Coluna do Silas: Pontos importantes sobre a reunião com o presidente Sérgio Coelho e CEO Bruno Muzzi
Por: Silas Gouveia
Nesta terça-feira, dia 23/01/23, o presidente do Atlético chamou para uma reunião, os maiores produtores de conteúdo na internet, do Galo. Uma iniciativa muito válida e que precisa ter uma sequência maior. Apesar de elogiável esta iniciativa, acreditamos que precisamos ter informações mais completas e mais técnicas para poder ser repassadas ao público em geral.
Abordaremos os principais temas discutidos e as informações prestadas, deixando claro que não se trata de matéria opinativa. Trata-se quase que em sua totalidade, da transcrição do que foi discutido na reunião, sendo um relato o mais fiel possível das conversas ocorridas nesta reunião.
INÍCIO
Ao dar início à reunião, o presidente Sergio Coelho se colocou à disposição para perguntas e foi logo cobrado por mais transparência da diretoria, especialmente quanto aos rumos das negociações entre o clube e o potencial investidor para compra da SAF do Atlético.
Ele respondeu dizendo que a atual diretoria é a mais transparente de todas as outras diretorias que já haviam passado pelo Atlético e tudo o que é feito por eles é levado ao conhecimento primeiro do Conselho e depois da torcida em geral. Citou diversas iniciativas comprovando o que alegava, mas foi confrontado em seguida por um dos presentes, com a afirmação de que esta diretoria pode ser de fato uma, ou a mais transparente entre as demais, mas isto não significava que seria uma das mais transparentes do Brasil e é isto que estávamos cobrando. Foi lembrado aos presentes, que a atual diretoria ainda não produz balancetes trimestrais e que mesmo o balanço anual, embora tenha melhorado um pouco na última versão, ainda carrega problemas de clareza das informações e mudanças anuais de formato, dificultando assim o acompanhamento externo das contas do clube. Foi citado como exemplo a informação do valor oficial do montante aportado como empréstimo de Rubens Menin ao clube. A resposta a esta pergunta foi que este valor seria de R$ 210 milhões.
Houve a promessa que para este ano, principalmente se o clube conseguir aprovar a SAF, os balancetes deverão ser inclusive mensais e não somente semestrais.
Após este início deu-se sequência à reunião propriamente dita, onde foram tratados diversos temas, tratando apenas de repassar as informações como elas foram expostas na reunião com os representantes do clube.
- SAF
Muito pouca coisa foi divulgada, que já não fosse de conhecimento da maioria dos torcedores. Nada foi revelado acerca da identidade do investidor, embora tenha ficado nas entrelinhas ter grandes chances de ser mesmo o Peter Grieve. Mas também foram citados outros nomes como Grupo City e Fenway Sports Group, embora sem ênfase alguma que pudesse sugerir que algum deles continue interessado.
Segundo informações do CEO do Atlético e Arena MRV, Bruno Muzzi, as tratativas ainda estão na fase de avaliações e como proposta não vinculante. Ou seja, ainda não há um compromisso de compra nem de venda, mas já estariam terminando a fase de Due Diligence. Não há tampouco, discussão sobre prazo de vigência de uma futura SAF e nem foi informado como poderia se dar a injeção de recursos por parte do investidor máster. Mas, segundo os dirigentes, qualquer negociação entre as partes somente será levada adiante após a comprovação da capacidade de investimentos apresentada pelo investidor. Sem a apresentação destas garantias, não há possibilidade de sequência das negociações entre as partes.
O objetivo do clube é vender cerca de 50% mais 1 das ações da provável SAF do Atlético, a um grupo majoritário e isto fez com que diversos outros interessados fossem descartados, pois a maioria apresentava proposta de adquirir 90% da SAF, inclusive o Grupo City e outros. Neste projeto, não estariam inclusos os bens imóveis do clube como Arena e Centro de Treinamento. Mas foi dito pelo CEO do clube, que eles precisam garantir que estes instrumentos sejam de fato utilizados pela SAF e isto será objeto de cláusula contratual (provavelmente proposta de arrendamento dos bens).
Também segundo informações, houve certo consenso entre representantes do clube e investidores, que os apoiadores atuais do clube também participassem da SAF e, neste sentido, teria a possibilidade de os mesmos entrarem com cerca de 17% do valor da SAF, ficando o restante de posse do próprio clube.
Embora em momento algum tenha sido falado sobre o valor total da SAF, pelos percentuais apresentados e os valores envolvidos nos aportes dos atuais apoiadores, pode-se chegar a dois valores, dependendo da composição que se fizer. Com os aportes declarados pelo clube das famílias Menin e Guimarães, segundo informações do presidente, os Menin’s, injetaram R$ 210 milhões e a família Guimarães R$ 150 Milhões no clube. Isto daria uma projeção de cerca de R$ 2,1 bilhões por 100% da SAF, sem incluir os bens imóveis do clube, como Arena e CT por exemplo. O valor que o investidor estaria então disposto a pagar por 50% + 1 das ações seria algo próximo de R$ 1 Bilhão. Reforçando que isto não foi uma informação repassada pelo clube e sim tão somente uma projeção, tomando por base os valores das dívidas com os apoiadores e o provável percentual que isto representaria numa futura SAF do Atlético.
Bruno Muzzi também disse que seria possível, no futuro, que o clube fizesse uma operação de aporte de capital na SAF, por intermédio da integralização de capital proveniente da cessão da Arena MRV à SAF. E que se de fato isto vier a acontecer, o investidor fica obrigado a aportar a mesma proporção de capital na SAF, aumentando assim seu valor de mercado.
Sobre a possibilidade de se valer dos recursos legais previstos na Lei das SAF’s para pagamento das dívidas, foi informado que o clube não pretende fazer uso dos instrumentos de Recuperação Judicial-RJ (nem a extra-judicial) e tampouco do Regime Centralizado de Execuções-RCE. Na avaliação dos dirigentes, estas opções não seriam apropriadas à situação do clube.
Sobre o prazo para adequação e criação da SAF, estima-se que já para março de 2023 seja possível. Mas depende sobretudo do acordo entre as partes e a aprovação pelo Conselho Deliberativo do clube. Antes de ser efetivado, há a promessa de que além do Conselho, também a torcida e a imprensa tenham conhecimento de todo o processo e seus detalhes. Há a possibilidade de novas reuniões como a ocorrida nesta terça-feira (23/01/23) e com outros segmentos.
Questionado sobre qual modelo de SAF mais lhe agradaria, Bruno Muzzi afirmou que o modelo do Arsenal era aquele que mais lhe chamava a atenção e que o agradava, pelo perfil de contratações e composição de elenco. Sempre jovens, com enorme potencial e grande valor de mercado.
Também questionado sobre a possibilidade de inclusão, como aporte de capital, dos 24,95% do shopping na SAF, Muzzi descartou esta possibilidade. Entretanto mostrou-se preocupado por ainda não ter conseguido fechar negócio no mercado, desta parcela que ainda falta para conclusão da venda de toda participação do clube junto ao shopping. As propostas avaliadas até o momento não foram aprovadas pelo executivo e nem pela diretoria do clube.
- Situação financeira do Clube
Sem ser questionado a respeito, foi dito a todos os presentes que a situação financeira do clube é preocupante. Disseram inclusive, que sem o apoio de Rubens Menin, a situação do clube estaria pior que aquela enfrentada pelo rival. Segundo informações prestadas, o clube vem se valendo de empréstimos para o pagamento até mesmo de despesas correntes e que quase a totalidade destes empréstimos foram avalizados pelas famílias Menin e Guimarães (cerca de R$ 540 Milhões) e só por isto o clube continua obtendo empréstimos no mercado. Que entre empréstimos diretos e aval para outros, Rubens Menin é responsável por quase 900M em dívidas do Clube.
Bruno Muzzi foi categórico ao afirmar que o clube precisa manter-se dentro de uma responsabilidade financeira. Há um planejamento de gastos e de recebimentos e eles devem ser seguidos integralmente. Explicou também que as despesas em geral chegam de forma integral, mas as receitas chegam em parcelas. Por isto torna-se fundamental o equilíbrio financeiro. A saída de um jogador tem impacto mais imediato na folha salarial e, de forma menos intensa, no caixa geral uma vez que via de regra estes valores são parcelados. Muzzi também explicou que somente agora ele está tendo condições de implantar seu projeto de gestão no clube, uma vez que o planejamento do ano de 2022 já havia sido feito e estava em andamento, quando de sua chegada ao clube. Por isto, para 2023 ele está implantando o controle por centros de custos para todos os setores, com a possibilidade de acompanhamento e controle de cada despesa e das metas de arrecadação de cada um. E para ficar mais fácil de ser executado, dividiu o controle de fluxo de caixa em dois: fluxo de caixa para investimentos e fluxo de caixa para despesas correntes. E vai cobrar de todos que cumpram com o planejado integralmente.
Também foi informado que, mesmo sem ainda ter entrado qualquer valor referente à venda de parte do shopping (24,9%), no caixa do clube, as dívidas que estariam relacionadas à esta venda já estão sendo pagas, parte com os empréstimos realizados recentemente, avalizados pelos R’s. Não foram especificadas quais dívidas já foram pagas, sendo relatado apenas que estas informações constarão no balanço do clube. Informaram ainda que apenas o décimo terceiro dos atletas encontra-se em atraso, segundo informações do clube.
- Arena MRV
Segundo informações de Bruno Muzzi, as obras viárias no entorno da Arena não estão avançando em ritmo que possibilite garantir que todas as datas relativas ao BH Festival possam ser cumpridas. Há uma possibilidade de que algumas datas sejam repensadas e talvez reprogramadas, muito em virtude do atraso na conclusão das obras viárias. Citou como principal obstáculo as chuvas torrenciais que vem castigando a capital neste mês de janeiro. Estas chuvas praticamente paralisaram todas as obras e talvez seja necessária uma “operação de guerra” para atacar estes atrasos.
Outro problema relatado sobre a Arena MRV, diz respeito ao sistema de Wi-fi que estava previsto de ser implantado no mês de maio/23. Segundo informações, devido à crise mundial de semicondutores, houve um atraso na entrega do material que serviria para implantação do sistema de Wi-fi da Arena. A nova data prevista para esta entrega, agora é setembro de 2023. Mas afirmou-se que isto não irá impedir nenhum tipo de evento que esteja sendo programado para a Arena a partir de março/23.
- Assuntos gerais
Sobre a possibilidade de chegada de novos reforços ainda nesta janela do futebol brasileiro, o presidente foi reticente mas disse que o clube está sempre atento ao mercado. Só não irá fazer loucuras. Bruno Muzzi ainda completou dizendo que o clube precisa se equilibrar mais, em relação às despesas com folha salarial e que, mesmo já tendo sido feito vendas e empréstimos que somados já passam de R$ 50 milhões, o orçamento prevê o valor de R$ 80 milhões nesta rubrica para este ano. Por isto, ainda segundo Muzzi, o Atlético precisa fazer pelo menos mais uma ou duas vendas ou empréstimo de atletas, preferencialmente ainda neste primeiro semestre.
Questionado sobre a possibilidade de candidatar-se a uma reeleição, visto que este ano teremos eleições presidenciais no clube, o atual presidente foi evasivo e disse apenas que talvez o atual formato de um sistema presidencialista no clube, não seja mais o modelo mais eficiente. Disse que um sistema em que haja previsão legal para a formação de um Conselho Gestor seja um modelo mais moderno e eficiente. Mas não disse se irão propor esta alteração no Estatuto ao Conselho Deliberativo ou se ele pretende tentar uma reeleição, caso não se altere o sistema atual, nem mesmo se ele se coloca como opção para compor um possível Conselho Gestor do Clube.