Da agonia ao êxtase: o resgate de um time CAMpeão!
Por Max Pereira @MaxGuaramax2012
É CAMPEÃO!!! Milhões de vozes atleticanas gritaram essas duas palavras em todos os cantos do planeta. O mundo alvinegro regurgitou de alegria e, numa catarse absurda e deliciosa, vingou-se das agruras do dia a dia e, claro, dos momentos ruins que o próprio Atlético tem proporcionado aos seus torcedores desde aquele mágico ano de 2021.
Se os torcedores azuis verteram lágrimas doídas e plenamente justificadas em razão da perda de um título que lhes escorregou cruelmente das mãos, saibam todos que muitos atleticanos também choraram, porém de felicidade e de gozo.
Ganhar de um rival e, principalmente, conquistar um título com essa vitória, é tudo o que um torcedor apaixonado quer. E de virada é muito mais gostoso. Não importa que os adversários e aqueles outros que não gostam do Atlético, ruminando a dor da derrota, chamem o campeonato mineiro de rural e tentem menosprezá-lo.
Em uma das decisões mais intensas e, para o Atlético, mais complicadas emocional e mentalmente dos últimos tempos, o maior campeão de Minas chega ao seu título de número 49, conquistando pela terceira vez em sua história um pentacampeonato consecutivo.
Não fossem as indisfarçáveis e crônicas antipatia e má vontade para com o Atlético de alguns formadores de opinião das mídias local e de fora do Estado que apontavam o rival favorito e virtual campeão, eu diria que, considerando as campanhas dos dois times neste Mineiro e os claros e impossíveis de se esconder problemas atleticanos, estes analistas estariam se guiando pela lógica e até pelo merecimento.
Mas, graças a os céus e aos deuses do futebol o imponderável é marca indelével no futebol e o que parece impossível por vezes se materializa de forma categórica e inquestionável. A lógica do futebol é ilógica, é traiçoeira. A bola é cruel e o futebol, por tudo isso, fascinante e apaixonante. Não canso de repetir que, não sem razão, o futebol é o esporte mais popular do mundo.
Mas, se estamos falando de Atlético, o mítico e o místico não devem e nem podem ser desprezados. Ah! Deus é atleticano diria a velha e saudosa Zulmira, aquela atleticana que não entendia de futebol, mas de Atlético tinha doutorado e NBA. E para Ele,
que tudo pode, lembrava ela, nada é impossível.
Se a Massa não estava lá de corpo presente, ela lá se fazia sentir em espírito, em energia, em fé e em esperança. Claro, também, que alguns poucos infiltrados que lá estavam, silenciosamente canalizavam a energia e a força emanadas de onde quer estivesse um atleticano.
A reação e a comemoração dos atletas alvinegros a partir do momento em que o árbitro paulista Flávio Rodrigues de Souza apitou pela última vez encerrando o jogo, foram emblemáticas e autoexplicativas. Havia um quê de desabafo mesclado com um imenso alívio e temperado por uma felicidade incontrolável.
Afinal, o time da torcida que venceu o vento mais de uma vez, derrotou-se a si mesmo, i. e., enfrentou e venceu as suas próprias idiossincrasias e exorcizou os seus demônios. O resgate de um time campeão é com certeza o maior dividendo desta conquista. Uma conquista que tem o condão de trazer de volta a confiança e elevar a autoestima.
É nas categorias de base que o jogador em seu período de formação aprende a ser campeão, a querer ser campeão e a gostar de ser campeão. Não à toa os jogadores atleticanos comemoraram como se fossem juvenis.
Venceu o time mais qualificado individualmente, cujo treinador merece um aparte especial. Ousado, corajoso, visceral e carismático Milito foi indiscutivelmente peça fundamental nesta conquista. Apesar do desastre da etapa complementar do jogo de ida, doído para os atleticanos e explicável à luz de vários fatores, o treinador argentino não só não recuou em suas ideias, como também hipotecou à comissão técnica permanente e aos seus jogadores uma confiança absurda.
A presença ativa de Lucas Gonçalves no banco diante do Caracas na estreia da Libertadores e o formar uma zaga insuspeita com Saravia e Jemerson no momento mais crucial do clássico, foram atitudes que merecem fartos elogios. Saravia e Jemerson foram gigantes. Ao falar sobre o polêmico, contestado e odiado por muitos, zagueiro atleticano, Milito disse uma palavra: extraordinário. E não é preciso dizer mais nada.
Permanecer boa parte do jogo como o único zagueiro de ofício em uma decisão tão tensa com esta não é para muitos. E Jemerson brilhantemente deu conta do recado. Aqui, devo confessar que, ao ver aquelas alterações, duvidei da sanidade mental de Milito.
A fase mais pesada do ano apenas está se iniciando. Serão três competições intensas de características distintas disputadas simultaneamente e intercaladas com viagens de logísticas complicadas e espremidas em um calendário insano. Milito, que já deu mostras que não gosta de repetir o time de um jogo para o outro, vai ter que poupar e rodar a equipe.
Diante deste cenário, algumas lições devem ser tiradas destes três primeiros meses do ano e, claro, desta decisão contra o rival. Alguns jogadores já se mostram perigosamente exauridos. Hulk que, pela vez primeira admitiu estar cansado, morreu fisicamente a partir do último terço do jogo. A média de idade dos atletas mais utilizados até agora é elevada e o emocional claramente dançado pesam.
As arbitragens e a relação jogadores/homem do apito, particularmente a do incrível herói atleticano, é preocupante. Nos dois jogos da final mineira aconteceram lances objeto de decisões do árbitro e do VAR que justificadamente incomodaram aos atleticanos e que poderiam ter mudado a história dessa decisão.
Falo do pênalti claríssimo sobre Hulk no jogo de ida não assinalado, do pênalti não marcado em Bataglia no segundo jogo e da falta também não marcada sobre o mesmo Bataglia no início do lance que originou o ataque que resultou no gol azul no jogo da volta. Nada disso, porém, retira os méritos do adversário e impede o reconhecimento de o Atlético foi mal no segundo tempo do jogo da Arena e em grande parte da partida do Mineirão.
Aqui dois alertas para o comando atleticano: primeiro, o futebol dos tempos atuais exige cada vez mais uma ação enérgica, concreta e pontual no jogo dos bastidores. E segundo, este resgate da confiança e da autoestima só trará frutos perenes com trabalho e muitos cuidados. Ou seja, é algo que tem que ser continuamente retroalimentado.