Coluna Preto no branco: o Galo de hoje, de ontem e de amanhã…
Por: Max Pereira @MaxGuaramax2012
É preciso, pois, que os dirigentes atleticanos pensem grande, como grande é o Atlético de ontem e de hoje e grande deverá ser sempre o Galo de amanhã.
Nesses tempos de fim de temporada e de muitas expectativas em relação ao ano que vai nascer as especulações tomam conta dos noticiários e mergulham as redes sociais em um disse me disse sem fim. Tempos de muita reflexão, de esperanças e de muita introspecção. Tempos de muitas fakenews, de muitos recados e de muitas notícias plantadas.
O Atlético, então, é normalmente sacudido por informações e “informações” mil e a Massa, de modo geral, quer saber quem chega, quem fica e quem sai. E mais: quer também impor quem deve chegar, quem deve ficar e quem deve sair. Comunicadores de plantão, com intenções várias e bebendo em fontes diversas, exploram como podem e como querem o que estes tempos de bola parada lhes oferece. Audiência e material de todo o tipo não faltam.
A indicação contida em várias falas dos próceres atleticanos, segundo a qual o clube iria adotar uma política de austeridade, priorizando sanear as dívidas, as quais, inclusive, seriam inicialmente roladas em 2024, gerando, portanto, um valor ainda pesado de juros a serem administrados e pagos, se contrapunha às especulações de que o Atlético estaria interessado nas contratações de jogadores como Gustavo Scarpa, Rodrigo Muniz, Tales Magno e de um meia argentino, considerado a grande revelação do futebol portenho na temporada que ora se encerra.
O valor revelado do orçamento atleticano para contratações, modesto se comparado com os de outros grandes clubes brasileiros, também indicava comedimento e tempos de pouco investimento. E não é que o Galo, agressivo como raras vezes se viu, ousou e contratou Scarpa.
É sempre possível filtrar alguma informação confiável. Mas, até que ponto era possível perceber com algum grau de confiabilidade interessante o que os dirigentes alvinegros imaginavam e planejavam de fato para o Atlético em 2024? Só sei dizer que a chegada de Gustavo Scarpa me surpreendeu e faz sonhar, sem nunca tirar os pés do chão.
Ora, o circo multibilionário do esporte bretão vem impondo aos clubes ônus cada vez mais pesados se a intenção destes é disputar os grandes e principais títulos e, claro, permanecer na prateleira de cima do futebol. Protagonismo e hegemonia custam cada vez mais caro.
O cada vez mais complexo sistema que hoje comanda o futebol compreende um conjunto heterogêneo de agentes que, para o bem e para o mal, se interagem naturalmente e, com graus diferenciados de poder político e econômico, conduzem e dão contornos ao esporte e à vida dos clubes.
E quem são estes agentes? Historicamente, são eles as entidades que comandam e normatizam o esporte (FIFA, CBF, Confederações internacionais, Federações regionais, arbitragem), agentes e empresários, patrocinadores, parceiros, investidores, fornecedores de material esportivo, televisão detentora dos direitos de transmissão televisiva, imprensa tradicional e convencional, lobistas, treinadores, médicos, preparadores físicos e os dirigentes de clubes
Também têm o poder de influenciar o esporte, para o bem e para o mal, as redes sociais, youtubers, familiares e amigos, falsos e verdadeiros, de jogadores e de técnicos, funcionários de clubes e de entidades em geral que atuam direta e indiretamente na atividade esportiva e os torcedores, organizados ou não. E tem mais: as casas de apostas invadiram o país como um furacão de escala máxima e os estragos, se nada for feito em relação a um controle e uma fiscalização rígidos, poderão ser insanáveis.
Recentemente surgiram no Brasil dois agentes poderosos e diferentes de todos os outros que, até então, militavam ou gravitavam em torno do esporte: o VAR e a SAF. O primeiro traz como inovação um controle da arbitragem e uma estrutura complexa e, até então, inexistente, composta de operadores, técnicos, fornecedores de equipamentos, tecnologia e protocolos de procedimento.
O segundo é o mais recente e, sem dúvida, o agente mais desafiador e inquietante. Não que a figura do clube empresa no futebol seja uma novidade no mundo e tenha sido introduzida no Brasil pela instituição da Sociedade Anônima do Futebol. O que é novidade é a figura da SAF surgir com o esplendor e a aura de salvadora da pátria dos endividados clubes brasileiros, o único caminho que leva à redenção definitiva.
Empoderada, a SAF já está modificando radicalmente o esporte bretão nestas terras tupiniquins. Não se trata de uma simples mudança de modelo societário. O torcedor brasileiro e, o atleticano em particular, não torcem para empresas. A relação clube/torcida que tem como lastro um sentimento de pertencimento de mão dupla, é mais forte do que qualquer liga de titânio.
O atleticano, por exemplo, celebra sua atleticanidade. O Atlético só é o gigante que é porque tem a torcida que tem. O Atlético de ontem, de hoje e de amanhã têm em sua massa torcedora a seiva vital de sua existência e de sua razão de ser.
Se a SAF por um lado pode em tese garantir uma gestão profissional e uma saúde financeira desejável, de outro ela tem que respeitar na sua totalidade a identidade, a história e a tradição do clube originário. Ou seja, os interesses comerciais, econômicos e financeiros da SAF não podem jamais se sobrepor aos interesses nobres e às propriedades culturais da associação que lhe deu origem.
Da mesma forma, a visão empresarial que a SAF empresta ao esporte não pode e não deve se desfocar dos resultados esportivos, meta sagrada dos clubes de futebol. O investir para colher no futuro, no futebol deve ser entendido como qualificar e fortalecer o time, e potencializando suas possibilidades.
E investir no futebol significa investir não só no fortalecimento da equipe, como também na qualidade do ambiente e na estrutura do clube. Só é possível cobrar dos jogadores se forem dados a eles todas as condições físicas, estruturais, ambientais e metodológicas necessárias ao desenvolvimento de um futebol competitivo e de qualidade.
Um jogador não é caro em razão de seu alto salário. Ele pode ganhar um salário-mínimo e se tornará caro se não conseguir dar o retorno que dele se espera. Cabe ao clube investigar o porquê disso e, feito o diagnóstico, eliminar o problema. Aqui está, a meu ver, o grande problema do Atlético nas duas últimas temporadas. E, por isso, cabe ao torcedor não só esperar que o clube se debruce sobre esta questão, mas também questionar, cobrar e provocar soluções.
O vencedor da Libertadores de 2024, por exemplo, terá vaga assegurada no maior mundial de clubes da história do futebol, previsto para ser disputado em 2026. E, apenas por participar, antes mesmo de entrar em campo, já fará jus a um prêmio de 50 milhões de euros. A medida em que avançar na competição os clubes abocanharão os maiores prêmios já distribuídos até então na história do esporte bretão.
É preciso, pois, que os dirigentes atleticanos continuem pensando grande, como grande é o Atlético de ontem e de hoje e grande deverá ser sempre o Galo de amanhã. Que entendam a importância do investir agora para colher amanhã e que se lembrem sempre que quem semeia ventos inevitavelmente colhe tempestades. Gastos/despesas é uma coisa, investimento é outra bem diferente.
Um grande, feliz e próspero ano novo. Tão grande como é o Atlético de todos os tempos, tão feliz como queremos que o Galo nos faça e tão próspero como o Glorioso pode ser se a Massa continuar jogando junto com o clube, dentro e fora dos estádios. Paz, saúde e muitas felicidades.
*Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, o pensamento do portal Fala Galo*