Onde foi que Milito errou?
Por Hugo Fralodeo
8 ago 2024 – 13:13
Como esperado, o Atlético fez sua obrigação. Sem maiores esforços, o time dominou o 12ª colocado do Brasileirão da Série B na Arena MRV, não permitindo sequer uma finalização ao gol de Everson, garantindo sua vaga nas quartas de final da Copa do Brasil, fazendo dos últimos dias mais uma oportunidade perdida de quem deveria ter ficado calado.
“Agora o Alvinegro voltou, não é mesmo? Esse é o Galo!” Dirão os iludidos de que a “pressão” deu resultado e a vitória em um “jogo completo” só veio pela fragilidade do adversário combinada à necessidade urgente do time mostrar que a chama não se apagou. Pois é, você está errado. Mas não é o único.
De uma hora para outra, tudo ficou muito bom, tudo ficou muito bem. Só mais um dia nessa ciranda de maluco que é o futebol brasileiro. Há quem não caia nesses papos. Felizmente, Gabriel Milito deixou de ser um deles. O homem errou muito nos últimos dois meses, nu! Sua postura e expressão durante e após a partida me deram a clara sensação de que os erros ficaram em Criciúma. Estou tão tranquilo e tão contente.
Muitas vezes não tem jeito, o “errador” precisa se ligar por ele mesmo. Não adianta dizer, não adianta apontar, não adianta gritar, brigar, afastar, se aquele que erra não enxergar e aceitar seus defeitos por si, ele não dará o passo rumo à aceitação e, consequentemente, ao processo de mudança. Se trata de uma longa e sinuosa estrada, eu bem sei.
O comandante, como sempre, foi claro ao dizer que conversou muito com seus atletas depois da última partida, trabalhando os aspectos que deveriam ser corrigidos e os que deveriam ser melhorados. Quando você tem humildade e capacidade para aprender, não é tão difícil analisar. Veja, eu fui capaz de “prever” a titularidade de Cadu. Quarta passada, sem querer simplesmente estar certo, foi muito fácil projetar que nada havia mudado, só quem tem um joinha como mestre não pôde ver.
A vitória do Atlético sobre o CRB foi autoritária, soberba, dominante e, sobretudo, emblemática. Não pelo resultado, pela exibição, ou pela confirmação de alguns pontos importantes do que este time será e apresentará daqui para frente, mas por dividir águas para Milito, que não tem mais permissão para errar.
Milito errou ao confiar que seu início quase perfeito, a receptividade da Massa ao seu método de trabalho, modelo e ideias de jogo, sua educação, clareza, prestabilidade, humildade, raça e vontade de vencer jogando bem seriam suficientes para lhe garantir o tempo e a tranquilidade necessários para que ele pudesse construir seu time.
Milito errou ao acreditar que os resultados do início lhe compraram crédito e conferiram esse tempo. Errou ao imaginar que, quando dizia que seria mais importante ter apoio nas adversidades, estivesse preparando torcedores e imprensa, de quem pediu respaldo, para o eventual tempo ruim.
Milito errou ao assumir haver a compreensão de que ele recebeu terra quase arrasada e, com o primeiro trimestre desperdiçado nas mãos do antecessor, está em maio na sua linha do tempo, com pouco mais de quatro meses de trabalho, com 30 jogos nesse período.
Milito errou ao dizer que não priorizaria nenhuma das três competições, blindando jogadores e torcida da possibilidade de não conquistar a Libertadores, o objetivo claro do Clube na temporada, algo que todos sonham, dizem e se esquecem, a depender da conveniência.
Milito errou ao ter se convencido de que não precisaria comer um quilo de sal para entender de verdade como funciona o “pais do futebol”. Errou, porque, pelo menos para nós que entendemos, ficou claro que Milito não errará mais.
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* Este texto é opinativo, de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do portal Fala Galo.