Os apitadores são ruins, o Atlético deve se mexer, mas é fundamental não se deixar levar pelos devaneios de quem chegou na brincadeira ontem

Por Hugo Fralodeo
Durante toda a minha formação como Atleticano, ouvi e vi o quanto o Atlético foi sistematicamente prejudicado pelos donos do apito. Eu vi nascer o “mantra” do Galo “contra tudo e contra todos”. O negócio é que a gente foi se acostumando, tanto com o fato de contra nós, o apito sempre soar para o lado de lá, quanto a mascarar nossos fracassos com a má vontade da “classe” de árbitros, que, claramente, considerava o Alvinegro um time “chorão”.
Eu estou aprendendo. Sem enrolo, não vou ser um dos babacas a dizer que o Galo não perdeu para o Palmeiras por causa da arbitragem. A verdade é que não tivemos a chance de saber, porque o senhor Rodrigo José Pereira de Lima estragou um jogo que poderia ter sido um dos melhores do Campeonato Brasileiro.
Eu digo “nós” porque eu estou no balaio. Admito, eu era um dos conspiracionistas que defendiam a tese do atraso do Atlético até 2013 ser obra dos assopradores. Ainda bem que não há provas do que andei escrevendo pela internet em 2012 e 2015…. Depois, claro, fui um dos “evoluídos” que se converteu à ideia de que o problema era o próprio Clube e repeti muitas vezes, é verdade, que “o Galo não perdeu porque não foi marcado tal pênalti, porque fulano não foi expulso, porque tal impedimento foi assinalado…”. As merdas que a gente vai fazendo pela vida nos ensinam que as coisas devem ser equilibradas, nem tanto ao céu e muito menos ao inferno. Por essas e outras, desde pouco antes de me profissionalizar como pitaqueiro, resolvi não mais comentar sobre arbitragem e me ater ao campo e bola.
Pouco humilde, me considero um estudioso. Obcecado por entender todas as nuances do jogo – assim como todos que se prestam a falar sobre deveriam -, eu precisei entender a regra, porque infelizmente a arbitragem pertence ao futebol. Por isso, eu sei que algumas decisões tomadas na noite de ontem na Arena MRV foram questionáveis. O toque na mão de Cadu e a marcação do impedimento de Paulinho, que parece ter saído do próprio campo – e perdeu o gol, diga-se de passagem – são pontos gritantes, principalmente quando comparados a lances semelhantes não marcados a favor. Falta de critério? Dois pesos e duas medidas? Sim. Querendo ou não, me esforçando muito para ser justo, abre margem para duvidar das intenções. Em todo caso, eu quase sempre prefiro acreditar na falta de qualidade da arbitragem, que não é profissional. E isso é culpa do Atlético e seus pares. Os clubes já sabem que a Confederação Brasileira não se preocupa com o seu fim, o futebol. Enquanto cada um defender apenas e exclusivamente o seu interesse, vai continuar essa merda aí. A verdade é essa.
Eu sempre tive dificuldade com a denominação de “árbitros” e “juízes” aos condutores de partidas de futebol. Arbitrar e mediar é algo bem diferente do que vem sendo praticado por eles. Portanto, confesso que começou de maneira jocosa, mas prefiro me referir às “zebras” como apitadores, porque os atos do árbitro e do arbitrário são coisas completamente diferentes. Eu cutuco, proponho a mudança, mas não trago a solução. Eu não sei o que fazer. Já pensei em importar profissionais de outros mercados, desenvolver um livro de regras mais completo e claro, a implementação da tecnologia automática, mas parece não ter saída. A única certeza que tenho é que enquanto houver margem para interpretação, enquanto o sujeito tiver o livre arbítrio de errar, ele o fará, porque ele é ruim e muito mal preparado. Com todo respeito às pessoas, mas não entra na minha cabeça que alguém possa escolher apitar jogos de futebol por livre e espontânea vontade. Não tem vantagem alguma. Essa turma deve ver através de alguma dimensão que eu ainda não sou capaz de enxergar. Explicaria muitas coisas. Eu não julgo. Queria eu acertar toda vez. Queria ainda mais, daria qualquer coisa para corrigir meus erros. Eu que erro tanto, não sou capaz de acreditar que alguém vá lidar de forma tão tranquila com as consequências de um erro.
Beleza, fica claro que Hulk solta um “caralho”. Não sou muito mais novo que ele e também falo e faço bobagem de cabeça quente e me arrependo minutos, até segundos depois. Apesar de apoiá-lo em todas as vezes que ele se envolveu em atritos com a arbitragem, porque vejo um cara defendendo nossas cores e escudo com paixão, não significa que ele tenha tido razão em todas essas vezes. Mas ontem, o cara estava disputando a jogada contra dois adversários, no chão, com o homem do apito de frente para o lance, deixando o jogo correr e só apita quando vê que realmente era impossível o camisa 7 levantar e recuperar o domínio da bola, mas em segundos levanta dois amarelos e acha o vermelho no bolso de trás. Como já está dito, abre margem para quem quiser acreditar no que quiser acreditar. Eu vi e revi as imagens até entender o que estava acontecendo. Eu achei que a falta tinha sido marcada contra o Galo e que Hulk deveria ter pensado a mesma coisa. Antes de conseguir enxergar o que o artilheiro falou, eu achava inexplicável o primeiro cartão (porque o segundo foi uma atrocidade). Quando entendi o que estava acontecendo, fiquei incrédulo, assim como todos em campo, inclusive alguns dos jogadores do Palmeiras. Como eu disse no “episódio Daronco”, é muito fácil defender a narrativa quando ela está a seu favor. Pereira Lima fez o que quis em campo, escreveu o que quis na súmula, como se fosse só mais um jogo qualquer.
Sim, o Atlético precisa fazer alguma coisa. Eu tenho certeza que o comitê de futebol da SAF do Clube teria o apoio do próprio Alviverde. Leila Pereira – a melhor ”cartola” que este país já viu (assunto para outro momento) -, que não se cansa de ser transparente e manter o discurso de união pelo bem comum, não mudaria de roupa para fazer coro e agir ao lado do Galo. Está certa a indignação do Atlético. Tenho certeza que a forma como aconteceu dói mais do que o resultado. Mas, fazendo um apelo direto ao presidente Sérgio Coelho, tome cuidado com quem o senhor anda trocando ideias e escutando conselhos. Nadar nas águas que quem chegou na brincadeira agora anda nadando só trará ainda mais má vontade para o Galo. O senhor pode achar que já não adianta mais, a tal da Comissão de Arbitragem é uma piada, mas mantenha o diálogo com a CBF, vá ao STJD, intime a tal da associação dos “árbitros” fazer alguma coisa além de emitir notas constrangedoras, faça barulho, convoque outros dirigentes, inicie um movimento concreto pela mudança, que precisa partir de algum lugar. Seja o agente da revolução, não aplauda palhaços se não quiser mais ver palhaçada.
O que aconteceu na noite de segunda-feira, 17 de junho de 2024, na Arena MRV, aos 31 minutos da partida entre Atlético e Palmeiras, no encerramento da 9ª rodada do Campeonato Brasileiro, pode dar início a algo muito grande no futebol nacional. Resta ao Atlético lembrar que Thomas Jefferson, 250 anos atrás, se recusou a dar apoio aos nossos inconfidentes das Minas Gerais. Se quiser ganhar, o Atlético precisa brigar do lado certo.
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