É hora do atleticano abrir os olhos e olhar o Galo com menos ingenuidade
Por: Max Pereira @MaxGuaramax2012
Chegamos ao fim da fase de grupos do campeonato mineiro 2024. E o Atlético, embora tenha se classificado em primeiro lugar de seu grupo para as semifinais, é dono da quarta melhor campanha, tendo pontuação inferior ao melhor segundo colocado, a Tombense, e de um desempenho tão pífio que nem o mais otimista torcedor adversário sequer poderia imaginar ou sonhar.
Surreal ou bizarro, como queiram, mas é isso mesmo. Para o América, a Tombense e o rival azul a última rodada servia apenas para fazê-los conhecer o adversário das semifinais, vez que já tinham assegurado a sua classificação. Para o Galo, entretanto, valia para confirmar matematicamente sua classificação e, a partir desta, saber qual dos dois rivais da capital seria o seu adversário nas semifinais.
Aliás, caso ocorresse um vexame de proporções estratosféricas e o Atlético não confirmasse o primeiro lugar de seu grupo, o Gigante da Colina de Lourdes estaria fora das fases decisivas do certame mineiro, já que a Tombense ou o rival azul, dependendo da combinação de seus resultados na última rodada, já tinham garantido para si e, no mínimo e com antecedência, a classificação como segundo mais bem colocado na fase de grupos do campeonato.
A partida que garantiu definitivamente o Atlético nas semifinais como primeiro colocado em seu grupo foi, dentre os jogos disputados até agora em 2024, a menos angustiante e que, com certeza, fez o atleticano sorrir ao pensar no futuro. Claro que o Galo esteve longe de ser brilhante, mas o desempenho das crias da base foi seguramente um motivo de alegria, esperança e muita comemoração para cada Galista apaixonado, tão amargurado com este início tortuoso de temporada.
Claro, também, que não faltaram motivos de preocupação, críticas, cobranças e de desconforto para o torcedor. Dentro de campo, a par de algumas atuações sóbrias e muito interessantes de Fucks, Edenilson e, principalmente, de Rodrigo Bataglia, além do que apresentaram os “crias”, a saída forçada por questões físicas de Alisson e de Rubens evidenciaram os clássicos e conhecidos desequilíbrios do elenco alvinegro.
Embora Pedrinho, sem ter produzido nada de excepcional, tenha sido uma grata surpresa, Igor Gomes deslocado para a direita no segundo tempo se apagou completamente, Patrick, apesar da vontade, só fez barulho e nada produziu como ala esquerda e Scarpa, até se cansar, também foi mal e tímido, quando, particularmente, caía pelo lado esquerdo.
Alisson e Rubens enquanto estiveram em campo, mostraram que, bem trabalhados e sem pressa de colocá-los no Mercado da Bola, darão muitos frutos ao clube. O primeiro deu ao time profundidade, amplitude, velocidade, leveza e fluidez pelo lado direito. E talento não faltou. Rubens, por sua vez, mostrou versatilidade, oportunismo de centroavante, recursos táticos, marcou e atacou e, óbvio, também não economizou talento.
Cadú, por outro lado, encheu os olhos do torcedor. Quanta personalidade, quanta presença de área e quanta movimentação inteligente e proativa. Resultado: um gol e uma assistência. Mas, atenção: nenhum dos três está pronto ainda e, cada qual, deve ser cuidado e trabalhado de acordo com o seu nível de desenvolvimento e formação de cada um. Tudo isso vale também para Victor Gabriel, Paulo Victor e Isaac. Se o Atlético entender o potencial das joias que existem sua base, o futuro será mais do que promissor.
E fora do campo? Contrastando com a feliz imagem da menina Bibi realizando o sonho de entrar em campo com os jogadores do seu time de coração e de conhecer o ídolo maior, o incrível Hulk, broncas de torcedores e novos destemperos do veterano treinador foram flagrados, desafiando a argúcia e a autoridade de jovem e inexperiente diretor de futebol. Victor ficou com um áspero abacaxi em suas mãos para descascar.
Bom seria se o “fora do campo” se resumisse às broncas normais e naturais de um torcedor apaixonado ou às eventuais reações desproporcionais deste ou daquele treinador. Até o mais incauto dos observadores já se deu conta de que os problemas atleticanos fora das quatro linhas são muito mais graves e complexos.
No artigo “TUDO O QUE ACONTECE DENTRO DE CAMPO É CONSEQUÊNCIA DO QUE OCORRE FORA DELE”, publicado aqui mesmo no Fala Galo, em 27 de março passado, escrevi que uma frase nunca foi tão apropriada para iniciar um debate sobre a natureza do futebol e os imbróglios próprios e inerentes a este esporte apaixonante quanto esta: “A VIDA É A RESULTANTE DAS ESCOLHAS FEITAS”.
Nesse sentido, aduzi, ainda, que “todos dentro do clube têm alguma parcela de responsabilidade em relação ao que está acontecendo no Atlético dentro e fora do campo. Ninguém pode se furtar de suas responsabilidades, em especial os dirigentes cuja missão maior é conduzir o clube e colocá-lo nos trilhos. O futebol é cada vez mais o subproduto das escolhas e das decisões de gabinete”.
Já escrevi em outros ensaios e não custa repetir: “durante as últimas semanas o que se via, além dos irritantes e repetidos erros do treinador e de um time improdutivo e sem inspiração, era o diretor de futebol com a cabeça no Rio de Janeiro, na CBF, e a direção focada em vender a Sede, em mexer na % da SAF, em vender quem puder e em praticar no estacionamento da Arena preços considerados abusivos pelos torcedores. Isso sem falar dos problemas da base e do futebol feminino”.
Por isso, entendo que já passou da hora do atleticano abrir os olhos e olhar o Galo com menos ingenuidade. E, se é que é possível, olhar também como menos passionalidade. Parece paradoxal, mas a racionalidade nestes novos tempos de SAF, de casa nova e de um futebol cada vez mais sistêmico, complexo, elitizado e tremendamente caro é a única garantia da preservação dos valores, da identidade, da história e da relação clube-torcida que, no caso atleticano, é calcada em um sentimento de pertencimento ímpar que apesar da curtição masoquista do mantra do sofrimento e das ocasionais sensações de cansaço, continua poderoso e assustando os inimigos.
É a cabeça, sabendo que “O CORAÇÃO ATLETICANO TEM RAZÕES QUE A PRÓPRIA RAZÃO DESCONHECE”, quem saberá conduzir o Atlético a errar menos. É a crítica construtiva e racional que levará o Galo a fazer os ajustes necessários, corrigir rotas e repensar métodos de gestão do clube e do futebol, os primeiros e decisivos passos rumo à trilha do sucesso.
Enfim, como escrevi no artigo ”SEM A MASSA, O GALO SEQUER EXISTIRIA”, publicado no Arquibancada do Galo, em 29 de fevereiro último, “essa é a lição das arquibancadas. Afinal, nós somos o Clube Atlético Mineiro e criar âncoras e defender os direitos, a identidade e a história do clube é também defender a nossa atleticanidade. É alimentar e solidificar este sentimento inigualável de pertencimento que nos move, nos vivifica, nos alimenta”.
*Este texto é opinativo, de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, o pensamento do portal Fala Galo.