Por que o Atlético teve marcas tão expressivas em relação aos passes na estreia na Libertadores e o que isso representa e indica sobre o time que está nascendo

Por Hugo Fralodeo
5 abr 2024 20:13
De um time que parecia ter medo da bola, em 11 dias, nove treinamentos e dois jogos, o Atlético foi ao recorde de tentativas e acertos de passe em um jogo de Libertadores nos últimos dez anos. Sim, impressionante.
Na goleada por 4 a 1 sobre o Caracas, foram 791 passes tentados, com 92% de aproveitamento, o que representa 728 passes completados. Contando só a primeira etapa, foram 391 passes certos (94%), também o maior índice de acertos em um tempo de partida na principal competição sul-americana de clubes registrado no mesmo período.
Em dado momento do primeiro tempo de jogo na Venezuela, inclusive, o Alvinegro chegou a ter a posse de bola em 88% do tempo. No geral, o Atlético teve a posse em 73% dos 90 minutos. Algo que seria inimaginável há algumas semanas.
Por que Milito conseguiu mudar a mentalidade do seu elenco tão rápido? Mais importante até, por que o grupo de jogadores, além de assimilar as ideias do treinador com felicidade, foi capaz de executar, ainda que com muita margem para melhora, tais conceitos de forma praticamente instantânea? Pois bem, assim como passes, há a resposta curta e a resposta longa (te peguei, né?! HAHA).
Brincadeiras à parte, a reposta mais simples se refere à qualidade dos atletas, que foram reunidos na Cidade do Galo por um treinador com ideias similares. Lembremos que o elenco foi montado por Eduardo Coudet, entre o final de 2022 e a metade de 2023.
Os zagueiros Bruno Fuchs e Mauricio Lemos, por exemplo, foram contratados justamente pela qualidade acima da média no fundamento primordial. O volante Battaglia, idem. Diversos outros jogadores do elenco atual chegaram ao Atlético por tratarem bem a bola, o que ajudou o Mariscal a cortar um pouco de caminho.
Para a resposta mais longa, precisamos analisar o trabalho nos treinamentos. Segundo Hulk, quando Milito passa uma instrução, ele passa também o motivo que o fez pedir tal coisa aos jogadores. Pensando também por esse lado, significa que o argentino explicou ao elenco as vantagens de se ter a bola.
Primeiro, óbvio, se você tem a posse, significa que seu adversário não tem. Segundo, mas não menos importante, com a bola, você controla os seus movimentos e os movimentos do adversário. Se você controla todos os movimentos do jogo, seus jogadores terão mais condições de dar opções de passe, o que, naturalmente, torna a tarefa de passar algo mais fácil, uma vez que o atleta terá tempo de escolher a melhor opção e não terá de desperdiçar a bola.
Quando há um erro de passe, a culpa raramente será de quem deveria recebê-lo. Veja mestres quando o assunto é a circulação da bola: Xavi, Iniesta, Busquets, Xabi Alonso, Rodri, Pirlo, Toni Kroos… todos estes têm algo em comum: acima do talento, o segredo destes craques é o tal do jogo apoiado. Ou seja, tudo tem a ver com o posicionamento. Você pode ser o melhor passador do mundo, mas sempre dependerá da posição que se encontra o seu companheiro.
Xavi, por exemplo, disse certa vez que, se ele vê que um companheiro está em pior condição que a sua, ele mantém a bola. No contrário, se o melhor caminho para o prosseguimento da jogada for o passe, ele entrega a menina sem problemas. Algo inegociável para o cara que mudou e moldou a forma como se enxerga o meio-campista, ele não vende seus colegas.
Voltando para o Galo, tudo o que aconteceu no Estadio Olimpico de la UCV só foi possível porque Milito mostrou a seus jogadores onde eles deveriam estar e como eles deveriam se movimentar para estar nesses lugares no campo. Junto com o natural gosto pela bola no pé da maioria dos 33 nomes que ele tem à disposição, é juntar, literalmente, dois mais dois.
Não sei se a menor distância entre dois pontos sempre será ou não uma linha reta. No caso do Atlético, a menor distância entre dois jogadores sempre será um passe completo.
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