliente.
E não é só isso. Lidar com um jogador de futebol nada tem a ver com o trato com qualquer outro tipo de profissional. É preciso conhecer a alma do boleiro. O jogador de futebol só respeita a três tipos de pessoas na hierarquia de comando: quem ele gosta, quem ele percebe que é do ramo, i.e., quem entende profundamente dos meandros do futebol é em que ele sabe que pode confiar.
Por isso, o futebol de hoje exige na linha de comando de um clube alguém que tenha o feeling que o futebol exige, que tenha a manha do vestiário, que consiga ser a ponte confiável e transitável entre o elenco e o alto comando. E o Atlético de hoje mostra esta deficiência com clareza meridiana. Não que Rodrigo Caetano seja um péssimo executivo. Não, não é isso. Ele tem o seu valor e é importante e necessário na estrutura diretiva do clube. Mas, claramente falta alguém na linha de comando que o complemente.
Já escrevi certa vez e não custa repetir que as maiores dificuldades como treinador, segundo Carlo Ancelotti, técnico do Real Madrid e vencedor da Champions League, é geri-los, é motivá-los todos os dias, escutá-los.
O mais delicado, segundo Ancelotti, não é uma coisa técnica ou tática, mas psicológica. “Você não fala com um jogador, e sim como uma pessoa. Eu sou próximo da pessoa, não do jogador. Isso é sutil. Pessoalmente, eu não sou treinador, eu faço o papel de treinador, idem para o jogador. Essa nuance é indispensável. Eles entendem e apreciam isso. Quanto mais experiente for o jogador, mas fácil é lidar com esse lado psicológico”, complementa o vitorioso treinador.
O nível de pressão, de cobrança e de stress que os jogadores são/estão submetidos hoje em dia chega a ser brutal, desumano.
Não bastasse tudo isso, é igualmente fundamental conhecer, respeitar e preservar a história e a identidade do clube. SAF é coisa nova, incipiente e constitui uma ruptura radical na estrutura e na cultura do futebol brasileiro.
Ainda que antes da instituição da Sociedade Anônima do Futebol já existisse no Brasil previsão legal para que clubes (associações) se transformassem em clubes-empresas, sendo o Red Bull Bragantino o caso mais emblemático e conhecido, essa alteração de modelo societário é ainda uma experiência bastante embrionária que, se não for acompanhada de determinados cuidados fatalmente se constituirá em um desastre de proporções incalculáveis.
Do ponto de vista jurídico SAF ainda é um caminho nebuloso e incerto. O projeto de lei que introduz modificações profundas na Lei da SAF e a própria Reforma Tributária que tramitam atualmente no Congresso Nacional, ainda sujeitos a infindáveis emendas, certamente darão à Sociedade Anônima do Futebol nova configuração.
Diante de tudo isso e, considerando que: 1) o Atlético é o clube das crises, crises que parecem intermináveis, que, ora são geradas intramuros da instituição, ora vêm de fora, plantadas e infladas por agentes externos que, por razões e interesses diversos, delas tiram dividendos de toda ordem.
E 2) os sinais de que o vestiário atleticano, ao mesmo tempo em que se contorce em razão de problemas internos mal resolvidos, está também sendo pesadamente afetado pelas pressões vindas de fora do clube e por ações nocivas de agentes externos, emergem claramente do semblante anormalmente carregado de vários jogadores dentro de campo, do futebol amarrado que o time está exibindo e do claro desconforto tático e posicional de outros, resta claro que os desafios da SAF do Glorioso são particularmente complexos e espinhosos.
O gigantismo do Galo mais querido e mais famoso do mundo tem em sua gênese essa paixão sem fim do seu torcedor. E, mais do que nunca, é essa paixão a única força motriz que sustentará o Atlético nestes próximos tempos que certamente serão de muitas chuvas e trovoadas.
ARTIGO DE TOTAL RESPONSABILIDADE DO AUTOR. O PORTAL FALA GALO COMO DEMOCRÁTIVO, SEMPRE ABRIRÁ ESPAÇOS AOS TORCEDORES.