No ‘ontem de ontem’ eu era feliz
Por Hugo Fralodeo
É impressionante como existe algumas coisas, momentos e pessoas que são capazes de dominar, controlar e “manipular” suas emoções. Aliás, se algumas dessas soubessem o poder que têm sobre a gente…. Uma destas entidades é o Atlético. Atlético quando a gente tá bravo, Galo quando a gente tá de bem.
Foi um tempinho que a tabela entre Ronaldinho e Reinaldo ficou só nos meus sonhos. Eu não sabia como encaixar o São Victor na parada, mas eu consegui ver juntos os, !!!PARA MIM!!!, três maiores do Galo. Mas o santo estava lá na área comemorando um gol do Rei com passe do Bruxo. Olha a maluquice.
Gente, Guilherme metendo gol, metendo dois, o artilheiro da Arena. Correndo pra abraçar o Marques. Os dois caras responsáveis por eu acreditar no Galo e falar grosso nos pátios do Instituto de Educação. Cê coloca Renaldo e Valdir na brincadeira, chama Euller, Tardelli e Vanderlei, aí cê mexe com o menino (tá, menino, adolescente e semi-adulto) morando sempre no meu coração. A minha história com o Galo passando diante dos meus olhos, que pareciam duas poças de água. Ou, e o pontapé inicial do Dadá?! Cê tá é doido. Nu!
Não dá pra abrir um capítulo pra falar de todos os presentes, faltou gente demais também, mas o resumo da parada é que o Atlético deveria promover um jogo festivo do Galo uma vez por ano, pelo menos. Sei lá, jogo da turma das conquistas de Conmebol, da galera da Libertadores, Copa do Brasil, jogo pra se despedir adequadamente dos grandes ídolos dessa rica e vasta história que não se apaga de ontem pra hoje (por mais que se esforcem).
O negócio é que, eventualmente, o lúdico sempre tem que dar lugar ao material. Aí é que o trem descarrilha. Como tô virando a chave, reitero que o título tá escrito dessa forma propositalmente. Num dia cê tá tranquilo assistindo às Lendas do Galo, na casa da Massa, festa do caralho (não tem outra expressão pra usar), aí corta pra bendita segunda-feira, o Atlético travado no Goiás “que faz frente, não é o time que tem 12 pontos e dificilmente será batido dentro da Serrinha”. Doideira, véi. O Atlético passar um jogo inteiro sem obrigar o goleiro adversário a espalmar uma bola é um nível acima de vergonhoso. E não adianta virar e falar que arrumar um time com “uma semana” seria mágica, sendo que o que foi pedido foi tempo. Não foi uma semana que tiveram pra trabalhar e o treinador dar sua “cara”, foi uma sequência de treinos em duas semanas cheias de trabalho. Mas o que estragou foi o treino em Goiânia, né?! Aí tá certo.
A partir do momento em que o treinador aceitou assumir a responsabilidade a cobrança já tá liberada. Sem mais. Se o camarada disse que vai trabalhar, disse que o elenco é bom e confia nos jogadores, pode subir um pouquinho o tom se ele destruir um time em um mês. Felipão não pegou terra arrasada. E não adianta falar em clima de vestiário, porque aí é a constatação de que os jogadores tão “mamãezados” e a diretoria EXECUTIVA de futebol fez algo errado. Não quero falar de tática, mas um treinador com tamanha experiência não pode pegar um trabalho construído em seis meses, com suas ressalvas, e jogar tudo no lixo. Me parece que a ordem pro Felipão era chegar na Cidade do Galo e fazer tudo diferente do que fez Coudet. Não é só isso.
Também não adianta dizer que a situação incomoda a todos dentro do Atlético como incomoda à Massa. Poucos de dentro podem dizer isso. Se incomoda, incomoda por outros motivos. Eu tenho mais de 30 anos de Galo e não vou deixá-lo, muitos que estão no Atlético hoje, já não mais estarão daqui seis meses. E a fala mansa já tá saindo de cena. O cenário já tá sendo revertido pro clima de ironia e a instauração das características bufadas. Mas ainda tem muitas cobras encantadas.
Aos mais supersticiosos, os seis primeiros jogos o trabalho no Atlético que viria a desaguar na Libertação do Galo, entre 2011 e 2013, também foram de jejum, com a primeira vitória vindo fora de casa, justamente diante do clube de maior história pregressa nos laços efetivos do treinador. O Atlético enfrenta o Grêmio na próxima rodada. Mas tem essa terça depois da segunda. A quarta até pode e deve ser boa. Mas antes do sábado tem a quinta e a sexta. Semana onde a diferenciação entre Galo e Atlético sairá do estado de espírito ficará mais evidente e material.
Eu já fui obcecado pelo ontem, focado em repetir hoje exatamente as mesmas experiências com as mesmas pessoas, objetos, coisas, emoções e etc. que eu tive ontem. Eu aprendi que devo querer experiências novas, mesmo que sejam com essas mesmas pessoas, objetos, coisas, emoções e etc. Eu sei que não haverá um mesmo Lendas do Galo, pelo menos não como o primeiro, mas não significa que a gente tenha que viver sempre só o Atlético. Um pouquinho de sossego pra gente não é pedir demais. Muita gente continua e continuará pagando GNV, comprando camisa, lotando arquibancada, comprando brinde, fazendo visita, tour, gritando Galo a cada estouro ou barulho um pouco mais alto. Tá na hora da turma do Atlético entender que não se deve deixar pra amanhã o que é pra ontem. Entre Coudet e “Atlético”, só um estará certo em dezembro.
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