O coração atleticano tem razões que a própria razão desconhece!
Por: Max Pereira
@MaxGuaramax2012
Aqueles que criticam as frituras irracionais e precipitadas de treinadores e jogadores têm muita razão, tanto quanto aqueles outros em relação às broncas e cobranças que fazem em relação ao trabalho do Felipão.
Não importa que estejamos em início de temporada e, também, pouco importância teria para o Galista apaixonado se um novo treinador estivesse iniciando os seus trabalhos no clube.
A pouca ou nenhuma flexibilidade e a absoluta impaciência, marcas registradas de uma torcida apaixonada e passional como a do Atlético, são subproduto natural e inevitável de uma paixão desenfreada, temperada pelos tempos atuais onde o ódio, a violência e a intolerância estão normalizadas e vulgarizadas.
As caças às bruxas ensandecidas, covardes e, muitas vezes preconceituosas, a jogadores e treinadores, já trouxeram muitos prejuízos para o Clube.
Por outro lado, muitos treinadores por diversas razões cavam a sua própria sepultura. Felipão, por exemplo, está neste caminho. Fala e faz muitas bobagens. E o comando, se mostrando incrivelmente desconhecedor das manhas do futebol, colabora bastante.
Fazer ajustes, corrigir rotas e repensar métodos de gestão do clube e do futebol devem ser os primeiros passos. Demitir ou não o treinador é decisão que deve ser tomada a partir de um diagnóstico profundo e realístico e da tomada das medidas necessárias para colocar clube e time nos trilhos.
Tem muita roupa suja para ser lavada. Se nada for feito, se não houver um choque de realidade dentro do Atlético, o desastre será inevitável. Trocar o treinador sem fazer os ajustes necessários apenas vai mascarar a realidade e, no máximo, adiar e potencializar o estrago.
Embora reconheça que a posição de Scolari esteja ficando cada vez mais insustentável, eu não vou engrossar o “Fora Felipão” neste momento porque entendo que os problemas mais graves do Atletico são muito mais profundos e graves e estão além de sua capacidade de solução.
Nunca é demais repetir que, se não houver um choque de realidade intramuros do clube, a simples troca de treinador é insuficiente para colocar o clube nos trilhos.
Há que se reconhecer, entretanto, que, sem cobrar do treinador, que merece e muito ser cobrado, e, principalmente do comando central, origem dos problemas mais sérios e profundos do clube e do time em razão do seu claro distanciamento das entranhas do mundo da bola, cobrar dos jogadores apenas e execrá-los é cruel desonesto.
Nas redes sociais são cada vez mais ácidas as críticas de torcedores em relação ao que vem acontecendo com o Atlético, dentro e fora do campo. Para alguns, inclusive, apesar do futebol praticado não estar agradando a ninguém, o que ocorre intramuros do clube é bem mais grave do que o que se pode ver dentro das quatro linhas.
Para muitos, eu, entre estes, é inexplicável e precipitada, por exemplo, a venda de Pavón para o Grêmio, tendo em vista alguns fatores de extrema e vital importância para o clube nesse momento.
Os claros desequilíbrios do atual elenco atleticano, notadamente em relação às características físico-atléticas e táticas dos jogadores, e o fato de estarmos há menos de dois meses da estreia na mais importante Libertadores da história, vez que o campeão terá vaga assegurada no maior mundial interclubes de todos os tempos, amealhando uma premiação ultra-milionária, desaconselham abrir mão de um jogador do potencial e do estilo do argentino nesse momento.
Uma dúvida varreu as redes sociais: Pavón teria sido vendido tão somente por razões financeiras ou Felipão também teria sido decisivo nesta saída? Aliás, ver o craque portenho na sua estreia na equipe gaúcha jogar com alegria e render o seu grande futebol, foi doído para para o atleticano. E por que aqui Pavón não estava conseguindo jogar o que sabe?
Por outro lado, durante as últimas semanas o que se via, além dos irritantes e repetidos erros do treinador e de um time improdutivo e sem inspiração, era o diretor de futebol com a cabeça no Rio de Janeiro, na CBF, e a direção focada em vender a Sede, em mexer na % da SAF, em vender quem puder e em praticar no estacionamento da Arena preços considerados abusivos pelos torcedores. Isso sem falar dos problemas da base e do futebol feminino.
Por tudo isso, para muitos torcedores e alguns pouquíssimos formadores de opinião, o Galo está à deriva. Para o grande atleticano Gilberto Almeida até agora, o time do Galo não entrou em campo em 2024.
Os comentários dos analistas profissionais e as impressões e sensações do torcedor comum se repetem irritante e cansativamente. Se você não viu o jogo e quer saber como foi, basta buscar os comentários feitos nos jogos passados. Caem como luva.
Da mesma forma, as entrevistas de Felipão são recidivas. Todas essas frases/afirmações do veterano treinador são típicas de quem cumpre o papel de escudo do comando. Nessa função ele é um primor. Não à toa, está cada vez mais difícil defendê-lo.
Insistir com um 4-4-2 improdutivo, utilizando jogadores que não os ideais para desenvolver o sistema é um tiro no pé. Zagueiros e volantes lentos e pesados, defesa insegura e mal posicionada, Scarpa, totalmente sem ritmo, e Igor Gomes completamente desajustados e perdidos, Paulinho e Arana visivelmente tensos e errando muito, Hulk, embora continue decisivo, também erra bastante e, diante do Itabirito se mostrou, por vezes, menos intenso, laterais direitos muito abaixo da expectativa. Mariano brigando com a idade e Saravia com suas limitações.
Enfim, ao utilizar uma fórmula que com esses jogadores não funciona, Felipão traça para si e para o clube um futuro negro pela frente. Por outro lado, o semblante dos jogadores vem deixando claro um incômodo e uma insatisfação cuja origem certamente está localizada intramuros do clube e precisa ser detectada, atacada e erradicada. E só um choque de gestão profunda, radical, doa a quem doer, irá tirar o Atlético dessa barafunda.
E não é só isso. O péssimo condicionamento físico de vários jogadores é preocupante e é mais um fator que revela que as coisas nos interiores do Atlético estão muito ruins, demandando soluções sérias. Quando um número expressivo de contusões começa acontecer em um elenco o problema é do clube.
Da mesma forma, quando um time vai mal coletivamente o problema não está neste ou naquele jogador apenas, está no clube, no conjunto, o que mais uma vez revela o quão são graves os problemas internos do Galo.
Se é normal acontecerem um ou outra lesão no início de temporada, o que vem acontecendo no Atletico é absolutamente anormal. Nenhum outro clube brasileiro tem registrado um número tão elevado contusões ou de desconfortos musculares.
Dizer que este ou aquele jogador vitimado por alguma lesão recorrente é bichado é cruel e deixa escondido as verdadeiras causas das contusões. Será que há, por exemplo, um descompasso entre a fisiologia e a preparação física? Ou entre estes e o departamento médico? Ou será que vários jogadores estão sendo expostos a um esforço desproporcional em razão de sua inadaptação fisico-atlética ou tática às ideias do treinador?
Apesar de desequilibrado e necessitando urgentemente de algumas contratações pontuais, o elenco atleticano poderia estar dando um retorno muito mais qualificado. Assim como uma engrenagem bem ajustada ou uma estrutura organizacional onde a pessoa certa está no lugar certo, um time de futebol tem que posicionar as suas peças onde podem render o seu melhor.
Nesse sentido e, lembrando os grandes times da história do futebol, as mesclas e a escalação de jogadores de biotipos diferentes por função e compartimento é sempre o indicado. Se nesse último jogo contra o Itabirito em Brasília, Bataglia foi uma nota boa do jogo, mostrando estar reabilitado da contusão e uma personalidade bastante interessante e Bruno Fucks, ao substituir Rabello, deu maior estabilidade ao sistema defensivo, o time atleticano, sem ter sido brilhante, só foi razoavelmente fluido, leve e alegre com as entradas de Alisson e Rubens.
Se você dúvida, reveja a bola na trave de Alisson e o segundo gol do Atlético, consequência do talento criativo de Scarpa e da leveza, da fluidez e da qualidade de Rubens que brilhou ao se livrar do seu marcador com extrema sutileza e ao dar aquela belíssima assistência para finalização de Hulk.
Aqui um alerta. Há sempre um risco enorme da Massa queimar uma jovem promessa da base ou até mesmo algum jogador vindo de um clube de camisa menos pesada, principalmente, em momentos com este, extremamente delicados e demarcados por problemas que vêm se agudizando em uma espiral incontrolável. Todo o cuidado é pouco.
Alisson e nenhum outro garoto neste estágio de formação não têm nenhuma obrigação de arrebentar em todos os jogos que fizerem.
Ainda que muitas vezes emocionalmente destrutivo, o atleticano, no fundo, no fundo, sabe das coisas. Não sem razão, o velho e saudoso Malaquias que conhecia a natureza humana como poucos e, particularmente, a alma do Galista apaixonado, dizia que O CORAÇÃO ATLETICANO TEM RAZÕES QUE A PRÓPRIA RAZÃO DESCONHECE.
Se todos os caminhos levam a Roma como diz o velho ditado, os caminhos para o sucesso atleticano nunca devem ser conduzidos sem ouvir, além da razão, o coração, que tem razões que só ele conhece. Que há algo de estranho no reino alvinegro, até o mais incauto dos atleticanos já percebeu.
* Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, o pensamento do portal Fala Galo.