Eu sei, Atlético, eu te entendo, você sente falta e sofre
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Por Hugo Fralodeo
Sentir falta de alguém é uma merda. Não há definição mais adequada ao sentimento de impotência que mexe tanto com o presente quanto o ausente. Eu sei.
O Atlético sente falta. Claro, qualquer equipe terá dificuldades em meio a desfalques, principalmente dos seus melhores jogadores, mas o time de Gabriel Milito sofre pela falta de pernas.
Os mecanismos de jogo que tornaram o Galo “imbatível” são evidentes (pelo menos para aqueles que quiseram ver, é claro): uma saída de bola limpa, levá-la para um lado, manter intensa movimentação pelo centro, liberando espaço do outro, tudo isso com o equilíbrio entre a proximidade e o espaçamento amplo na abertura do campo, para possibilitar a inegociável busca pela melhor forma de terminar a jogada, o que acabava por inevitável, fosse por alcançar a superioridade numérica ou na qualidade da turma que chegava no terço final ao mesmo tempo.
Desde os primeiros toques na estreia do Mariscal, a ideia já parecia clara para os jogadores, e tudo era muito coordenado. Com o passar dos jogos, a prática ia se tornando cada vez mais orgânica. Milito apontou a direção, orientou seus comandados do que fazer e fez questão de explicar a eles porque fazer. Pegando atalhos, o treinador posicionou seus jogadores da melhor forma possível e indicou a eles o que fazer em cada situação do jogo.
Erra feio quem insiste em “desenhar” o Atlético de Milito em campinhos, sobretudo quem se atreve a separar as peças em pequenos grupos, principalmente o tal “quinteto”, ainda mais em um “pentágono”. O Galo só funciona na união de 11. Se for para arriscar números e formas geométricas, veja um “quadrado” entre o meio-campo e a intermediária ofensiva, que seria melhor encaixado em um 3-2–2-3, mais conhecido como WM. A estrutura ofensiva do Atlético ideal tem Saravia, Battaglia e Fuchs (3); Alan Franco, Otávio (2); Zaracho, Paulinho (2); Scarpa, Hulk e Arana (3) – o que se fala por aí, inclusive em transmissões, é constrangedor. Lide com isso ou estude. Repeti várias vezes que devemos enxergar mais as funções e menos as posições. Os números não determinam se os jogadores são defensores, meio-campistas ou atacantes, só tentam demonstrar em qual linha eles estarão posicionados no momento ofensivo.
Esse 2-2 entre os dois 3 é o que tem tirado o sono de Milito. Tudo o que ele projetou para seu time só é viabilizado pela sustentação fornecida pelos dois homens que devem proteger a primeira linha, manter a velocidade da circulação da bola e preencher o campo fechando os eventuais espaços abertos, e pelos dois homens incumbidos de invadir a área nos espaços deixados por Hulk, dobrar os lados com Scarpa e Arana e achar brechas a partir do ataque entre as costas dos volantes e a frente da zaga. Sim, eu estou falando de Alan Franco, Otávio, Zaracho e Paulinho.
Não faz muito tempo, eu disse que a falta de profundidade sem Arana na ala esquerda causava uma reação em cadeia, e o Mariscal tentaria resolver o problema colocando mais um zagueiro e adiantando Saravia, ou mandando Alisson para a esquerda. Ainda não deu certo. E o motivo ficou ecoando na “quase goleada” sofrida no Barradão.
Além da capacidade de organizar rapidamente um time, Milito também provou ser um cara extremamente inteligente. Ele já deixou claro por que prefere ter Battaglia como “zagueiro” e não “de contenção”. A primeira linha de um time propositivo no momento ofensivo fica na altura da segunda linha de um time mais fechado. Portanto, é como se ele estivesse na mesma faixa do campo se atuasse como volante em um time de Diego Simeone. Na “zaga”, Rodri vê tudo de frente e pode servir ao time com suas melhores valências: primeira construção qualificada e proteção da área a partir do senso de posicionamento. Subindo uma linha – lembrando, em um time que joga com linhas extremamente altas -, Battaglia sente um pouco mais de dificuldade, porque não tem a velocidade e o fôlego necessários para preencher os espaços deixados pelo sistema e para perseguir adversários mais leves e ágeis. Se ele tiver um parceiro capaz de compensar suas deficiências, beleza. Mas o Atlético perdeu Franco e Otávio em uma só “caixa d’água”, e Igor Gomes e Zaracho, por mais capacidade de circular pelo meio-campo que tenham, não possuem o “instinto” de recuperação da dupla de volantes consagrada por Milito.
Quando o Atlético perde a bola, o adversário tenta escapar rápido para pegar a defesa desorganizada. Então, Otávio e Franco vão tentando empurrar quem ataca para o lado, para que a transição defensiva tenha tempo de acontecer. Se um deles vê que não vai dar, a jogada precisa ser interrompida. Nos melhores momentos, quantas vezes você viu uma falta tática no meio-campo cometida por um dos dois, Fuchs, Lemos ou Saravia? Ja percebeu a enormidade de cartões a turma toma? E agora, nos últimos jogos, quantas vezes a bola passa na frente da área e os “contentores” ficam perdidos e vendem os zagueiros? Ou seja, sem quem corra para trás, não há como manter seguro quem corre para frente. O Galo sente falta dos caras que mais contribuíam para a competitividade do time.
Sendo realista, é muito difícil que Milito consiga resolver esse problema, e o Galo vai sofrer enquanto isso. E ele sabe. A sala de fisioterapia da Cidade do Galo deve ter as marcas do tênis do Mariscal, que, tenho certeza, passa para perguntar por Otávio todo santo dia. O que este homem irá secar a Seleção Equatoriana na Copa América será tão árido quanto o sabor amargo da indiferença.
Quando a falta aperta, por mais que doa, o melhor é sentir. Não adianta tentar desviar o foco e ocupar sua cabeça com outras coisas. Às vezes, o melhor é só deixar o tempo passar. Eu sei, Milito, é foda. Mais uma vez você precisa continuar dando um jeito dos resultados – ou as boas lembranças – irem te comprando o prazo para resolver os problemas.
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