Preto no Branco: quem tem medo da verdade?

Por: Max Pereira 

Se 2022 foi um ano tenso, turbulento, de muitas polarizações, crises e dificuldades, 2023 já promete muitas preocupações, cobranças, críticas, incertezas e indefinições. Enquanto o mundo se despede e acompanha os velórios de um Papa e de um Rei, as bombas continuam explodindo na Ucrânia, as crises econômicas, agudizadas pela pandemia, pela guerra no leste europeu e pela geopolítica internacional, continuam sacudindo as principais economias mundiais, as autoridades climáticas acendem o alerta máximo no planeta, o vírus da Covid não erradicado de todo ainda é uma ameaça para a humanidade e no Brasil um novo Governo dá os seus primeiros passos na reconfiguração do país a que e propôs fazer sem direito de errar e sob o peso de uma responsabilidade e de uma missão hercúleas, face à aguda e extremada polarização político ideológica que vem demarcando a nação brasileira nos últimos anos, o Atlético, fiel à sua tradição e à sua história, vê seus alicerces balançarem com a divulgação de uma notícia indigesta, preocupante, porém, incrivelmente não totalmente surpreendente.

Conforme noticiou o Fala Galo, “no fim da tarde desta segunda-feira (2), a Multiplan Empreendimentos Imobiliários publicou em seu site oficial que a compra do restante do Shopping Diamond Mall não foi concluída”. A notícia caiu como uma bomba no mundo atleticano. E, junto com ela, outras informações que, longe de trazer tranquilidade e confiança aos corações e às almas alvinegras, tiveram o condão de potencializar a insatisfação e a descrença de seu torcedor em relação ao que está sendo feito no clube e à qualidade da gestão.

Segundo foi largamente informado pelo Atlético e detalhado aqui no Fala Galo a transação de conclusão da compra dos restantes 49,9% restantes do shopping foi anunciada no início do mês de agosto do ano passado, com valores na casa dos R$ 340 milhões, onde R$ 136 milhões seriam pagos à vista e o restante em 12 parcelas com correção mensal do Índice de Preços no Consumidor (IPCA).

Mesmo sem uma posição oficial do clube veículos da mídia convencional e alternativa se alternaram na busca e na divulgação de informações sobre o que teria motivado o recuo da Multiplan. O Fala Galo, cioso e responsável como sempre, trouxe a informação de que o Atlético entende que a Multiplan teria emperrado a negociação para ganhar tempo e mudar a proposta inicial. Aliás, o próprio clube já houvera sido informado há dias do imbróglio.

E o Fala Galo foi além na busca da informação (Especialista garante: “esta venda seria muito difícil pelas dívidas tributárias que o clube tem”). Uma outra pessoa a que o FG teve acesso salientou: “A Multiplan pediu inúmeros documentos e foi empurrando o negócio, ganhando prazo. No fim de tudo, na última semana, quis mudar as regras, querendo comprar apenas 25%, já que este percentual já garantiria controle total das ações e tomada de decisão no empreendimento. A ação foi uma estratégia da empresa para mudar o cenário de negócio, visto que eles (Multiplan) sempre tiveram preferência na compra e, lá atrás, o Atlético teve uma proposta e eles falaram que cobririam”.

À medida que se busca saber mais sobre esta pendenga entre o clube e a Multiplan mais informações vêm à tona e deixam o torcedor atleticano mais incomodado e irritado. Por exemplo, a notícia de que o contrato de compra não chegou a ser assinado e de que, apesar da troca de documentos já ter sido iniciada, a não assinatura acaba na não existência de uma multa, deixou muito galista na bronca e desiludido em relação ao futuro do clube.

Nem as informações de que o clube estudará a partir de agora medidas para se proteger, visto que, o processo pode ser longo e o Atlético sofrerá bastante com os juros e a não entrada de receitas, convenceram e acalmaram o torcedor alvinegro. Outro fato que teria incomodado o comando atleticano é que, segundo o clube, a Multiplan teria trazido a público uma negociação que estava ainda em trâmite, em sigilo. E, ainda que nada possa ser ainda considerado definitivo, como ocorre no mundo dos negócios, os prejuízos acumulados pelo clube em razão do recuo da Multiplan já são significativos e pra lá de preocupantes.

Um advogado especialista, que NÃO tem nenhuma relação profissional com o Atlético, e que preferiu não se identificar, consultado pelo Fala Galo, garantiu “que as dificuldades da negociação partiram dos termos de garantia para cumprir o pagamento de tributos como (Profut) e outros que o Atlético deve na casa de R$ 300 milhões”.

E concluiu: “Esta venda seria muito difícil, dada a condição financeira do clube. O shopping garante várias dívidas fiscais que precisariam ter autorização para a substituição do imóvel, para não configurar fraude à execução. Quando você tem um patrimônio e uma dívida, não se pode vender facilmente esse patrimônio, há uma ideia de que poderia se estar fraudando uma execução”.

E aqui poderia residir, de fato, o receio da Multiplan em finalizar o negócio. Ora, se os credores entendessem que o clube estaria liquidando um patrimônio sem quitar a dívida e, portanto, diminuindo a sua capacidade de receber, se justificariam os receios da Multiplan de concretizar o negócio, pagar ao Atlético e, depois, ver a transação ser desfeita em razão de possíveis irregularidades. Desta forma, o clube teria que devolver o dinheiro à administradora do Shoppings que já teria feito algum pagamento. Não foi outra a razão que levou a Multiplan a pedir uma garantia de R$ 300 milhões, recusada pelo Atlético.

Está claro que houve um desgaste na relação entre o clube e a Multiplan. E está mais claro ainda que o impacto de tudo isso nas finanças do clube é devastador, vez que os juros seguirão corroendo a saúde financeira do clube, não haveria a entrada da receita prevista com a venda do Shopping e, em consequência, o clube não poderia, como planejara, quitar as famosas dívidas onerosas. Ainda que o clube retome as tratativas com a própria Multiplan ou com outros interessados há que se reavaliar os cenários e há que se perquirir qual seria a correção do valor do imóvel nesse espaço de tempo.

O clube promete se pronunciar oficialmente a respeito desta reviravolta. Mas, o que é fundamental perceber é que, além de esclarecer os fatos, i.e., informar ao seu torcedor o que de fato levou a Multiplan a desistir do negócio e que o estava travando a aprovação da venda pelo CADE, deve o Atlético mostrar quais os caminhos o clube deverá percorrer e quais serão as estratégias que serão implementaras para que o Glorioso supere este revés e não se inviabilize.

E não é exagero usar o verbo inviabilizar. Até mesmo aqueles que criticaram com alguma propriedade a venda do Shopping desde a primeira parte, ou seja, aqueles primeiros 50,1 % e a consequente construção da Arena MRV, por entenderem se tratar de uma empreitada ousada e injustificada na forma e hora em que se realizaram, entendem que a não conclusão neste momento do negócio com a Multiplan em relação à aquisição os 49,9% restantes daquele empreendimento, se configura um desastre para as finanças do clube, vez que as dívidas do Atlético vêm crescendo de forma exponencial e a nova Casa do Galo também já nasce com as suas receitas comprometidas até 2029/30.

Tudo isso é conversa para quem não tem medo da verdade. Não sem razão as críticas de torcedores nas redes sociais se mostram cada vez mais ácidas, refletindo proporcionalmente a queda de confiança da massa torcedora naqueles que conduzem os destinos do clube.

E, dependendo de suas respostas, o descrédito do Atlético no mundo do futebol, no mercado em geral e, principalmente junto aos possíveis interessados na aquisição do restante do Shopping e da também da SAF será devastador. E esse é mais um desafio que os próceres atleticanos têm que enfrentar, sob o risco de vermos clube se afundar em uma crise sem precedentes.

.*Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, o pensamento do portal FalaGalo.