O Galo na Copa: 1978, Reinaldo de braço erguido em Mar del Plata
Por: Hugo Fralodeo
Mar del Plata, Argentina, 3 de junho de 1978. Primeira rodada da fase de grupos do grupo C da Copa do Mundo. Brasil x Suécia. Aos 45 minutos da primeira etapa, Toninho Cerezo cruzou bola da direita, Reinaldo – que só foi convocado pelo clamor do povo -, se antecipou à marcação e bateu na saída do goleiro, empatando a partida em 1 a 1.
Não foi o gol do garoto de 21 anos, já craque do Atlético, que ficou para a história. Na comemoração, aquele que ainda seria condecorado o rei de toda uma Massa, como fez antes tantas vezes com a camisa 9 do Galo, depois de poucos segundos de expectativa por parte de quem assistia e hesitação do próprio, enquanto a bola ainda estava dentro do gol dos suecos, cerrou o punho e ergueu o braço direito.
À época, com a maioria da América Latina tomada pelos governos militares, a comemoração de Reinaldo foi considerada uma afronta. Nas palavras do próprio, comemorar seus gols com inspiração no movimento dos Panteras Negras e nos atletas olímpicos Tommie Smith e John Carlos – que, da mesma forma, protestaram contra o racismo nas Olimpíadas de 1968, ao receberem as medalhas de ouro e bronze, no pódio dos 200 metros rasos, na Cidade do México -, era um gesto socialista, um protesto contra a ditadura.
Reinaldo ainda esteve em campo no jogo seguinte, o empate sem gols contra a Espanha, mas foi barrado logo depois, voltando a campo naquela Copa só na disputa pelo terceiro lugar, contra a Itália, saindo do banco após o intervalo.
Antes do início da disputa, Reinaldo já havia sido recomendado a não comemorar daquela forma na Argentina, nem comentar sobre política em eventuais entrevistas. Inclusive, no embarque para a disputa da Copa, em Porto Alegre, ao ser cumprimentado, Reinaldo ouviu do presidente Ernesto Geisel a seguinte ordem: “Vai jogar bola, garoto. Deixa que política a gente faz”.
De fato, Reinaldo jogou muita bola. Apesar de não ter sido convocado para a Copa seguinte, mesmo sendo um dos melhores jogadores brasileiros em atividade, e de sua curta história na Seleção Brasileira – entre 1976 a 1985 disputou 37 partidas e marcou 14 gols com a amarelinha -, no Atlético, o Rei dispensa maiores apresentações.
Maior artilheiro da história do Clube Atlético Mineiro, com 255 gols – a maioria deles comemorados com o punho em riste – Destes, 152 foram marcados no Gigante da Pampulha, o que o faz maior artilheiro do Mineirão, onde tem uma placa por um gol marcado em 1977. Nos 13 anos de Galo, 475 jogos com o Manto, 19 títulos e 12 prêmios individuais. Porém, mesmo com seus problemas no joelho e carreira relativamente curta, abreviada pelas constantes lesões, para muitos, o maior e melhor jogador da história do Atlético. O “centroavante dos centroavantes”, símbolo de luta, símbolo da Atleticanidade, líder técnico do grande esquadrão da década de 80, infelizmente, Reinaldo também representa a injustiça para o Atleticano. 1977, 1980 e 1981 são prosas de outra série.