Consolidado como um grande técnico no futebol mundial, como Sampaoli utilizou a base antes de chegar ao Atlético
Por Hugo Fralodeo
Jorge Sampaoli despontou para o futebol junto com seu bom time da Universidad de Chile, entre 2011 e 2012. De lá para cá, comandou seleções, treinou na Europa e se consolidou como um grande técnico do futebol mundial.
Sampaoli já treinou diversos jogadores, incluindo estrelas mundiais, mas também foi responsável pelo desenvolvimento de alguns jovens. No Atlético, há um grande projeto, encabeçado pelo gerente das categorias de base, Júnior Chávare, visando a formação. Portanto, há uma grande expectativa da torcida pela utilização da nossa prata da casa. A massa cobra para ver em campo Calebe e Savinho, que já treinam com os profissionais e figuram no banco de reservas em algumas partidas, Bruno Silva que retornou de lesão e participou de alguns jogos, além de Dylan e os demais entre a garotada que desponta. Em entrevistas recentes, Sampaoli disse que busca reforços mais experientes para fazer uma mescla e dar tranquilidade aos jovens do grupo.
A cobrança da Massa nos fez pensar.
Fomos atrás de dados para entender como nosso treinador se comportou em relação às categorias de base em seus trabalhos em clubes e o que ele poderia dar ao Atlético no desenvolvimento e integração dos nossos garotos.
Universidad de Chile (2011-2012)
Para construir “La U” que marcou pelo futebol vistoso e as conquistas, Sampaoli voltou os olhares para a prata da casa e pinçou jovens valores no mercado local. No elenco de 31 jogadores, excluindo Herrera, Rojas, González e Diaz, que já tinham experiência e/ou passagens por outras equipes, Sampaoli contava com o goleiro Alfaro (20), o zagueiro Abarca (22), os laterais Magalhaes (20) e Mena (21), os volantes Marquez (19) e Aránguiz (21), o atacante Castro (20), além do maior destaque, Eduardo Vargas (20). Todos jovens promissores que foram recrutados em times chilenos e se desenvolveram por meio de seu trabalho. O lateral Vergara (17), os volantes Leyton (18) e Martinez (18), os meias Gallegos (19) e Maturana (18) e os atacantes Henriquez (17), Bravo (17) e Inostroza (19) eram fruto das categorias de base de La U. 50% do elenco profissional era formado por jovens abaixo dos 22 anos. Dentre esses, oito (25%) pratas da casa. Mena e Vargas foram os destaques entre os captados que o acompanharam em sua trajetória à frente da Seleção Chilena.
Sevilla (temporada 16/17)
Em seu único trabalho na Europa, Sampaoli teve a força de Monchi, conhecido como o “mago do mercado”, diretor com visão para negociações de jogadores que podem render técnica e financeiramente. Por isso, utilizou pouquíssimos jogadores da base em sua única temporada na Espanha.
Santos (2019)
Em seu primeiro trabalho no Brasil, o Santos, um clube formador por tradição, o argentino foi na contramão do histórico santista e praticamente não utilizou a base. E, apesar das cobranças internas e externas, se manteve firme em sua postura e alertou, em entrevista coletiva, que o clube precisaria de uma reestruturação das categorias inferiores:
“Estamos analisando a todo tempo. […] Eu trabalho com profissionalismo e vejo todos os dias. Santos tem que reestruturar sua força básica com os menores, porque a produtividade do sub-23 e sub-20 não está passado bom momento, e não há jogadores destacados nessas divisões. Ou pelo menos não estão se destacando. Se tem um jogador que faz cinco gols no sub-20, teria que revisar o motivo de eu não utilizar. Mas isso não acontece”.
“Querer que alguém resolva uma situação que não exista é irreal. Queremos que algum garoto substitua quem não está na melhor performance, mas eu não estou convencido. E em todos os lugares onde estive revelei garotos, coloquei até de 15 anos na Copa do Chile. Aqui ainda não encontrei quem possa afrontar em cima numa situação difícil”.
De fato, alguns setoristas do alvinegro praiano informaram sobre a falta de estrutura e de profissionais qualificados para cuidar da base santista. Gramados de péssima qualidade, com buracos, passíveis de alagamentos e as péssimas condições do CT Meninos da Vila são confirmados por profissionais que passaram por lá e corroboram as palavras de Sampaoli.
Há quem considere que, por exigir a excelência, Sampaoli possa ter gerado um desconforto, pois na visão dos santistas, o clube não tinha o costume de esperar a prata da casa estar pronta para ser integrada ao profissional. Sempre foi um processo de promoção de atletas, confiando que sua capacidade individual prevalecesse e vingassem. Mas é reconhecido que nunca houve um processo de planejamento para a utilização nas categorias de base.
No Atlético, até aqui, a equipe de transição vem “subindo” para servir de sparring e os destaques são pinçados para treinar permanentemente com o elenco profissional. Mas os jovens têm tido poucas chances, quase nenhuma. A figura de Calebe e Sávio revezando partidas no banco, só dá a entender que eles são relacionados para pegarem experiência do clima de jogo profissional. Os empréstimos de Léo Griggio, Guilherme Castilho e Adriano divide opiniões. Alguns entendem que, para o melhor desenvolvimento, os jovens devem jogar e, se não vão ter oportunidades aqui, que tenham em outro lugar. Outros esperavam ver a prata da casa sendo integrada ao time principal. É compreensível, mas, como o próprio Sampaoli disse em sua passagem pelo Santos, ele está observando. E terá mais aspirantes para observar. Com a volta das equipes sub-17 e sub-20 e os empréstimos já definidos, o time de transição passa a ser rotativo. Estes jovens atletas terão mais oportunidades de mostrar seu futebol ao nosso treinador.
A formação do atleta deve ser uma constante preparação, com muita calma, para que quando ele esteja pronto, ele literalmente exploda e a subida seja um caminho sem volta. O campo mostra e talento não se esconde.