O ano do Atlético acabou no dia 11 de junho. Enquanto a Massa sofre, enquanto uns e outros sorteiam culpados, há quem bata nas costas e lamente não cumprir meta orçamentária
Por Hugo Fralodo
Não sou profeta do acontecido, muito menos agente do caos. Não posso dizer que eu tenha gosto em ser um daqueles que diz “eu avisei”, nem que eu vá dizer, mas eu insinuo. Porém, ao contrário de quem só aponta os erros por preferências pessoais e pelo prazer de estar certo, eu não torci contra. Aliás, algumas pessoas sabem o quanto eu me cobrei quando perdi as esperanças e tive certeza que o caminho trilhado pelo Atlético era o do fracasso. Pior, do fracasso consciente.
A comemoração exacerbada no empate diante do Libertad, a desistência do jogo depois de abrir 2 a 0 no América, a derrota vergonhosa para o Corinthians, o empate ridículo com o Goiás e a voz mansa de Felipão dando lugar à irritação nas coletivas foram os quatro sinais da chegada dos Cavaleiros de Apocalipse (En Sabah Nur), o prenúncio de que o trem tava prestes a descarrilhar.
Quando o negócio fica ruim, dedos em riste pra apontar os culpados. Aparecem as crianças pro uni, duni, tê do julgamento. Os alvos preferidos? O ex-treinador, o atacante que perde o gol, a arbitragem, o goleiro, o zagueiro que falhou em algum momento da temporada, sobra até pro principal jogador, nunca miram o alvo certo. Me sinto como em uma paralisia do sono, um transe causado pelo próprio Apocalipse (caso não tenha pescado a referência ou não conheça, um vilão dos X-Men), onde eu estou preso dentro da minha própria consciência, enquanto tento me libertar e insisto em alertar as pessoas que não me ouvem, não percbem o que realmente está acontecendo com o Atlético.
Qualquer tentativa de culpar Paulinho é !COVARDIA!. Não só pelos seus sete gols e quatro assistências nos seus nove jogos pregressos ao confronto com o Palmeiras terem classificado o Atlético à fase de grupos e às oitavas. Não, não foi o gol de Igor Gomes no Paraguai que deu a chance do Atlético jogar com o Palmeiras. Se quer um lance pra dizer que classificou o Atlético na Libertadores, foi o gol de Hulk no Peru, com passe do camisa 10. Se quer falar da queda de rendimento do Paulinho, culpe quem matou ele no campo. AF (antes de Felipão), o Arqueiro tinha 14 gols e seis assistências.
E já que falei de Hulk, essa nova onda de pintar uma decadência pro artilheiro, dizer que ele tá pipocando, atrapalhando o Atlético, além de mais um desvio de foco que vem bem a calhar pra quem tem culpa no cartório, beira a maluquice. Eu desafio qualquer um a dizer qual dos 87 tentos de Hulk com a 7 do Galo foi jogando de costas pro gol. Hulk jogando de frente, pegando na bola quando precisa definir, é um, e é outro jogador quando encaixotado entre zagueiros, laterais e volantes. Foi assim em 2021, 2022, foi e vai sendo em 2023. AF, Hulk tinha 19 gols e cinco assistências.
E é cansativo “defender” Everson, Jemerson… ou qualquer outro que vai ser mais criticado do que quem realmente deveria. É cansativo também pesar em cima Scolari. Já deu pra mim. Não vou mais criticar um trabalho que não é um trabalho de campo e se baseia na conversa. Ao contrário de uns e outros, pra não estragar o clima, não falei na hora, mas o jogo contra o São Paulo foi um ponto fora da curva, que promete ser bem tortuosa. Os dois jogos na capital paulista só serviram como lápis do discurso frágil que veio na sequência: “o time está numa crescente, vem bem, reagiu, competiu, tivemos uma grande vitória, fomos eliminados por pouco, tivemos um pênalti não marcado, a bola do jogo…”. Mas a turma tem que entender isso, ele não veio pra arrumar o time, veio pra ser escudo, veio pra melhorar o clima que foi construído pela turma que manda, não por Chacho. Ah, se os jogos fossem no campo 7 da Cidade do Galo ou nos vestiários, no avião, nos hotéis… iria ser uma maravilha. Ninguém vê que o cara não tá nem aí pra nada? Ninguém percebeu até agora o discurso derrotista? Parece até que o cara foi contratado pra preparar o terreno e dar uma notícia ruim.
Pode até ser que, em uma guinada desses jogadores que você critica, o time encontre uma vaga em G7, G8, G9… Mas, em qualquer clube do mundo que priorize o futebol, seria o momento de pensar o futuro. Ainda que se pense em não fazer mais uma mudança agora, se Luiz Felipe Scolari começar 2024 como treinador do Atlético, não será porque o “trabalho” deu certo, será só uma desculpa pra ser diferente. Turco, Cuca e Coudet deixaram trabalhos pela metade, então mantém o que tá aí, “pela continuidade”. Enquanto isso, Atleticanos discutindo entre si, gente, inclusive eu, falando muita merda no calor do momento…. Bons vilões sabem semear a discórdia entre os heróis, separá-los de dentro pra fora. Infelizmente, no futebol é diferente, os heróis não percebem a trama e vencem o malfeitor no final. No Atlético, os heróis (jogadores e torcida) sucumbem, ficam na merda, enquanto os outros lamentam que o “time” não cumpriu a meta orçamentária.
O ano do Atlético acabou no Mineirão, dois meses atrás, quando Coudet tocou o foda-se e ninguém fez nada pra tentar contornar. Enquanto o Atlético implodia, alguns procupados com votação, outros com rodízio de jogadores, outros com modos (educação) de treinador… nunca ninguém se preocupa com o mote real da coisa. Não mais me assombro ao ver esse tipo de coisa, mas não quer dizer que tenha se tornado algo mais fácil pra quem tem o Atlético como vida.
É como a gente ouve muito e vê em todo lugar, só não percebe quando acontece com a gente: “A CULPA É MINHA, EU PONHO ONDE EU QUISER”. É nesse sorteio de culpas que lá vai o Atlético descendo a ladeira, até que não haja mais Atlético, só, de acordo com o dicionário Michaelis, a empresa que detém a posse da maioria das ações de outras empresas, chamadas de SUBSIDIÁRIAS, e que LIMITA SUAS ATIVIDADS À SUA ADMINISTRAÇÃO.
–
*Este texto é opinativo, de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, o pensamento do portal FalaGalo.*