É muito fácil defender a narrativa quando ela está a seu favor
Por: Hugo Fralodeo
Na noite de ontem, o Atlético empatou sem gols com o São Paulo e perdeu a chance de empatar com o Palmeiras na liderança do Brasileirão.
Na noite de ontem, o Atlético reclamou pênaltis em dois lances não marcados no final do jogo, empatou sem gols com o São Paulo e perdeu a chance de empatar com o Palmeiras na liderança do Brasileirão.
Na noite de ontem, o Atlético não conseguiu superar um extremamente desfalcado São Paulo, empatou sem gols no Mineirão e perdeu a chance de empatar com o Palmeiras na liderança do Brasileirão.
Com mais de um time de desfalques, São Paulo segura Atlético no Mineirão e conquista um ponto importante, muito valorizado por jogadores e comissão. Atlético perde chance de empatar na liderança do Brasileirão.
Acima, quatro das muitas formas que eu poderia ter iniciado este texto, que foi intitulado desta maneira justamente para que não ficasse claro o que eu iria dizer.
Como muitos pensam e fazem – uns com maestria, outros sem tomar o mínimo cuidado – este espaço é meu para colocar no papel os meus pensamentos sobre assuntos que eu considero pertinentes abordar. Um outro grande ponto sobre o título e a construção de um texto, neste caso opinativo, é vender ao leitor que compartilhe da mesma opinião que a sua, mais um ponto de apoio, mais uma voz, essa, por estar exposta em um veículo de comunicação, “mais importante”, e então esse leitor não se sente “sozinho”, passa a ter a certeza que o coro dele é mais volumoso e endossado por essa voz de chancela.
Pois bem, um autor vai dizer o que quiser no seu texto, batizá-lo também como quiser, justamente para o público que deseja penetrar. E, geralmente, para quem tem responsabilidade, é muito difícil escrever um texto opinativo, quando o assunto é polêmico então…. Mas vamos parar com a cerimônia:
Na noite de ontem, o Atlético não conseguiu sair do zero com o São Paulo, que fez partida, dentro de suas possibilidades, sólida, reclamou a não marcação de pênalti em dois lances e perdeu a chance de empatar com o palmeiras na liderança do Brasileirão. Sim, tudo isso, e mais, aconteceu no jogo. Aqui, abordarei todos estes assuntos e não apenas escolher o que mais favoreceria minha causa.
Vi Atleticanos reclamando da escalação de Turco, sendo que, entre os disponíveis, ele lançou a melhor escalação do meio para frente possível, uma escalação que não era possível há dois jogos. Outros zombaram do fato de alguns veículos terem citado que o Atlético perdeu a chance de encostar no Palmeiras, dizendo que, com Turco e o futebol praticado pelo time, era piada pensar em liderança. Mas, notícia é diferente de opinião, o Atlético realmente perdeu a chance de encostar na ponta e está a dois pontos do líder. Apenas um fato.
É verdade que o Atlético caiu de rendimento de alguns jogos para cá, também verdade que Turco está devendo no quesito “encontrar soluções para mudar partidas e variar o estilo”. O torcedor tem o direito à memória curta, mas não seletiva. Quem ganhou duas partidas, jogando bem, contra o Flamengo, foi esse time do Turco. Aliás, não necessariamente esse time, pois era um momento de desfalques. Neste cenário, mesmo os que mantiveram um pé atrás e os que esperaram um próximo momento de oscilação para atirar suas pedras, comemoraram e podem ter pensado que era uma virada de chave, um resgate dos melhores momentos.
Um fato ignorado é que, por mais que tenha havido uma intervenção de Turco na forma com que o time joga, esse grupo do Atlético já proporcionou grandes momentos, se conhece há anos, jogou junto mais de 100 jogos, seria só o dedo do Turco que “atrapalhou” o andamento? Os jogadores não podem se arranjar em campo para tentar encontrar essas soluções?
Outra coisa, o Atlético jogou sozinho ou teve uma equipe empenhada em fazer seu jogo do outro lado? Justamente um jogo de travar o time do Atlético, tentar afastar seus principais jogadores de perto da área e segurar o placar o máximo possível. O São Paulo foi ao Mineirão com a clara intenção de não perder, se pudesse sobrar uma bola, ótimo. Também, apesar do que digam.
“Sem meu pênalti, eu não consigo”.
No segundo lance, a bola pegou no cotovelo do defensor e, apesar da falha na explicação do apitador, não foi pênalti.
Na jogada entre Hulk e Miranda, o que está na regra é algo como: “se o defensor toca a bola primeiro, ainda que derrube o atacante, jogada normal”, portanto, se Hulk toca a bola primeiro, é atropelado por Miranda na área e cai, pênalti. Se quem enxerga Miranda resvalar na bola antes, se segura na imagem para garantir que não foi pênalti, enquanto quem vê Hulk tirar a bola do são-paulino e ser atropelado por ele, não pode ter descreditada sua afirmação de pênalti, o único argumento que os dois lados têm são essa imagem.
Atropelado e derrubado Hulk foi. A regra também fala em imprudência e força excessiva. Para mim, Hulk tocou a bola, Miranda chegou atrasado, foi imprudente ao tentar dar um bico na bola, que já estava longe dele, atropelou Hulk na área, que foi desequilibrado e caiu, perdendo a chance de prosseguir na jogada. Pênalti. (Note que enfatizei o fato de Hulk ter sido claramente atropelado).
Sobre a polêmica entre os pesos pesados, sou mais Hulk. Não é a primeira vez que há um atrito com este apitador e, como se fala nas transmissões, principalmente nas tais ‘centrais dos amigos’, a imposição física dos árbitros e estar perto do lance é considerado algo positivo. Pois é, é cada vez mais comum ver que esses apitadores que fazem questão de se impor muito, passam uma ideia de arrogância e impaciência, “qualidades” péssimas para conduzir um jogo de futebol com tamanha importância.
Foi visto quem aproveitou a oportunidade para dizer que Hulk deu mais um “piti”, que as reclamações do Atlético não estão funcionando mais, que o Atlético tem como estratégia buscar pênaltis durante a partida – o que não seria errado, pênalti está na regra. O que essas pessoas se esquecem é que, de uma hora para outra, do “nada”, se há o mínimo de chance da jogada ser considerada inconclusiva ou polêmica, a decisão passou a ser tomada contra o Atlético.
Eu não precisaria nem citar as infelizes palavras do apitador ao artilheiro. Como Hulk disse e eu estou dizendo: as pessoas precisam assumir a responsabilidade pelo que falam, mesmo correndo o risco de algumas outras pessoas não interpretarem direito. Não posso afirmar o que Daronco quis dizer, da mesma forma que não poderia usar um episódio que, apesar de resultar em condenação a Rodrigo Caetano (os supostos chutes na cabine do VAR, na partida contra o Santos, 8 meses atrás), algo que não foi provado, sequer documentado em vídeo ou áudio. Sim, ressuscitaram este episódio para embasar teses de que o Atlético pressionava a arbitragem e conseguia pênaltis. Errado para eles seria dizer que a arbitragem teria sido pressionada e agora o Atlético não “consiga” “seus” pênaltis.
Estão vendo? Em cada ponto de debate que o jogo de ontem levantou, há argumentos para criar sua narrativa. A questão é que, o futebol não é apenas jogo a jogo, pois, acredito sim que Turco escalou “mal” o time, por considerar que o próximo jogo influenciou nessa partida, o que me faz achar que, mesmo inconscientemente, os jogadores entraram receosos, principalmente com o pensamento de que a bruxa anda solta na Cidade do Galo.
Foi pênalti, para mim, claro, e mesmo que eu não entre na ideia de uma pressão contrária, não posso tirar o meu direito de suspeitar de uma pessoa individual, não é a primeira vez que este apitador em específico conduz mal uma partida do Atlético.
Por fim, qualquer justificativa que você queira dar, qualquer onda que queria entrar, qualquer história que queira contar, quando a maré está a favor é muito mais fácil pegar carona, quando a narrativa é boa para “provar” centos pontos controversos, é muito mais fácil defender esses pontos.
Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do portal.