O mito da ‘maldição de Ibagué’: Conheça o Tolima, primeiro adversário do Galo na Libertadores
Por: Hugo Fralodeo
O Atlético inicia na próxima quarta-feira a caminhada rumo ao Monumental de Guayaquil. E a busca pela taça que escapuliu no ano passado, começa já trazendo um dos grandes desafios que o Galo, ou qualquer time brasileiro, poderia enfrentar. Para chegar a Guaiaquil, primeiro o Atlético precisa passar por Ibagué, onde visita o Deportes Tolima e desafia a mística da maldição do estádio que nunca viu uma vitória brasileira.
Mas não é apenas a mística que o Atlético irá enfrentar. A boa fase do Tolima no início de 2022, mostra que o Galo deve estar com os olhos bem abertos para esta estreia na Copa. Vamos conhecer um pouco mais sobre nosso primeiro adversário, entender um pouco como ele vem jogando e, claro, trazer dados sobre o calvário dos brasileiros em Ibagué.
Origem com um ‘toque’ argentino
Fundado em 18 de dezembro de 1954, por Manuel Rubio Chávez, o início do Deportes Tolima se deu quando Juan Barbieri, um empresário argentino que vivia em Ibagué – cidade no centro do triângulo formado pelas principais cidades do país: Cáli, Medellin e Bogotá – recebeu de Manuel a quantia de 5 mil pesos colombianos, para que o empresário viajasse a seu país natal para contratar jogadores argentinos. Barbieri retornou à Colômbia com cinco jogadores argentinos e, junto a Manuel Chãvez, completou o time com alguns jogadores colombianos, formando o primeiro elenco do Tolima, que disputou pela primeira vez a liga colombiana em 1955, usando uniformes emprestados pelo Racing Clube de Avellaneda. Na primeira competição, o Tolima ficou terminou no 7º lugar entre os 9 participantes.
A ‘Era Dorada’ e Gabriel Camargo
No início da década de 80, entra em cena Gabriel Camargo Salamanca, que já tinha ligações que o futebol colombiano, mas encontrou no Tolima a oportunidade de fazer um trabalho mais amplo, se tornando o acionista majoritário do clube, contratando jogadores de destaque, levando o Tolima pela primeira vez às fases finais do campeonato colombiano em 81 e 82, ano em que disputou a primeira de suas nove participações em Libertadores, chegando às semifinais (melhor campanha até os tempos de hoje), tendo passado inclusive pelo Atlético Nacional, um dos maiores clubes da Colômbia. Mesmo com o sucesso esportivo, Camargo retirou seu apoio econômico ainda em 1982, e o Tolima, que ainda disputou a fase de grupos do maior torneio sul-americano em 83, saiu da disputa pelos títulos e das grandes competições, chegando a ser rebaixado em 1993, quando Camargo retorna ao clube, conseguindo o acesso imediatamente após a queda, já em 94.
O primeiro título e o novo Deportes Tolima
Em 2003, com a chegada de jogadores qualificados, o Tolima conseguiu regressar às fases finais do colombiano e, desta vez, conseguiu a taça. Em campanha que bateu quase todos os principais times do país: Atlético Junior Barranquilla, Atlético Nacional, Independiente Medellin e Deportivo Cali, se sagrou campeão colombiano pela primeira vez, inaugurando a melhor fase de sua história, ultrapassando a geração da chamada ‘era dorada’.
Chegando constantemente às fases finais do colombiano, o Tolima aumentou sua participação nas competições sul-americanas na década de 2000, mas não tinha força para competir fora da Colômbia, nunca chegando tão longe quanto em sua primeira participação. Mas não significa que não tenha dado trabalho, principalmente para os brasileiros.
A “maldição brasileira” em Ibagué
Inaugurado em 20 de julho de 1955, o estádio rebatizado algumas vezes ao longo do tempo, atualmente carrega o nome do escritor e político colombiano Manuel Murillo Toro, que foi presidente da Colômbia em dois mandatos, nas décadas de 60 e 70. E é justamente a relação com brasileiros que torna o estádio com capacidade para cerca de 30 mil torcedores, histórico. Foi ali, em 2 de fevereiro de 2011, que Ronaldo fez a última partida de sua carreira, quando o Corinthians foi eliminado pelo Tolima, ainda numa fase preliminar da Libertadores, partida essa que entrou para a história do futebol brasileiro, sul-americano e mundial, e que ajudou a fomentar o mito da maldição de Ibagué.
O estádio pode ser considerado um campo ‘anti-brasileiros’, já que nele habita essa maldição que assombra os times do país. Desde 1996, quando recebeu pela primeira vez um time brasileiro, no caso o Vasco, uma equipe brasileira nunca foi capaz de deixar Ibagué com uma vitória. Nos 7 encontros contra brasileiros no Manuel Murillo Toro, o Tolima venceu cinco e empatou dois. Perdeu um jogo como mandante para um brasileiro, em 2021, para o RB Bragantino, válido pela edição passada da Copa Sulamericana, mas o confronto foi na Venezuela, devido a protestos na Colômbia, que impediram a realização da partida em seus domínios.
Em contrapartida, a “maldição” se inverte quando o time de Ibagué visita o Brasil: nos seus 8 jogos no país, o Tolima perdeu sete e empatou um, tendo marcado apenas dois gols nestes oito confrontos, nunca vencendo uma partida em solo brasileiro.
Momento atual
Depois da eliminação imposta ao Corinthians na fase preliminar da Libertadores de 2011, o Tolima demorou para voltar a formar times competitivos e foi no final da década que el vinotinto y oro voltou aos holofotes e conquistou seu segundo campeonato colombiano, em 2018. O tri veio no ano passado, com a base do time que o Atlético vai enfrentar nesta fase de grupos.
Em boa fase neste início de ano, conquistou sua primeira Superliga Colombiana (disputa semelhante à Supercopa do Brasil, que reúne os dois campeões nacionais do ano anterior), confirmando o título no último dia 23 de fevereiro, ao derrotar o Deportivo Cali por 1×0, depois do empate por 1×1 na primeira partida. Nos 16 jogos que disputou em 2021, conquistou 10 vitórias, 3 empates e sofreu 3 derrotas.
O que o Galo deve esperar
Dentro de campo, o Tolima é comandado pelo ex-goleiro Hernán Torres, que nasceu na cidade e atuou por oito anos com a camisa vinotinta y oro, além de ter iniciado sua carreira na área técnica no time de sua terra natal, passagem que durou de 2007 a 2011. De volta em 2020, foi o comandante dos dois últimos títulos.
Hernán Torres costuma rodar bastante seu elenco e alterna a forma de jogar de acordo com a qualidade do adversário que enfrenta. Entretanto, é possível definir o Tolima como uma equipe de aceleração, que aposta muito em jogadas pelos lados e esticadas longas, sempre tentando criar situações de mano a mano, abusando dos cruzamentos rasteiros e bolas pelo alto, aproveitando a velocidade e habilidade de seus jogadores mais criativos, os meia-atacantes Cataño, Plata, Ibargüen, Orozco e Miranda, além do apoio dos laterais Angulo e Hernández, estes com maior força física para o bate e volta. No comando do ataque, tanto Rangel quanto Caicedo, os dois centroavantes do elenco, fazem do clichê fato: grandalhões, homens de área e de poucos toques na bola, força física, pivô, jogadas aéreas e definição.
Como busca sempre a aceleração, costuma ter pouco apoio na maioria de suas jogadas de ataque, contra-atacando com 3 ou 4 homens, já que alterna bastante a postura de pressão alta e a de recomposição. Não significa dizer que o Atlético encontrará um time reativo, o Tolima busca acelerar o jogo em contra-golpes, mas também tenta propor o jogo, ainda que o objetivo seja criar situações de mano a mano para seus pontas a partir de passes rápidos e aberturas laterais, na maioria das vezes, com a bola no chão, a partir dos volantes Rovira e Rios, que reúnem capacidade de recuperação e técnica para fazer o jogo fluir, entretanto, como sempre buscam jogadas rápidas, é comum que os pijaos errem alguns passes cruciais.
Se ataca com intensidade e velocidade, a parte defensiva deixa a desejar. Sempre mantendo a última linha com quatro homens, o Tolima costuma deixar espaços para times que sabem trabalhar a bola, justamente por essa sede por acelerar o jogo, que leva aos erros. Como se apressa para construir as jogadas e os erros acontecem, invariavelmente deixa o campo aberto para os adversários, já que seus jogadores estão preparados para correr em direção ao campo de ataque e dificilmente consegue manter as primeiras linhas postadas no momento de recomposição. Se deixa espaços e os jogadores têm de mudar a direção da corrida, restam poucos homens inteiros em condição de bloquear as ações adversárias, o que resulta, quase sempre, em uma defesa exposta, que traz uma maior facilidade de quebra de linhas.
É possível que Torres espere o Galo, respeitando a força do Supercampeão Brasileiro, e aposte mais em um time postado, que esteja pronto para aproveitar qualquer erro Atleticano, mas é difícil que Torres viole a principal característica de seu time, que é armado sempre para correr, seja para frente ou para trás.
Na última partida antes de enfrentar o Atlético, no sábado, alguns dos principais jogadores foram preservados na vitória por 2×0 fora de casa, pelo Apertura do campeonato colombiano, onde ocupa a 3ª colocação, com 29 pontos, tendo a classificação às quartas-de-final praticamente assegurada.
Club Deportes Tolima (Ibagué, Tolima – Colômbia)
Estádio: Manuel Murillo Toro
Time base: Alexander Domínguez; Juan Angulo, José Moya, Eduard Caicedo e Junior Hernández; Brayan Rovira, Juan David Rios e Daniel Cataño; Anderson Plata, Andrés Ibargüen e Michael Rangel. Técnico: Hernán Torres
Em 2022: 16 jogos – 10 vitórias – 3 empates – 3 derrotas – 22 gols marcados (1.4/jogo) – 11 gols sofridos (0.7jogo) – 69% de aproveitamento – 1 título