Casa nova, novos desafios. Pisar na Arena vai dar pena?
Por Max Pereira @MaxGuaramax2012
Três jogos, três vitórias. 4 gols pró, nenhum gol contra. Paulinho é o dono da Arena. Sem cerimônias e com 4 gols bem construídos e bem definidos, o jovem camisa 10 alvinegro é até agora o único jogador a balançar as redes da nova casa do Atlético. “PISAR NA ARENA VAI DAR PENA”?
Jogando em casa, não tenham dúvidas, o Atlético é o time a ser batido. Quem vai ser o grande vilão e o primeiro time a vencer o Atlético na Arena MRV? Quem vai ser o autor do gol que acabará com a invencibilidade do excelente Everson na meta atleticana? As bolsas e as casas de apostas certamente irão explodir.
Não, não estou agourando não. A intenção deste artigo é chamar a atenção para questões importantes que o clube e a sua torcida não podem desprezar. A longevidade de qualquer invencibilidade depende do trabalho que é executado e dos cuidados que são tomados, dentro e fora do campo.
Antes, durante e depois do jogo contra o Cuiabá que vi no setor INTERLESTE, observei uma preocupação comum a um grande número de torcedores: o jeito Felipão de jogar. Para muitos e, para mim também, 1 x 0 é goleada para o treinador atleticano.
Fiel a seu espírito conservador Scolari, ao mesmo tempo em que vai dando uma consistência defensiva ao time bastante interessante e, também e aos poucos, vai permitindo a Pedrinho se firmar e ganhar confiança, possibilitando ao time ganhar qualidade na transição e na articulação e ainda fazendo com que Paulinho e Hulk joguem cada vez mais próximos um do outro, a meu ver e de outros mais, ainda peca no tempo das alterações e em relação às mudanças táticas que delas decorrem.
É que o time vem ficando perigosamente desgastado no segundo tempo, enquanto seus adversários, estrategicamente renovados pelas substituições adredemente efetuadas pelos seus comandantes, crescem, ganham confiança e passam a pressionar perigosamente a meta atleticana. Everson, nestes momentos, tem salvado o time com defesas espetaculares como as duas que fez em sequência diante da equipe cuiabana.
Ainda que não fosse inteiramente contundente e não fizesse aquela marcação alta de outros jogos, o Atlético não deu espaços para o Cuiabá e Everson teve pouco trabalho na etapa inicial. No segundo tempo, entretanto, o time do Mato Grosso, fundado pelo saudoso ex-artilheiro atleticano Gaúcho, teve chance de colocar água no chopp atleticano.
Não obstante o time ter saído da Arena com três pontos e sem tomar nenhum gol em todos os jogos que disputou até agora na sua nova casa, não há como não reconhecer que os riscos de insucesso foram enormes e que é preciso fazer algo para, senão eliminá-los totalmente, minimizá-los o máximo possível.
Aqui é preciso reconhecer as grandes atuações de Everson, cujas defesas espetaculares têm salvado o Atlético, particularmente nos segundos tempos dos jogos. Aquelas duas intervenções em sequência contra o time mato-grossense foram extraordinárias. Reflexo, colocação, concentração e leitura das jogadas do adversário foram as marcas das grandes defesas do bom goleiro atleticano.
Se dentro de campo ajustes são sempre necessários, fora dos gramados também é preciso fazer algo diferente. Refiro-me à relação clube/torcida que, para muitos, eu entre estes, precisa ser revigorada. É preciso resgatar o torcer coletivo, o jogar com o time. É preciso fazer o adversário tremer. Se o Atlético e a Massa já mostraram que “pisou no Horto, tá morto”, é preciso mostrar que se “PISAR NA ARENA VAI DAR PENA”.
O Mineirão não se transformou em um salão de festas por acaso. É somente com a Massa participando inteira e coletivamente que o time conseguirá entregar tudo o que pode. CASA NOVA, NOVOS DESAFIOS. E estes só serão eficientemente enfrentados se os jogadores forem abraçados pela sua torcida.
O ex-presidente Alexandre Kali, correndo o risco de se antipatizar, mas se expressando do seu jeito direto, sempre defendeu a tese de que o futebol de hoje é para rico. E que se qualquer governo quiser popularizá-lo e que o subsidie. A verdade é que as arenas dos tempos modernos têm custo alto de funcionamento e exigem times com elevado potencial atrativo e, portanto, muito caros para se manterem rentáveis e superavitárias.
E tão verdadeiro quanto, o processo de elitização do futebol parece avassalador e sem volta. Não à toa, portanto, o perfil desse novo torcedor tende a diferir radicalmente daquele que nos acostumamos a ver no Mineirão e no Independência. Dos tempos do velho Antônio Carlos, então, nada a ver.
Além do poder econômico médio muito maior que o histórico desse novo torcedor, as exigências tecnológicas do mundo moderno e as ziquiziras da vida dos tempos atuais, cada vez mais regidas pelo ódio, pela intolerância, pelo individualismo e pela falta de empatia e, portanto, mais pesadas, vão impondo níveis de insatisfação a cada um nós cada vez maiores. Foram-se os tempos em que o futebol era catártico.
Os desafios que a nova casa já está impondo ao Atlético e ao seu torcedor não são simples e só serão resolvidos se forem atacados de frente e com vontade de resolvê-los. Maior inclusão, setores e preços populares, campanhas para alimentar a sensação de pertencimento para esse público. Trabalhar a interação e fazer o torcedor gostar de torcer, vibrar e cantar juntos. De fazerem parte do espetáculo. E, óbvio, de gostar de jogar junto com o time.
Enfim, é preciso entender que os sucessos da Arena e do Galo em campo estão inexoravelmente atrelados ao êxito deste movimento de duas vias que precisa ser sedimentado nos interiores da Arena entre time e torcida.