O Mineirão estar indisponível para um clássico é tão absurdo quanto o que a gente anda vendo por aí
Por Hugo Fralodeo
É com total perplexidade que eu venho falar sobre isso. É uma coisa tão absurda, tão estupefata, surreal, impraticável, sem cabimento, sem propósito, sem razão…. É tudo tão inacreditável que eu só irei acreditar que isso realmente está acontecendo quando a bola rolar para Atlético e Cruzeiro, no primeiro clássico pela primeira divisão do futebol nacional em quase quatro anos, um jogo que promete ser quentíssimo, no PARQUE DO SABIÁ.
Me perdoem os torcedores do Triângulo Mineiro que têm uma rara oportunidade de assistir ao Atlético e ao Cruzeiro in loco – inclusive meu grande amigo Angel Baldo (aliás, ele não, pois tem um excelente motivo pra não poder ir ao jogo) -, a questão não é essa. Não se trata da localização, não se trata do Parque do Sabiá, o problema não é Uberlândia. O problema é justamente o Mineirão.
O Atlético já escolheu jogar no Independência, já escolheu mandar clássicos no Independência – inclusive um dos maiores da história, em 2014 -, assim como o Cruzeiro escolheu mandar o clássico válido pela fase de grupos do Mineiro deste ano no Horto. Veja bem, os clubes ESCOLHERAM não jogar no Mineirão por motivos bem parecidos com o que vimos hoje. Aliás, faz mais de uma década que o Galo fez do Horto uma segunda casa, justamente por conta o que o Mineirão já vinha fazendo. Vimos o que aconteceu com o Cruzeiro há alguns meses…
Até deixando a rivalidade e a mesquinharia de lado e me restringindo apenas ao fato de o maior estádio de Minas Gerais não estar disponível para os dois maiores clubes de Minas Gerais, que são dois dos maiores do Brasil e da América do Sul, disputarem um clássico centenário dos mais importantes do futebol simplesmente por consequência de um evento musical no gramado (nem vou falar sobre isso) ter sido programado antes, eu não sei nem mais o que dizer, é loucura. Eu teria mais segurança da minha sanidade se passasse pela rua e visse um poste mijando em um cachorro.
E não adianta dizer que os eventos são programados com uma antecedência maior que o calendário de jogos é formulado. Não adianta dar porcentagem de culpa à FMF nem à CBF, que, apesar de terem alguns pontos a melhorar na confecção das datas, tentaram viabilizar soluções. Nem a Conmebol e a detentora de direitos de transmissão da Libertadores, que “obrigam” o Atlético a jogar no sábado por conta do compromisso de terça (6) têm culpa no cartório. Se o futebol realmente é prioridade para o Mineirão, um evento no gramado não seria programado para uma data em que o maior campeonato nacional é corrente e um dos dois clubes que utilizam do estádio poderiam ter de jogar nele.
“Mas, Hugão, não dava para saber que isso iria acontecer e o calendário do campeonato saiu bem depois. A Arena MRV já deveria ter sido inaugurada. O Cruzeiro avisou que não jogaria no Mineirão…”. Repito, não fui eu quem disse que o futebol era prioridade para o estádio e que ele está lá para servir aos clubes de Minas Gerais. Se o futebol fosse mesmo prioridade, as multas, os contratos e o dinheiro envolvido estariam em segundo plano na conversa. O Mineirão, a “casa do futebol mineiro” tem jogado contra Atlético, Cruzeiro e todos os times que jogam no estádio. O Mineirão não está indisponível por decisões recentes de Atlético ou Cruzeiro. Atlético e Cruzeiro tomaram decisões sobre a utilizaão do Mineirão após o modelo de administração do estádio ser inviável para os clubes. O caso remete, como lembrei acima, há MAIS DE UMA DÉCADA. Se trata da mesma administração até hoje.
Eu sou músico. Sou tão músico quanto Atleticano. O prazer de estar na arquibancada se equivale ao prazer de subir a um palco ou estar no gargarejo de uma banda que eu goste. Inclusive, já fui a dois shows no Mineirão, e no gramado. Mas isso foi pré-reforma. Inclusive, me lembro bem, dezembro de 2008 e janeiro de 2010, meses onde o futebol brasileiro não tem calendário. Mas isso não viria ao caso também, pois eu não culpo quem vai ao evento, muito menos quem quis fazer seu evento no local.
O grande ponto é que o Mineirão está de pé para receber um evento neste sabadão de 2 de junho de 2023 só pelo simples fato dele ter sido erguido para comportar a imensa e apaixonada torcida do Atlético. Sim, egocentrismo. Mas é a verdade, a história está contada: sem o Atlético não existiria Mineirão. Sem a MASSA não existiria Mineirão.
E vamos ver quanto tempo ele ainda vai aguentar. O Mineirão está se matando, e rápido. Eu espero que a diretoria atual e quem estiver no comando do Atlético no futuro não nos faça passar por isso na Arena MRV. O Atlético ainda precisará jogar algumas vezes no Gigante da Pampulha mesmo quando a casa da Massa já estiver devidamente inaugurada e operante, eu sei. Tomara que seja bem pouco, só como visitante, se possível. Mas é bom o Mineirão se despedir. O Mineirão irá parecer muito mais com a imagem abaixo do que a imagem acima.
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