Quando é preciso saber dar uma parada…
Por: Max Pereira @Pretono46871088 @MaxGuaramax2012
E AÍ, ATLÉTICO? QUANDO E COMO É PRECISO CUIDAR DE SEUS ATLETAS? Muitas vezes na vida é preciso dar uma parada para, em seguida, retomarmos o nosso dia a dia com mais energia e dinamicidade. Embora o corpo humano seja para muitos cientistas uma máquina complexa e sempre surpreendente, a engrenagem constituída por zilhões de células que se renovam e, ao mesmo tempo, envelhecem, obviamente não se comporta como qualquer estrutura inorgânica.
O desgaste, o cansaço, o stress e o esgotamento, seja físico, seja mental, sempre ocorrem e, muitas vezes mais que o desejado, são incrivelmente menosprezados por quem deveria estar focado em preveni-los e minimizar os seus efeitos.
No futebol não é diferente. Nestes tempos em que o nível de exigência física, mental e tática é cada vez maior, manter a regularidade e, principalmente, uma performance de alto nível por um tempo longevo é algo praticamente impossível.
Os altos e baixos e as más fases são normais. Nenhum atleta, seja de que modalidade for, passa impune às oscilações da vida e às exigências do esporte. A norte-americana Simone Biles, para muitos a maior ginasta do mundo de todos os tempos, acusando stress mental insuperável, retirou-se das últimas olimpíadas. Para ela era o momento de pensar na sua saúde e de dar uma parada.
É verdade que algumas atividades são mais estressantes do que outras. Aquelas que, por exemplo, expõem sempre os profissionais ao crivo público, atraem mais exposição e, por isso, geram mais cobranças e críticas, são evidentemente as profissões e os ramos de atuação mais pesados e estressores.
O cantor Wesley Safadão acaba de anunciar que cancelou sua agenda de shows graças a uma crise de ansiedade incontrolável, fruto de um esgotamento mental causado pela sua incapacidade de dosar o seu trabalho. O artista, hoje um dos cantores mais populares do país, promete voltar repaginado e melhor preparado para enfrentar esse mundo louco e estressante do show buziness.
Não raras vezes o alcoolismo e as drogas se tornam o refúgio inevitável para muitos atletas. A traiçoeira sensação de importância ou o pueril e frágil status que momentos fugazes ou o dinheiro propiciam, ilusoriamente materializados pelo assédio dos falsos amigos e das Marias Chuteiras, se constituem quase sempre em armadilhas perigosas e fatais para um número sempre crescente de atletas, em sua maioria de origem humilde, sem qualquer formação e sem nenhuma orientação, que, de repente, se tornam famosos e novos ricos.
Sou daqueles tempos em que se dizia dos garotos de muito potencial que, de uma hora para outra, passavam a ser relapsos, negligentes, excessivamente autossuficientes, que eles estavam carregando uma máscara pesada. “Mascarado”, gritavam muitos torcedores irritados com a postura indolente de um determinado garoto embriagado em razão dos elogios recebidos, sempre merecidos em razão do talento promissor e sempre desacompanhados dos cuidados que obrigatoriamente deveriam ser despendidos com a cabeça do jovem jogador.
A máscara era até a algum tempo atrás um problema para muitos pontual e até simples, embora preocupante e muito mais sério do que a vã filosofia de gregos e troianos podia imaginar. Hoje, com certeza, a máscara é apenas um dos muitos e graves problemas do futebol moderno.
Um dos mais complexos problemas dos tempos atuais e, com certeza, o mais importante há tempos nos interiores atleticanos é o distanciamento e o desconhecimento cada vez maiores do alto comando dos clubes das entranhas e dos pormenores do esporte bretão.
Quanto mais se precisa conhecer as manhas do mundo da bola e a alma do boleiro, mais e mais o lado negocial do esporte se impõe e os atletas são vistos como números. E, claro, medidos pelos números ($) que podem gerar. Seja no elenco profissional, seja nas categorias de base, os reflexos da utilização indevida e insensível dos algorítmicos são facilmente detectáveis e aferidos pelos gigantescos prejuízos esportivos, financeiros e, em muitas ocasiões, também morais que o Atlético vem acumulando ao longo dos tempos.
Não canso de repetir que o futebol não tem par no mundo corporativo. O esporte mais popular do planeta tem nuances e variáveis que nenhuma outra organização, seja da iniciativa privada, seja do poder público possuem. Assim, o futebol exige de seus gestores uma expertise sem igual para que possa render os melhores frutos. Os clubes de futebol, não atoa, são na sua origem em todo planeta associações desportivas que carreiam a paixão de milhões e milhões de aficcionados.
Os resultados esportivos são, por excelência, o carro chefe, a razão e os objetivos nobres a serem perseguidos por qualquer clube de futebol. O lado empresarial e mercantil do futebol, hoje um negócio multibilionário e complexo, visto por muitos como a salvação da lavoura para os vários clubes insolventes e/ou falidos mundo afora, pode ser também o fim do futebol que conhecemos e que capturou os nossos corações.
Se de um lado, muitos treinadores tentam driblar os calendários malucos e as exigências cada vez mais cruéis e asfixiantes que o futebol moderno impõem aos seus atletas, ora fazendo rodízios, ora exigindo a contratação de reforços que possam, mais que qualificar o grupo, dar-lhes condições de escalar o melhor time para cada jogo e para cada adversário, de outro é preciso que os dirigentes entendam que os jogadores, como seres humanos que são, têm limites, são diferentes entre si e, como tal precisam ser cuidados.
Quantas Simones Biles e quantos Wesley Safadões vestiram preto e branco e nunca tiveram a menor chance de dar uma parada, se repaginar, cuidar de si e de sua saúde, e depois voltar e entregar tudo o que o seu talento e o seu potencial indicavam? Quantos garotos de potencial inescondível tiveram os seus sonhos frustrados e sequer conseguiram subir aos palcos ou nos tablados do mundo da bola vestidos com o manto sagrado?
No artigo “O QUE ESTÁ ACONTECENDO NO MUNDO DA BOLA E O QUE O ATLÉTICO TEM COM ISSO”, publicado aqui nesta coluna em 5 de setembro passado, escrevi “que o esporte bretão está passando pela mais radical transformação de sua história e que só serão protagonistas e hegemônicos os clubes que se prepararem para esta nova era”, o que certamente ainda não foi percebido por muitos dirigentes e nem por uma infinidade de torcedores deste esporte que mexe com milhões de corações em todo o mundo.
E AÍ, ATLÉTICO? Quando e como é preciso cuidar de seus atletas? Assim como esta parada (data FIFA) veio em hora certa e as folgas são essenciais, é preciso que o comando atleticano também dê uma parada, repense seus conceitos e redirecione as suas diretrizes. A base e o elenco profissional agradecerão. E a massa só terá motivos para comemorar.