Servidor da Prefeitura de Ipatinga que teria distribuído ingressos no Ipatingão justifica presença no local e a abertura de apenas um portão para o acesso de Atleticanos
Por: Angel Baldo e Hugo Fralodeo
Ainda nos desdobramentos das graves denúncias por parte de torcedores presentes no Ipatingão para acompanhar o jogo entre Ipatinga e Atlético, válido pela terceira rodada do Campeonato Mineiro, no último sábado (4), acerca da má organização do evento por parte dos organizadores, que culminou em momentos de insegurança para os presentes, o FalaGalo recebeu diversas denúncias de que havia superlotação no estádio, além de que pessoas responsáveis pela fiscalização dos ingressos estaria deixando de recolher alguns bilhetes e repassando outros ingressos recolhidos a terceiros.
Segundo pelo menos sete relatos de torcedores presentes e que têm seu direito ao anonimato resguardado, pessoas passavam pelos portões sem ter o ingresso recolhido e não foi raro ver ingressos que foram comercializados pelo Ipatinga FC nos preços de R$ 50 (meia entrada) e R$ 100 (inteira) sendo repassado por valores bem abaixo do que os vendidos nas bilheterias.
Conforme o relato de outros tantos torcedores ouvidos pelo FalaGalo, mudanças repentinas no acesso para a torcida do Atlético ao estádio e a falta de profissionais para fazerem fiscalização adequada, foram preponderantes nos problemas causados. Em destaque, o relato de um torcedor residente em Ipatinga, registrado em matéria publicada na manhã do último domingo (5), que foi ao jogo e presenciou o ocorrido:
“Presenciei tudo, foi um completo absurdo. Mudaram o portão de acesso e abriram duas entradas pequenas. No momento que entrei, contei cinco pessoas passando sem ter ingressos recolhidos”.
De acordo com outro torcedor, realmente a fiscalização era precária e algumas pessoas poderiam sim ter adentrado ao estádio sem ter ingresso recolhido:
“Já na entrada a torcida se aglomerou em apenas um portão, que tinha apenas uma portinha aberta, com dois funcionários recolhendo os ingressos para a entrada. Era impossível esses dois funcionários darem conta do fluxo. Se alguém quisesse entrar sem ingresso, conseguia”.
Durante todo o dia de domingo e também durante a manhã e a tarde desta segunda-feira (6), recebemos diversos outros relatos que corroboravam com tais palavras. Até que, no início desta tarde, já após o Ipatinga FC emitir nota eximindo a Prefeitura da cidade de Ipatinga de culpa, recebemos, de pelo menos SETE torcedores presentes, relatos que apontavam um – até então – suposto funcionário da Prefeitura Municipal, que estaria distribuindo ingressos no local da partida.
🐓 Em Nota Oficial, o Ipatinga afirmou que a prefeitura local não teve responsabilidade sobre os acontecimentos do último sábado (4), contudo, um suposto funcionário (de preto) da prefeitura pelo apurado, estaria distribuindo ingressos aos torcedores no local do jogo.#FalaGalo pic.twitter.com/euCeu2PF3H
— Fala Galo (@Falagalo13) February 6, 2023
Posteriormente, tomamos conhecimento que a imagem repostada se tratava de uma captura de tela que registrou publicação em um perfil de rede social da própria pessoa em questão, que, ao procurar o FalaGalo, se identificou como Elias, servidor público da Prefeitura de Ipatinga, atualmente responsável pelo setor que cuida dos equipamentos públicos de esporte da cidade.
No contato, Elias justificou sua presença em um dos portões de acesso para a torcida do Atlético e revelou, segundo ele, o real motivo para que apenas um portão fosse aberto na área:
“Eu sou o Elias, servidor público da Prefeitura Municipal de Ipatinga. Sou responsável pelos equipamentos públicos de esporte da cidade. Todas as quadras e campos de futebol estão sob minha responsabilidade e do meu departamento. Como responsável por um dos equipamentos, o Ipatingão, eu estava, no dia do jogo, ajudando na coordenação do trabalho do clube, mas a serviço Prefeitura”.
“Na hora da abertura dos portões, por volta de 16h30, o portão 9 não tinha a condição de ser aberto porque o clube (Ipatinga FC) não contratou a quantidade suficiente de (agentes de) segurança para o evento, ao que tudo indica. Então, por ordem do meu superior, eu me prontifiquei a comparecer ao portão 9, junto com outro servidor público – que eu não vou identificá-lo porque ele não aparece nas imagens -, para poder ajudar na entrada (da torcida) no portão 9. Então, tinha um segurança e seis policiais militares. Nós, esse outro servidor e eu, recolhíamos os tickets, e o segurança fazia a revista”.
Elias garante que não permitiu a entrada de nenhum torcedor que não portasse ingresso, reiterando – como mostra as imagens abaixo – que ele não tinha acesso a bilhetes. Segundo conta Elias, terceiros estão usando a postagem feita pelo FalaGalo em que ele aparece em imagens para prejudicá-lo politicamente:
“Esse outro servidor, o segurança e os seis policiais militares são testemunha que, em momento algum, eu passei qualquer pessoa sem ticket ou dei ticket para alguma pessoa. Tudo que eu fiz foi dentro dos preceitos e critérios legais. O ingresso é por conta do time. Eu não tenho vinculação nenhuma com o clube da cidade (Ipatinga FC), então eu não tenho acesso a nenhum tipo de ingresso. Eu posso provar isso e vou usar das minhas redes sociais para fazer isso. Vocês (FalaGalo) fizeram uma postagem só por informações que vocês receberam, sem perguntar nada para a pessoa que aparece na imagem. E (terceiros) estão usando isso para me queimar politicamente aqui na cidade, porque sabem que eu sou candidato aqui na cidade, e isso é foda”.
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O FalaGalo reforça seu compromisso com o jornalismo imparcial e resguarda o direito de sigilo da fonte, que está previsto entre os direitos fundamentais, no art. 5º, inciso XIV da Constituição Federal do Brasil:
“é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional”.
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Reforçamos que, antes da publicação e das atualizações de todas as matérias relacionadas ao caso, entramos em contato com todos os envolvidos na partida: o Clube Atlético Mineiro, que prometeu avaliar o caso e se manifestar, como assim o fez; e, no caso, os também responsáveis pela organização do jogo: o Ipatinga Futebol Clube, que não retornou até o presente momento, mas emitiu nota oficial através de perfis oficiais nas redes sociais; e a Federação Mineira de Futebol (FMF), que respondeu estar apurando o ocorrido para se pronunciar e também emitiu nota, já na tarde desta segunda-feira (6).
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Foto: Pedro Souza/Atlético