O Planeta dos Homens
Por: Silas Gouveia
Em 1977, a emissora globo de televisão inaugurou um programa humorístico chamado de “O Planeta dos Homens”! O programa criado por Max Nunes e Haroldo Barbosa, inspirado no filme “O Planeta dos Macacos” (Cinemas de 1968), mostrava quadros de humor baseados em sátira de costumes, crítica social e paródia a programas de rádio e televisão.
Dentre os quadros deste programa humorístico, havia um em que um cidadão estava geralmente em uma fila lendo um jornal, ou esperando um ônibus e sempre rodeado de outras pessoas. De repente ele soltava uma fala como se estivesse ofendendo alguém e, por este motivo era sempre questionado por uma destas pessoas que estavam próximas a ele, que iam tirar-lhe satisfação sobre aquela fala.
Imediatamente ele se desculpava e dizia não se tratar de nada relacionado a qualquer pessoa que estava ali perto, mas sim a um fato acontecido horas atrás, em que ele teria sido insultado ou confrontado por alguém, mas naquele momento ele não tinha nenhuma resposta à altura para responder ao insulto ou ao confronto. Daí limitava-se a dizer apenas: “Ah, é, É? Ah, é, é?” Acontece que naquele momento, longe da cena original, aquele personagem lembrava que poderia ter dado uma resposta muito bem trabalhada e perfeitamente apropriada e por isto grita esta resposta a quem não teve nada com os fatos que a mereceram.
Faço esta introdução, infelizmente para falar da primeira entrevista do presidente eleito do Atlético, concebida nas dependências da Sede de Lourdes na manhã do dia 14/12/2020. E qual a relação poderia ser feita entre o quadro deste programa e esta reunião na sede de Lourdes? Pra mim, tudo! Desde as perguntas superficiais, às respostas mais superficiais ainda e agora, com a minha tardia manifestação quanto a todos os fatos merecedores de críticas em meu entendimento. Assumo portanto, o personagem do: “Ah, é, é?” pois eu deveria estar presente para não somente formular perguntas que julgava serem mais condizentes com o evento como também, poder pressionar para que as respostas fossem um pouco mais objetivas e contundentes.
O fato é que, fazendo esta autocrítica, estendo também as mesmas ao nosso jornalismo e, como consequência, ao interlocutor que havia acabado de ser eleito presidente de um clube que mexe com a paixão e o imaginário de milhões de apaixonados pelo clube. O nível tanto das perguntas como das respostas, para um evento de tamanha importância para esta Massa de apaixonados, precisa melhorar. Precisamos nos preparar mais e melhor para fazermos entrevistas mais proveitosas e que explorem a melhor e mais profunda capacidade do entrevistado. Ou, em um oposto, desqualificar também de forma ainda mais contundente, aqueles que não fazem jus à posição em que se encontram. Devemos isto aos leitores e ao público de forma geral.
Devemos nos unir para dar um basta à mediocridade e à falta de comprometimento com a verdade e a informação. O intuito básico de um bom jornalismo sempre deve ser a informação que nos completa e nos faz querer mais informações. A pseudo-informação é pior do que a informação falsa, assim como a resposta incompleta é pior do que a falta dela. Não podemos fazer com que uma coletiva de elevado interesse por parte de uma Massa de apaixonados, se transforme em um palco para desfile de contemporaneidades ou palanque de discursos vazios. Devemos nos comprometer a tratar de temas que tenham de fato a importância devida e realçada por uma proposta de projeto tido por muitos como megalomaníaco, mas que outros o tratam como a mais pura realidade.
Informação, meus senhores e minhas senhoras. É disto que deve viver o bom jornalismo. A mim, pouco importa se alguém da família do entrevistado gosta de futebol ou nem sequer assiste a um jogo. Também não me interessa o passado não relacionado ao cargo ao qual o entrevistado tenha sido eleito. São pseudo-informações e não contribuem em nada para uma análise do entrevistado ou de suas propostas de trabalho frente ao enorme desafio a que ele se lançou. Não queremos, daqui a alguns meses, ouvir em entrevistas as mesmas reclamações de que ele está fazendo um enorme sacrifício de estar ali, dedicando todo seu tempo à instituição e que isto ao faz mais apaixonado pelo clube do que os torcedores comuns, que consomem os produtos do clube, compram ingressos e assinam pacotes de TV à cabo para acompanhar sua paixão.
O tempo de candidato já se esgotou. Não há mais espaço para promessas. Chegou a hora de cobrarmos o “como” e não mais o “o quê”! Perguntar “o quê” a pessoa pretende fazer em seu mandato, sempre irá nos remeter ao processo de candidato, para o cargo ao qual ele já foi eleito. Temos então de concentrar nossas perguntas ao “como” ele pretende implantar o que se propôs a fazer. É mais ou menos a diferença entre o querer e o fazer. E para a grande maioria da torcida, o mais importante neste momento é que saibamos como ele pretende conduzir o clube em busca de cumprir o que ele já havia prometido ainda em campanha para ser eleito. Isto vale, obviamente, para a classe política também e em especial.
Os “quatro pilares” da futura administração valem tão somente como uma carta de intenções, se não forem apresentadas formas de se buscar atingir estes objetivos. E de mais a mais, estes quatro pilares são tão lógicos e óbvios, que não precisava sequer ter um presidente eleito para tocar os mesmos. Basta contratar um bom gerente e mandar fazer aquilo que os principais investidores determinaram. Mas ao ser questionado se os apoiadores iriam participar ou comandar o clube em sua gestão, aí sim a resposta foi enfática: “O presidente eleito foi o Sérgio Coelho. Eu é que vou comandar o clube.” Para muitos, esta talvez tenha sido uma falsa informação, mas foi a que mereceu a maior contundência na resposta.
Também me incomoda o fato de que uma boa pergunta, não importa quem a tenha feito, jamais consegue atrair a atenção ou o respeito dos demais, na tentativa de se esgotar determinado assunto, ou obter uma resposta mais completa. Cada um por si, preenchem os espaços de perguntas desconexas e sem ordem ou lógica. Variam os assuntos desde o santo protetor do entrevistado (não que isto tenha sido perguntado), até uma avaliação objetiva da real situação do endividamento do clube
O formato ultrapassado das entrevistas também merece ser revisto. Este formato em que o entrevistado fica em um palanque e os entrevistadores se revezam numa fila, mesmo que imaginária, para acesso a um único microfone, precisa ser revisto. Principalmente quando se trata de uma coletiva. Respeito, tanto dos profissionais da imprensa como dos representantes do clube, deveria ser a tônica de eventos desta natureza. Mas insistem em um modelo ultrapassado e pouco democrático, além de absolutamente inoportuno ao desenvolvimento de uma lógica de raciocínio ou de evolução a um debate salutar de ideias.
Mas enfim! Como não fui convidado e por isto, não pude comparecer ao evento para fazer as perguntas que julgava serem mais apropriadas e importantes para o público em geral, fico aqui, mimetizando o personagem do Planeta dos Homens: Ah, é, é? Ah, é, é? Devia ter forçado um pouco mais e assim, ao menos ter feito a minha parte.