O que está acontecendo no mundo da bola e o que o Atlético tem com isso
Por Max Pereira @Pretono46871088 @MaxGuaramax2012
Que o futebol se transformou em um negócio multibilionário e complexo de dimensão planetária não é novidade até para o mais incauto dos observadores. Mas, que o esporte bretão está passando pela mais radical transformação de sua história e que só serão protagonistas e hegemônicos os clubes que se prepararem para esta nova era, certamente ainda não foi percebido por muitos aficcionados deste que é o mais popular esporte do mundo.
Quem não se estruturar para estes novos tempos, se muito, se tornará apenas um mero coadjuvante. Os grandes clubes europeus que nas últimas décadas já vem investindo na captação de jovens promessas ao redor do planeta, particularmente na América Latina e na África, a partir de agora e, mais do que nunca, irão ter que se reinventar.
O até então chamado mercado primário do futebol, alvo do sonho de milhões e milhões de jovens e até de atletas já consolidados no futebol de seus países, como não poderia ser diferente, fatalmente não passará impune diante do surgimento de dois outros pólos, tão ou mais poderosos e pujantes.
O futebol árabe vem nestes últimos anos se transformando na nova meca do esporte. Sedutores, trilhardários e a bordo de um projeto ousado que visa mostrar ao mundo uma Arábia moderna, aqui entendida como região e comunidade, os clubes árabes estão contratando praticamente todas as maiores estrelas do futebol mundial.
Jogadores e treinadores que há pouco tempo atrás respondiam pelo fulgor do futebol europeu estão descobrindo um mundo novo que inevitavelmente já está modificando radicalmente os paradigmas do esporte em todo o planeta. E esse fenômeno não tem volta.
A última Copa do Mundo, disputada na Arábia Saudita, foi apenas um preâmbulo para esta revolução que o mundo árabe já está provocando no esporte mais conhecido e mais amado nesse mundo de meu Deus, como diria a velha Zulmira, aquela atleticana que não entendia nada de futebol, mas enxergava coisas que ninguém mais era capaz de ver.
Curiosamente, aquele que nos últimos anos tem sido apontado como o melhor jogador da atualidade fez um caminho diferente. Lionel Messi, ao contrário de Neymar, Cristiano Ronaldo, Benzema e de outros craques consagrados, desembarcou em Miami, sonho de consumo de muitos brasileiros e de outros tantos irmãos de origem latino-americana.
A MLS, Major League Soccer, a Liga norte-americana, enxergando o enorme potencial de mercado do “SOCCER”, como o nosso futebol é chamado e conhecido nas terras do Tio Sam, também começa a apostar em nomes de forte apelo midiático e popular.
Não sem surpresa, a programação dos canais esportivos de todo o mundo começa a ser recortada por transmissões tanto dos campeonatos árabes, quatro das competições patrocinadas pela MLS, contratados a peso de ouro. Contratos de alguns bilhões de dólares estão sacudindo o mercado das transmissões televisivas, que definitivamente já está em uma nova era.
E também não é de se estranhar que se comece a ver, aqui e ali, muitos garotos usando cada vez mais camisas de times árabes, em especial a do Al-Hilal, clube do Neymar, do Al-Nassr de Cristiano Ronaldo e a do Inter Miami, equipe do argentino Lionel Messi e cada vez menos os mantos do Barcelona, Real Madrid, Chelsea, Manchester, PSG, etc..
Diante de tantas transformações e, considerando que a SAF atleticana por si só já representa isoladamente um Atlético inteiramente diferente, seja para o bem, seja para o mal, daquele que conhecemos e aprendemos a amar, fruto destes 115 anos de uma existência indiscutivelmente rica e fantástica, que Atlético é esse que se projeta, dentro e fora de campo, a partir de agora?
Será um Atlético realmente antenado com esta nova era do futebol? Ou será a perpetuação deste Galo de hoje, perdido e procurando o seu lugar no esporte bretão? Ou ainda será apenas um mero coadjuvante nestes tempos bravios e de muitas transformações? Quem viver verá.
Confesso que tenho muitas dúvidas e muitos receios. E, também, não seria tolo e nem presunçoso para arriscar qualquer previsão. Qualquer exercício de profecia é temerário. Para meu alívio, Nelson Rodrigues dizia que só os profetas veem o óbvio.
E me parece claro que as perspectivas para a grande maioria dos clubes brasileiros, o Atlético entre eles, é preocupante. Embora o medo seja uma variável indelével e impossível de ser reprimida no cotidiano de cada um nós, entendo que temer e antever um futuro complicado para o Galo vai além dos meus receios e é mais óbvio do que a própria obviedade.
Se de um lado, os clubes brasileiros de modo geral e, particularmente aqueles que já constituíram as suas SAF’s, estão enxergando os seus torcedores como clientes, ainda que isso signifique corromper preocupante e significativamente o espectro cultural e histórico do torcedor tupiniquim, de outro, está claro que grande parte dos nossos dirigentes, incluindo alguns dos diversos atores que compõem o chamado sistema futebol brasileiro, ainda não sabem como lidar com este novo “consumidor” do esporte.
Nesse mundo moderno em que se lê e se escuta com atenção e prazer cada vez menores e no qual os nossos jovens estão cada vez mais condicionados pelas redes sociais e pelas “facilidades” tecnológicas, o futuro se mostra cada vez mais tecnicista, robótico, assexuado e onde o prazer definitivamente se derivará daquilo que os algorítmicos podem oferecer.
E é isso que os jovens de hoje procuram cada vez mais. Como, então, um time que pratica um futebol que raramente enche os olhos de seu torcedor, o trata como um reles consumidor, explora os seus sonhos e, ao mesmo tempo, o faz quase sempre ruminar o mantra do sofrimento, manterá fiel o torcedor do futuro?
Os nossos país e avós, eu e muitos atleticanos de várias gerações, fomos formados e cozidos na dor e na alegria, no sol e na chuva, na derrota e na vitória. Que os não atleticanos me perdoem, mas não existe nenhum outro ser humano na história da humanidade que tenha se moldado navegando da agonia ao êxtase e do encantamento à angustia extrema do que um galista apaixonado. Mas, e a garotada que vem por aí, aquela formatada pelos algorítmicos?
Enfim, diante das poderosas exigências mercadológicas e tecnológicas que os novos tempos já começam a impor, o que esperar deste Atlético? Qual será o futuro do futebol brasileiro e o do Glorioso em especial, em um país onde os clubes não conseguem praticar o Fair-play, usam e abusam do doping financeiro e formar uma Liga que conduza o esporte de forma holística, minimamente respeitosa, equânime e profissional é hoje muito mais que uma simples utopia?