Tem coisas que parecem que só acontecem com a SAF atleticana
Por Max Pereira @MaxGuaramax2012
Os mais antigos devem se lembrar de uma frase dita e repetida aqui e ali em tom de chiste, mas que no fundo, no fundo, era algo doído, broxante: TEM COISAS QUE SÓ ACONTECEM COM O ATLÉTICO.
O time do povo, convulsionado por natureza, tumultuado com frequência irritante e preocupante por suas eternas e rotineiras crises e susceptível ao extremo aos ataques perpetrados pelos mais diversos agentes externos que, por interesses vários e, quase sempre inconfessáveis, buscam desestabilizá-lo e daí, tirar alguma vantagem, em razão de seu gigantismo natural e da explosiva relação clube-torcida, marca registrada e histórica desse Galo maluco e apaixonante, parece mesmo justificar tão malfadada sina.
A Sociedade Anônima do Futebol surgiu no ordenamento jurídico-legal do futebol brasileiro para salvar e tirar da bancarrota os clubes brasileiros mergulhados em um endividamento escabroso e imoral. Para muitos, a SAF veio para institucionalizar o calote. E, de certa forma, parece ser isso mesmo.
Mas, independentemente do que parecem ser, é incontroverso que as SAF’s mudaram o futebol brasileiro para sempre. E não apenas no que se refere à radical alteração do modelo societário dos clubes, fato decorrente de sua constituição, mas e, principalmente, no que concerne às suas implicações e consequências. A relação clube-torcida, raiz desse fenômeno sociocultural fascinante e cativante que enfeitiça milhões e milhões de brasileiros, é, por exemplo, seguramente afetada.
No artigo “ENTRE UM SEM NÚMERO DE RECADOS MIDIÁTICOS, FAKE NEWS E NOTÍCIAS, O GALO COMO SEMPRE É UMA FONTE ÍMPAR DE ESPECULAÇÕES”, publicado neste último dia 9 no Arquibancada do Galo, escrevi que “aprendi há muito tempo que quem vende jornais e revistas em Minas e dá audiência em programas de rádio e de TV é o Atlético”.
E emendei: “Este fenômeno midiático, para o bem e para o mal, se repete nas redes sociais”, aduzindo ainda que “o Glorioso não conseguiria passar impune a todo esse “sucesso”. Entre aspas sim, vez que nem sempre colhe resultados positivos”.
Mas, a SAF alvinegra parece se ressentir também de outros imbróglios históricos da associação originária. Por isso, no artigo citado acima escrevi o seguinte: “dizem que o elefante só não é o Rei dos animais porque não sabe a força que tem. O Atlético, tal e qual o elefante, parece desconhecer a própria força e a desperdiça por não saber utilizá-la, seja para explorar o extraordinário retorno publicitário que sempre provoca, seja para desenvolver ações de marketing com o objetivo de aumentar o cacife de sua marca, seja ainda para captar melhores contratos de publicidade, de patrocínio e maiores cotas de transmissões televisas”.
Tal e qual o clube que lhe deu origem, a SAF atleticana vem evidenciando estar enfrentando as mesmas dificuldades que ao longo dos anos fizeram este Galo esquizofrênico se chafurdar em uma dívida galopante. E, por falar em dívidas, o tratamento que a SAF alvinegra está dando às dívidas da associação Clube Atlético Mineiro, sociedade sem fins lucrativos que a instituiu, tem sido alvo de críticas cada vez mais recorrentes e pesadas seio da massa atleticana.
Já escrevi mais de uma vez que se de um lado, a Lei 14.193 que instituiu a SAF no futebol brasileiro prevê mecanismos de rolagem e quitação das dívidas dos clubes originários, regras de gestão e de convivência com a associação que lhe deu origem, de outro deixa dúvidas e incertezas.
A SAF do Glorioso tem o condão de suscitar mais e mais inseguranças e perplexidades. Ora, enquanto John Textor, dono da SAF do Botafogo, vem cobrando uma legislação que claramente possa blindar as SAF’s da incúria dos dirigentes dos clubes originários e, nesse sentido, dos recorrentes descumprimentos de suas obrigações para com os credores, inclusive os das dívidas trabalhistas, a SAF atleticana trilha caminho oposto.
A Lei 14.193/21 prescreve delimitações em relação a obrigação das SAF’s em relação às dívidas contraídas pelos clubes originários, seja antes de sua constituição, seja após. No Atletico, os investidores fizeram exatamente o contrário ao terem “assumido” as dívidas do clube, desprezando as benesses da Lei da SAF. Por que? Por que fizeram isso? É a pergunta que não quer calar e que vem suscitando alguns debates nas redes sociais e uma ou outra matéria na mídia tradicional.
Ainda que algumas dessas discussões sejam entremeadas de opiniões pueris, sempre há algo de muito lúcido, interessante, provocativo e construtivo postado por alguns perfis. Outros questionamentos importantes e imprescindíveis acabam sendo sacados e, confesso, inspiraram este ensaio. Por exemplo, por que o clube está adotando esta política de austeridade? Por que impediram o Galo de buscar sanear as suas dívidas por meio da Recuperação Judicial? O que de fato está impedindo a SAF de investir no futebol?
O grande atleticano @tomazaraujo13, por exemplo, postou a seguinte mensagem: “Defendi venda do shopping e SAF. Na teoria, R$ 350 milhões do shopping abateriam TODA dívida onerosa e a SAF elevaria o patamar esportivo. Na realidade, dissolveram o patrimônio e a dívida em 2024 é MAIOR que em 2019 quando os 4Rs assumiram. Somos um case global de incompetência”. E pergunta: “junto com a E&Y, o Galo indicou que a venda do shopping tinha uma projeção de reduzir R$ 538 milhões da dívida onerosa. Saberiam nos explicar onde foi que erraram?”
E mais: por que não alteraram o estatuto do clube antes de constituir a SAF? Por que só agora propõem mudar o estatut e quais alterações estariam sendo colocadas à apreciação dos conselheiros? Estas alterações teriam a ver com uma ação interposta por um hoje ex-conselheiro e ex-sócio e, em consequência, com a não aceitação dos embargos oferecidos pelo clube? Estas e outras perguntas precisam ser respondidas.
Muitas das questões que envolvem as SAF’s e os clubes que lhes deram origem ainda irão se arrastar pelas instâncias judiciárias por muito tempo. Algumas, até serem pacificadas pelo STF. O novo projeto de lei que tramita no Congresso Nacional introduzindo alterações na Lei da SEF certamente vai gerar outros conflitos. E a SAF atleticana, assim como o clube, vai também gerar suas crises e suas pendengas. Afinal, tem coisas que só acontecem com o Atlético? Alguém duvida? Pergunte à história.
*TEXTO DE RESPONSABILIDADE DO AUTOR E NÃO REPREENDE, NECESSARIAMENTE, O PENSAMENTO DO PORTAL FALAGALO.