Cavacando até o Japão!
Por: Betinho Marques
Em meio a processos obsoletos, mudanças de cenário econômico e gestões impraticáveis vive o futebol brasileiro. Analisando a sobrevivência e a viabilidade, estão as maiores camisas atrasadas na gestão do futebol de resultados e do entendimento dos seus limites. Além de grandes identidades nacionais, as equipes são ambientes políticos, e estes, sempre estão arraigados com seus escudeiros inseparáveis: o “puder”, a luta por prestígios e articulações naturais de governança.
Raríssimas exceções, hoje Flamengo e Palmeiras já destoam por estarem no eixo e terem potencial de “vitrine” maior que os que estão fora deste cenário. Desta forma, quem não está inserido no conjunto pertencente a Rio-São Paulo precisa ser muito mais organizado, estruturado e ter planos bem mais consistentes.
Para aumentar o problema, os clubes são reféns das federações que perpetuam modelos e capitanias hereditárias em pleno século XXI. Os campeonatos estaduais, antes defendidos por discursos tradicionais para oportunizar o interior, não recebem mais engajamento e credibilidade.
O produto é ruim, a organização é pobre, são filmados até mesmo os barrancos sem torcida e muitos preferem hoje ir ao barzinho ou curtir sua Netflix.
Nem mesmo a visita dos grandes das capitais fazem valer a pena. O Campeonato Mineiro tem ticket médio máximo de R$13,00, esta é a cotação, o público não paga mais, com exceções dos clássicos. Em Minas, a FMF (Federação Mineira de Futebol) recebe 10% de cada jogo e os promotores do evento, os clubes, vez ou outra levam o prejuízo para casa.
Voltando à gestão dos clubes, por várias análises e resultados podemos fatiar, assim como uma Curva ABC, onde cerca de 80% das receitas do clube estão no tripé: *Transmissões (entre 40 e 45%) + Transferências (entre 20 e 25%) + Patrocínios (entre 10 e 20%).
*Transmissões – 45%:
Analisando isso, percebe-se o quanto os clubes brasileiros são reféns da TV. O “buraco” só aumenta quando os mandatários antecipam receitas de anos vindouros por necessidade e falta de estatutos atuais, regras fiscais, conselhos que sejam responsabilizados por suas rubricas e que responsabilizem as ações executivas no limite de seu mandato. É cavacar e afundar mais para o próximo, até chegar ao Japão!
*Transferências – 25%:
Os clubes da América do Sul, em função da disparidade econômica, precisam vender. Para vender é preciso formar e revelar. O Brasil é exportador de commodities (matéria-prima). São exemplos: laranja, soja, petróleo, minério de ferro. Além disso, exporta jovens cada vez mais novos ao velho continente e não há competição, há imposição econômica. Desta forma, quem não forma, não vende, torna-se refém de empresários e não “gira a roda”.
Não há comparação em nada que possa nivelar a UEFA com a Conmebol, nem na “identidade cultural” que copia mal, nem nas músicas-tema. A América do Sul está atrasada desde o fuso-horário de Greenwich aos processos de identificação da gestão por resultados. Por ora, vender é o que há, se houver.
É necessário ter para vender e sobreviver!
*Patrocínios – 10%:
Mesmo precisando vender jogadores, é vital ser atrativo, lotar estádios, disputar grandes competições e possuir engajamento nas redes sociais para atrair grandes investidores. Desta forma, profissionalizar a administração, pensar no clube com as perspectivas reais, evitando o “gigantismo” exacerbado que a paixão suscita é fundamental.
Em todos os clubes bem sucedidos, o futebol sempre pagou tudo, inclusive o próprio futebol e ele paga e mantém todo o seu entorno. Portanto, para ter bons patrocínios é preciso ter TIME de FUTEBOL, PLANO de NEGÓCIOS e entender o cenário de inserção de cada clube no tocante ao seu poder de alcance. Não será atrativo quem faz mais do mesmo, o igual ao que todos têm.
Nesta engrenagem a base retorna ao assunto, como parte da “colheita” de custos intangíveis e até imensuráveis, sendo bem gerida ela faz sobreviver os grandes clubes. Sem talento e sem o jogador que venda camisas, encante crianças e inspire multidões, não haverá bons parceiros.
*Os outros 20%:
Bilheteria + Programa de Sócio + Competições = 15%
Os programas de sócio e as bilheterias representam cerca de 10% das receitas dos clubes, os programas passam por ajustes, quedas em receitas e variações em função da cultura, economia e a mudança do perfil do consumidor do futebol. As pessoas lêem mais, escolhem, não aceitam “qualquer produto”. A culpa é de quem? Nunca será do torcedor, sempre será de quem não percebeu os cenários e as possibilidades. A culpa de não irem até você será sempre de quem não percebeu sinais e não abriu as portas, ou seja, a culpa é sua.
A Copa do Mundo que teve viaduto em queda, que construiu estádios em vazios demográficos como Amazonas e Pantanal, colhe seus frutos. A FIFA foi embora com o dinheiro para a Europa, o produto que restou a população pagará por muito tempo. Não sejamos ingênuos, grande parte do país voltou ao impraticável, ao insustentável. O povo pode pagar R$10,00, às vezes R$20,00 e se for muito bom pagará em Minas até R$40,00. Ou mudam tudo, ou vazio estará!
Alternativas para melhorar é fidelizar. Carnês mensais sem dependência de resultado. Carnê anual, receita certa, independentemente dos resultados, e previsões mais transparentes.
Bahia e Grêmio, que estão fora do eixo, possuem em seus sites os Portais de Transparência. O povo banca, carrega no colo, mas quer saber.
Para voltar a crescer, o futebol brasileiro precisa se juntar, recuar e se curar. O sócio é a torcida, e esta precisa sentir que faz parte do jogo.
*Outras receitas – 5%:
Por fim, completam entradas os clubes sociais (cerca de 0,5%) os outros aluguéis patrimoniais (cerca de 3,5%), no caso do Atlético especificamente, o número é irrisório de exploração da marca (cerca de 0,5%) e findando a soma, acrescenta-se as receitas de loteria (cerca de 0,5%).
Neste item ressalta-se a importância de conhecer as potencialidades da marca e as formas de explorar e fazer chegar seu distintivo além do horizonte. Criar produtos licenciados de forma prática e com faixas para todos os gostos e preços é aguçar a memória visual que é considerada a mais poderosa entre os sentidos por vários especialistas. Ver o distintivo em todo lugar é estar perto!
Outro item complementar ao exposto acima é a raiz, as crianças. Ter escolinhas e enraizar crianças da geração “Champions League” é perpetuar a história e gerar valor à marca. Por fim, sem esgotar nenhuma possiblidade de debate, evidenciamos a necessidade de ancorar o futebol brasileiro em uma revolução cultural que passa pela redução de conselheiros, de diretores, aumentando a transparência sem temor de entregar o doce.
Não entregando o doce e não mudando a gestão, a biscoiteria em breve estará fechada e esconder o buraco será como cavacar até o Japão.
*Os percentuais são reais em orçamentos já vistos, porém, com arredondamentos e projeções didáticas para bom entendimento do leitor.