Entre mortos e feridos, o plano de recuperação do Atlético segue em frente
Por: Prof Denilson Rocha
As recentes eliminações do Atlético nas Copas do Brasil e Libertadores despertaram o que mais existe nas redes sociais: muito debate baseado em “achismo” e pouco de realidade. Como é normal após derrotas traumáticas, encaramos perspectivas trágicas e cenários que indicam o fim do mundo. Segundo os mais preocupados, o “rombo” financeiro do Galo parece infindável e todo o esforço para colocar as contas em ordem parece ter sido jogado no lixo. Mas o que é real em relação às perdas financeiras que o Atlético tem por deixar os torneios?
Antes de mais nada, é preciso voltar a um ponto recorrente: o Atlético não tem qualquer mínimo esforço para deixar claros os números e o desempenho financeiro da instituição. Pouco (quase nada) é divulgado. Os balanços anuais são bastante limitados nas informações e mudanças em rubricas deixam a análise ainda mais complicada. Não existem balancetes (mensais, trimestrais ou semestrais, embora tenham havido promessas) disto, não existe divulgação periódica de resultados, não existe transparência. Ou seja, muito do que se discute da condição financeira do Galo é suposição e “chute”.
Com isso, podem ser dados como “certos” a arrecadação na bilheteria (os borderôs são publicados nos sites das entidades organizadoras) e a premiação nas Copas – ainda que, na Copa Libertadores, exista a variação cambial que pode fazer o número ficar um pouco maior ou menor. No mais, existe bastante incerteza.
Com esta ressalva, vamos fazer a conta básica. O quadro abaixo mostra o que o Atlético tinha de previsão orçamentária e o que foi arrecadado até o momento.
Valores em R$ .000 | Orçado | Realização |
2022 | 2022 | |
Receitas totais | 821.337 | 742.848 |
Receitas com futebol | 447.207 | 366.718 |
Bilheteria | 53.000 | 34.451 |
TV / Premiação | 163.678 | 137.416 |
Atletas | 140.000 | 99.322 |
Outras | 8.427 | 8.427 |
GNV | 30.000 | 35.000 |
Patrocínios | 52.102 | 52.102 |
Receitas com clubes sociais | 10.130 | 10.130 |
Clubes | 10.130 | 10.130 |
Receitas Patrimoniais | 350.000 | 350.000 |
Patrimoniais | 350.000 | 350.000 |
Receitas de projetos | 4.000 | 4.000 |
Projetos | 4.000 | 4.000 |
Receitas Manto da Massa | 10.000 | 12.000 |
Preto e branco | 10.000 | 12.000 |
Como pode ser observado, engana-se quem restringe a avaliação apenas a deixar de receber premiações. Deixar torneios importantes tem impactos nas receitas de bilheterias, na manutenção na quantidade de sócios no GNV e até mesmo em valores de patrocínio, que normalmente consideram variáveis conforme a exposição da marca – e, obviamente, ficar fora de etapas finais dos torneios deixa de mostrar a marca dos patrocinadores. Faltando apenas mais sete jogos no Mineirão, vai ser complicado atingir o valor previsto em receitas.
Se as conquistas do ano passado trouxeram aumentos nas despesas de operação, viagens e premiações aos jogadores, em 2022 haverá o efeito contrário. Os quase R$ 450 milhões previstos para despesas com futebol devem sofrer redução, o que deve amenizar um pouco da queda nas receitas.
Em resumo, o valor que deixa de ser arrecadado é bastante alto, pensando que o orçamento aprovado foi bastante prudente e pé no chão e que a expectativa era de superar a arrecadação em várias contas. Mas, tratando apenas do que estava em plano orçamentário, entre queda de arrecadação e redução de despesas, os números do momento mostram que o déficit fica próximo a R$ 50 milhões, considerando que ainda faltam R$ 40 milhões em previsão de venda de atletas – não é pouco, mas está longe das previsões catastróficas que indicavam que o dinheiro da venda do shopping ia integralmente para cobrir as despesas desse ano desastroso.
Mas o maior engano na avaliação das contas do Atlético está em analisar os resultados do ano como independentes, isolados. Os problemas do Galo não começaram em janeiro de 2022 e não estariam solucionados em dezembro de 2022, mesmo se fosse campeão de tudo. Os problemas financeiros e esportivos existem há décadas e as soluções não são fáceis e de curto prazo.
Financeiramente, o ano de 2023 prevê o aumento significativo nas receitas da Copa do Brasil. Para o Atlético, é ano de inauguração da Arena e de redução nas despesas financeiras após a negociação e pagamento de dívidas com o valor arrecadado com a venda do Diamond. Em 2024, é renovação do contrato de TV, que, segundo palavras do ex-presidente Ricardo Guimarães em entrevista ao FalaGalo, deve ter valores entre 3 e 5 vezes superiores aos atuais. Além disso, a SAF do Atlético é cada vez mais provável, como um dos clubes mais valorizados do Brasil. Simplificando, o lado financeiro é complexo, mas ainda se mantém bastante promissor.
A grande preocupação é esportiva. O Atlético não pode e nem deve sobreviver de “soluços”. As conquistas e lutas por títulos devem ser uma rotina, não uma exceção. Não dá para esperar outros anos como foi após 2013/2014 até 2021. É essencial compreender a causa da queda no desempenho esportivo em 2022 e tomar as medidas adequadas para recuperação do rumo de vitórias em 2023. Estas soluções não estão apenas no campo – exigem uma avaliação de conselheiros, apoiadores, presidente, diretores e, então, definição de técnico e elenco. É urgente avaliar os erros cometidos, identificar as causas da queda vertiginosa do desempenho do time e mudar. Normalizar fracassos, não pode e não deve mais ser aceito. A mudança na metodologia de elaboração do orçamento, deve ser seguida também pela mudança de postura de quem planeja o ano esportivo, para que não se repitam os erros cometidos no final de 2021 e início de 2022, com a falta de comando técnico do clube.
Se os resultados financeiros ficaram abaixo do esperado, somente há recuperação se houver melhora nos resultados esportivos. O resultado esportivo também ficou abaixo, especialmente com a qualidade inquestionável do elenco disponível. Mas o descompasso entre elenco e comando, é algo a ser evitado a todo custo. Falta, como sempre faltou, convicção por parte de quem comanda o clube. Sem convicção, não há caminhos seguros a se trilhar em busca do sucesso de forma mais perene, ou pelo menos com menos hiatos.
O “negócio” do Atlético é futebol. A razão de existir do Galo é o futebol. A gestão do Clube deve ser focada em futebol. Se existe um plano de recuperação institucional e houve qualificação fora do campo, é urgente dar atenção à gestão do negócio (futebol), mais do que apenas gestão de elenco, que também tem significativa importância.