Atlético x Sistema: uma luta inglória que atravessa décadas e décadas
Por Max Pereira @MaxGuaramax2012
E mal o campeonato brasileiro de 2022 se iniciou e a arbitragem brasileira se fez protagonista do mal e, pior, sem nenhum constrangimento. O VAR que deveria ser instrumento da justiça e da reparação de eventuais erros, se apresentou também como elemento ratificador de falhas grosseiras, estranhas e indefensáveis.
O erro faz parte da vida e é inerente ao ser humano. Aliás, é o erro que dá sentido ao certo. O erro é fator essencial ao aprendizado e à evolução. Assim como a dor e o sofrimento, o erro nos tira da zona de conforto, nos deixa alerta e nos faz procurar um caminho melhor.
Todos os times do planeta, SEM EXCEÇÃO, já foram beneficiados ou prejudicados por erros da arbitragem. O erro é inevitável e também faz parte do jogo. Entretanto, o que deve ser analisado e alvo de crítica é a recorrência invulgar de erros favoráveis a determinadas camisas e prejudiciais a outras. E não há como desmentir e nem esconder isso.
A história do Atlético é particularmente recortada por episódios de triste lembrança, mas que devem ser rememorados exaustivamente por cada um de seus torcedores, de forma que essa Massa, que já derrotou o vento, se motive a se tornar o vetor propagador de uma virada institucional definitiva. Falo do resgate da respeitabilidade e da importância política desse Gigante adormecido e muito maltratado.
Uma eventual atuação ruim e os erros tão comuns aos comandos atleticanos não justificam a recorrente má vontade dos apitadores para com o Atlético e os constantes e repetidos erros de arbitragem contra o alvinegro, embora estes últimos expliquem muita coisa. O atlético e o jogo dos bastidores é uma história que precisa ser reescrita.
Ainda que sempre exista jogador, treinador e dirigente que buscam usar os erros dos árbitros e agora também do VAR como cortina para esconder suas falhas, no caso do Atlético os prejuízos que a sua história registra em consequência de arbitragens claramente facciosas e de decisões polêmicas de tribunais esportivos, que custaram, inclusive, títulos importantes, recomendam ao clube repensar sua desimportância política.
Futebol de há muito não se ganha apenas dentro de campo. O futebol se tornou um negócio multibilionário e sistêmico, cuja complexidade está a exigir cada vez mais dos clubes ações concretas e eficientes no jogo dos bastidores.
Hoje camisa, tradição e história não são mais suficientes para garantir vitórias e títulos. Muitos interesses se misturam e se conjugam moldando o futebol e dando ao esporte uma fisionomia cada vez menos romântica. Com isso vão-se longe os tempos lúdicos daquele futebol plástico, técnico e catártico.
É apropriado dizer e, não canso de repetir, que existe um sistema que comanda e conduz o futebol segundo um conjunto de interesses dos mais diversos atores que o compõem e nele interagem com graus de influência e poder diferenciados.
Esse sistema, cada vez mais sofisticado e com tentáculos cada vez mais poderosos, vem impondo aos clubes um nível de organização e de força política que a grande maioria é absolutamente incapaz de atingir, graças à incúria, à mediocridade e à imprevidência de seus dirigentes, os grandes responsáveis pelas gestões temerárias, pelas dívidas escorchantes e pelas intermináveis crises que vem solapando suas agremiações. O Atlético é um exemplo emblemático disso.
Televisão (detentora dos direitos de transmissão), outros órgãos de imprensa, entidades desportivas (Fifa, CBF, federações regionais), clubes, agentes, empresários, investidores, políticos, patrocinadores e fornecedores de material esportivo compõem, com graus de influência e poder diferenciados, esse complexo sistema. E não é só: futebol e política são irmãos siameses e se servem mutuamente.
O Atlético, que já foi jogado pelo sistema no terceiro escalão das receitas de transmissão televisa, não obstante ser um dos maiores vendedores de Pay-Per-View do futebol brasileiro e também dono de um dos maiores retornos publicitários já registrados no país, não só se vê o tempo todo obrigado a conviver com perspectivas de cair ainda mais nesse ranking, tem claramente perdido importância, força política e respeitabilidade ao longo dos anos.
Mas, como reagir e resgatar a respeitabilidade? Alguém pode dizer que cabe ao Glorioso ir até à CBF e cobrar energicamente. Mas eu pergunto, diante da gigantesca fragilidade política do clube, esse tipo de reclamação seria suficiente? Como fazer frente de forma efetiva a esses poderosos interesses político-econômicos que estão deformando e enlameando o futebol?
Jogo após jogo, independentemente da qualidade das atuações do time e dos resultados, o torcedor atleticano, há décadas, é convidado a conviver com arbitragens geralmente nocivas aos interesses do clube e que, ao longo da história, contribuíram decisivamente para que o Atlético colhesse revezes dolorosos.
É muito comum segmentos da imprensa e da própria torcida negarem o direito do clube e da própria Massa de reclamar das más arbitragens, sob o argumento de que o time jogou mal e, por isso, falar do apito seria apenas uma estratégia para desviar o foco das “verdadeiras” razões que levaram a resultados negativos.
Quantas e quantas vezes expressões do tipo “vão chorar na cama que é lugar quente” foram e continuam sendo jogadas ao ar aqui e ali. “Ah! Mas o time jogou muito mal, mereceu perder e você ainda quer jogar tudo nas costas do árbitro? ”e “Vá cobrar dos jogadores que falharam aqui e ali ou do treinador que não soube ler o jogo. Pare com o chororô!”, são outras pérolas sempre atiradas na cara do atleticano buscando retirar-lhe o direito de se indignar e cobrar o erro que, quase sempre, frustrou os seus sonhos e, muitas vezes, roubou-lhe da garganta o grito de campeão.
Uma coisa é uma coisa. Outra coisa é outra coisa. Tanto quanto são inevitáveis os jogos ruins do ponto de vista tático e técnico, são indesejáveis e recorrentes as arbitragens claramente tendenciosas, frutos desse conjunto de variáveis político-econômicas. E esse fato não pode mais ser maquiado, distorcido e nem tampouco deixar de ser enfrentado.
Cobrar, se indignar, protestar, buscar valer os seus diretos e pleitear que a justiça prevaleça são, ou pelo menos, deveriam ser direitos sagrados não só do atleticano, mas de qualquer pessoa, de qualquer cidadão. A intimidação que sofre o atleticano infelizmente tem funcionado. Mesmo reconhecendo que o clube foi mais uma vez vítima de erros crassos, muitos torcedores mostram pudor excessivo quando se lhes exige reclamar e botar a boca no trombone.
Há uma “verdade” sobre o futebol largamente difundida que muito contribui para tolher a indignação do atleticano e fazê-lo envergonhar-se de externá-la e protestar: o futebol é a coisa mais importante entre aquelas que não têm importância alguma. O futebol, na verdade, é um fenômeno sociocultural tremendamente importante. E este lado lúdico que o tornou o esporte mais popular do mundo não pode ser desprezado.
Esse é um assunto complexo e impossível de se esgotar em um só ensaio. Da mesma forma que já escrevi sobre isso mais de uma vez, outros artigos virão. Por ora, um alerta: se você atleticano se omitir, não cobrar e não agir, o clube não reagirá a altura. A história alvinegra mostra isso. Essa torcida que já derrotou o vento nas arquibancadas e gerais, não pode se furtar a acreditar que pode também vencer este tsunami.
O Brasileirão e a Libertadores já se iniciaram e a Copa do Brasil já está chegando. O que vai acontecer com o Galo nestas três competições depende de todos nós, torcedores, dirigentes, funcionários e jogadores. Se alguém falhar, o clube sofrerá as consequências. A bola pune. A bola não perdoa.