Por: Max Pereira
O multiverso é um termo que os cientistas usam para descrever a ideia de que além do universo observável, outros universos também podem existir. Os multiversos são previstos por várias teorias científicas que descrevem diferentes cenários possíveis – desde regiões do espaço em planos diferentes do nosso universo, até universos-bolha separados que estão constantemente surgindo.
A única coisa que todas essas teorias têm em comum é que elas sugerem que o espaço e o tempo que podemos observar não são a única realidade. Enfim, é um conceito usado para descrever o conjunto hipotético de universos possíveis, incluindo o universo em que vivemos.
O universo atleticano é rico em roteiros dignos de uma superprodução cinematográfica de ficção científica onde não aparecem aqueles super-heróis como o “Doutor Estranho no Multiverso da Loucura”, filme lançado pela Marvel, mas personagens que, ainda que não sejam nada esquisitos, nos fazem crer que de fato existe um multiverso da insanidade alvinegra, muito além do que a imaginação e a percepção do atleticano comum é capaz alcançar.
Muitas vezes discernir o real do hipotético no mundo atleticano é missão impossível até mesmo para Ethan Hunt, o mítico personagem de Tom Cruise. Tenho dito, escrito e repetido que o futebol se tornou um negócio multibilionário, complexo e extremamente injusto e cruel para a grande maioria dos clubes brasileiros, no qual diversos agentes e interesses se interagem, influenciam e redirecionam destinos, futuros, performances, temporadas, etc., para o bem e para o mal.
O Atlético, particularmente, tem uma história demarcada por crises, ora produzidas por ele mesmo dentro de seus próprios muros, ora plantadas por agentes externos. Clube (dirigentes, conselheiros, funcionários e jogadores), mídias convencional e alternativa, redes sociais, empresários, agentes de futebol, o mercado da bola, patrocinadores, parceiros, investidores, famílias de funcionários, de jogadores, conselheiros e dos próprios dirigentes, entidades que comandam o esporte, torcida, poder público, políticos, sócios torcedores e dos clubes de lazer, os outros clubes coirmãos, arbitragem e VAR, a empresa detentora dos direitos de transmissão televisiva, mercados publicitários, fornecedores de material esportivo e de materiais diversos, prestadores de serviços e bancos, formam um multifacetado conjunto de agentes que, com graus de influência e poder variado, vêm escrevendo a várias mãos a história do clube, uma história tão rica e gloriosa, quanto turbulenta e sofrida.
Em um mundo globalizado e nesses tempos de cultivo do ódio e da intolerância, onde a comunicação e a informação sem conteúdo e sem qualquer comprovação varrem o planeta em segundos, a indústria das Fake News floresce e corrói consciências, corrompe almas e contamina ambientes. Nesse cenário, perverso, hostil e intrincado, saber se comunicar é uma arte e é fundamental à saúde organizacional e financeira de qualquer ente, de qualquer instituição. E, no futebol, não é diferente.
Um dos grandes desafios históricos e quase sempre insuperável para o Glorioso tem sido ao longo dos tempos a sua comunicação institucional. E, por vezes, o que é muito preocupante, a palavra do clube é colocada em xeque e suas notas oficiais se tornam motivo de chacota, de piada. Qualidade e credibilidade formam um binômio poderoso na comunicação institucional de qualquer organização ou entidade, infelizmente raramente cultivado no clube.
O que é Fake News e o que é informação séria, confiável? Qual é o universo real do Atlético neste multiverso de informações contraditórias que constantemente pululam tanto na mídia tradicional quanto nos veículos e perfis alternativos, muitas delas induvidosamente vindas de fontes diversas ligadas ou de dentro do próprio clube? Por exemplo, a Cidade do Galo e a Arena farão ou não parte do pacote da SAF? Ora o clube indica uma hipótese, ora alguém falando em nome da instituição diz exatamente o contrário. Tática? Estratégia da confusão?
Há ou não um pacotão de dispensas como noticiado recentemente na grande imprensa? Fulano, beltrano, ciclano e outros mais estariam mesmo fora dos planos de Coudet como se alardeou recentemente? O clube cuidou de desmentir rapidamente está “notícia”, mas não negou que pensa promover as saídas de alguns jogadores para reduzir a folha de pagamentos, como vem sendo “vendido” aqui e ali. Nesse sentido, um “recado” para a Massa soou tão mal quanto a “informação” do pacotão: “Não se preocupem. Vão sair apenas jogadores que não vão deixar saudades”. O que inicialmente era agressivo com alguns jogadores, se generalizou.
Seria de estranhar que esse disse-me-disse possa ter desagradado aos jogadores tidos como dispensáveis, aos seus empresários, aos seus companheiros de clube e ao próprio treinador e à comissão técnica? Entendo que não. Os jogadores alvo da “notícia” caem na boca do povo e perdem valor de mercado, o ambiente interno se corrompe, a confiança entre jogadores e funcionários e os dirigentes se esmaece e os resultados dentro de campo passam a indicar que algo de muito ruim e preocupante pode estar acontecendo nos interiores do clube, um filme de terror infelizmente repetido com uma frequência indesejável na história do Atlético.
E se o galista apaixonado queria paz e sossego, outra “notícia” veiculada na grande mídia e também nas redes sociais que dava conta de que Calebe só estava jogando no time titular para que ser valorizado e para que o interesse do Fortaleza pelo jogador fosse aguçado, tirou-lhe a tranquilidade de vez. Enquanto isso, em um universo paralelo, era garantido que Calebe havia manifestado o desejo de deixar o clube em razão da falta de oportunidades e que Coudet, sempre ele, havia vetado a sua saída e lhe garantido oportunidades de jogar e evoluir, o que de fato, independentemente da verdade dos fatos, está acontecendo.
E Vargas? É novamente a bola da vez? É verdade que o Atlético não pretende mantê-lo em razão do alto salário para um jogador reserva? Ou ele não estaria mesmo nos planos de Coudet? Ou quem sabe e, conforme informa o Internacional, ele teria sido oferecido ao clube gaúcho pelo empresário André Cury, sempre ele, insatisfeito com a falta de oportunidades para o seu jogador, um reserva de luxo? Ou ainda e, na verdade, ele vai permanecer no Atlético e outros jogadores serão vendidos para garantir a tal redução da folha de pagamentos, como aventou um conhecido meu formador de opinião?
Enquanto vai pescando os seus bagres por aí, Nathan, o Pescador, continua condenado ao purgatório alvinegro, a Zona Fantasma preta e branca, por ter cometido um crime de lesa pátria: não quis se transferir para o Fluminense novamente e manifestou publicamente o desejo de permanecer no Atlético.
Vai ficar lá até aparecer um clube que queira seu concurso e para o qual ele se disponha a ir ou, quem sabe, até quando encher o saco e seu Empresário recorrer à justiça do trabalho com todos os elementos que possam comprovar que o clube tem de fato cerceado o seu sagrado direito de trabalho? E, caso essa última possibilidade se materialize, terremotos e maremotos poderão implodir o universo atleticano. Quem viver, verá em qual mundo paralelo Nathan se materializará. Se preto e branco, se de outras cores.
Enquanto isso, Coudet vai utilizando as suas entrevistas para mandar recados para a torcida e, principalmente, para os dirigentes: “gente, preciso de tempo para me adaptar e trabalhar, os jogadores precisam de tempo e de trabalho para evoluírem e render em nível de excelência e o meu time ideal é o melhor que posso escalar antes de cada jogo”.
“Vamos tentar que todos os jogadores tenham participação. Alguns ainda tiveram poucos minutos, outros ainda não tiveram. Mas todos vão participar. O grupo é o mais importante. Todo o grupo vem trabalhando em grande forma e vamos necessitar de todos”, resumiu.
“Assim, um dia um vai ter chance, outro dia vai ser o outro. Como falei antes, são muitos jogos no ano e necessitamos que todos estejam bem. Creio que a competitividade interna eleva os níveis individuais e é isso o que buscamos”, completou.
Ah! Não sei porque, mas, ouvindo Coudet, me lembrei do tal elenco “largo” que o Turco Mohamed tanto defendia.
E quando o treinador atleticano criticou a quantidade elevada de jogos e a qualidade ruim dos gramados brasileiros, fator determinante para a escolha dos jogadores que deverá mandar a campo a cada partida, lembrei-me curiosamente das declarações de Nacho Fernández em seu retorno ao River Plate.
Ou, ou, ou, ou, … os universos paralelos atleticanos pegam fogo e vão se incendiando e queimando uns aos outros.
SAF, Arena, dívidas, crises, salários e outras remunerações atrasados, demônios que se materializam e transformam o multiverso alvinegro em um inferno.
Ou, ou, ou, ou…. Ou tudo, ou nada, eis o multiverso atleticano. Ser ou não ser, é ou não é, eis a questão, como Sheakspeare, se entre nós ainda estivesse, contaria a história atleticana nos palcos da vida.
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