Resiliência e superação: marcas desse Galo maluco
Por: Max Pereira –
O Galo é o time da virada, o Galo é o time do amor. Nunca um mantra se encaixou tanto em um time de futebol quanto este cantado em verso e em prosa pela massa atleticana onde quer que o Galo mais famoso e mais querido do mundo esteja jogando e ao menos um atleticano lá esteja vibrando, torcendo e derrotando o vento.
A virada épica do Atlético conquistada no peito, na raça, no fígado no último terço do segundo tempo e sacramentada nos segundos finais da etapa complementar, mais precisamente aos 52 minutos, contra o Fortaleza, contra a arbitragem, contra si mesmo, enfim, contra tudo e contra todos, não só salvou o emprego do Turco, como evitou que o próprio clube mergulhasse em mais uma daquelas crises destrutivas que, de tempos em tempos, abala os alicerces atleticanos.
O grande amigo, atleticano e humanista João Diniz Júnior, ex-presidente do IPSEMG, sintetizou tudo isso com apenas uma frase: “o Turco foi salvo pela raça e pela tradição do Galo”.
Ao final do jogo, o Luiz Augusto do Portal Mais Galo 13 buscou as redes sociais para dizer que ele tinha revivido naquela noite de sábado as emoções de outra virada ainda mais histórica e emblemática sobre outro tricolor nordestino, curiosamente de mesmas cores: vermelho, branco e azul. Outro tricolor de aço. Claro, ele falava daqueles inesquecíveis e apoteóticos 3 x 2 sobre o Bahia que matematicamente garantiram ao Atlético a conquista do Brasileirão 2021 lá na Fonte Nova, na terra de todos os santos e sob as bênçãos do Senhor do Bonfim e a proteção de todos os orixás.
Já o Professor Tolentino e o Daniel Tibúrcio tiveram o mesmo revival: o Atlético havia devolvido os 3 x 2 de 2005 impostos pelo Leão do Pici ao Galo no Mineirão em 2005. Naquela oportunidade quem saiu para o intervalo com uma vantagem de 2 x 0 foi o alvinegro das Gerais. E, no segundo tempo, deu no que deu.
Enquanto a Massa curtia, cada qual à sua maneira e jeito, a virada que havia feito descarregar nos corpos de cada um dos milhões e milhões de atleticanos que assistiram a essa partida em qualquer parte do planeta trilhões e trilhões de litros de adrenalina e de outros tantos hormônios associados, Mohamed em sua entrevista coletiva, ainda tenso e com muita personalidade, não só rechaçou com autoridade e altivez algumas perguntinhas maldosas, como deixou claro que as armadilhas do futebol conspiraram contra a sua estratégia e, por isso, ela não funcionou no primeiro tempo e o time, de fato, jogou mal, obrigando-o a desfazer o sistema com três zagueiros e colocar Vargas em campo antes do previsto recomendado pela fisiologia.
Sobre isso o sempre sensato e arguto Marcos Boaventura fala com maestria:
“O erro do Atlético no 1o. Tempo não foi entrar com um time mesclado. Tinha que entrar com time alternativo porque estamos sofrendo com muitas lesões e o risco de perder mais jogadores era grande. O erro não foi mesclar, MAS COMO MESCLOU. A ideia era o esquema do Vojvoda, treinador do Fortaleza, com 3 zagueiros. Como diz o ditado: errar é humano, mas permanecer no erro é burrice. E, aos 30 minutos, Turco tirou Alonso e colocou Vargas. Por que tirou Alonso? Para preservar o grupo. É isso que as viúvas do Cuca não entendem. Turco protege seu elenco. E o jogo começou a mudar. Bem, não precisa muito comentar o 2o. Tempo. Outro esquema tático”.
E o Marcão continua: “Aquelas transições rápidas do Fortaleza não seriam mantidas. Ninguém tem pulmão para fazer aquilo o tempo inteiro. Rubens jogando muito e Fábio Gomes não deixando a defesa adversária descer. E, como o jogo não encaixava por baixo… a virada poderia vir pelas jogadas aéreas. Jogo histórico. Muitas lições. Estes jogos são bons para fortalecer o time mentalmente”. E eu acrescentaria: emocional e psicologicamente também.
E, por fim, o velho Boaventura emenda: “O Turco tem uma maneira de construir sua relação de confiança com os jogadores de forma muito interessante. Rever errou no 2o. gol do Fortaleza. Turco poderia tê-lo sacado do time, mas optou por tirar Alonso. Por quê? Porque se tirasse Rever, além de não preservar Alonso para os compromissos seguintes como estava previsto inicialmente, fatalmente queimaria o Capitão América. É por isso que eles gostam do Turco. E, como retribuição, Rever fez o gol do empate. É assim que se constrói um laço forte, quase que indestrutível. Muito interessante esta filosofia de se pensar o grupo de jogadores”.
Se o Atlético é resultado de uma mistura indissolúvel, histórica, religiosa, cozida no sol e na chuva com a sua incomparável massa torcedora, momentos épicos como essa virada diante do Fortaleza e tantas outras que vêm marcando a história desse Galo maluco e apaixonante são o subproduto dessa costura mítica e mística de amor, paixão, cumplicidade e idolatria.
E, é em uma relação de moto contínuo, retroalimentando-se, que time e torcida trocam energia, força, fé e cacifam essa fantástica resiliência e essa absurda capacidade de superação, marcas indeléveis desse Galo maluco. É por meio desse intercâmbio mágico que se constrói aquele laço forte e quase indescritível descrito pelo grande Marcos Boaventura. Turco tem lá cometido seus erros é verdade, mas também é fato que ele tem buscado o melhor remédio para a “cura” de seu time.
Ou seja, ao se identificar com os problemas de cada um e assim protegê-los, Mohamed joga junto com os seus jogadores, gera cumplicidade e os ouve dizer que dão a vida por ele. E, na melhor filosofia que marca o universo alvinegro, dar a vida por ele e dar a vida pelo Atlético se tornam uma coisa só. Por isso, não tenho nenhuma dúvida de que Mohamed já sacou a mística atleticana e de que, de certa forma, ele também está se ajudando a manter no emprego. Se de um lado, dar a vida pelo Atlético é a marca do seu torcedor, de outro, é também a resposta que o atleticano quer receber durante os 90 minutos de todos os jogos.
É nessa toada que todos os atleticanos, estejam onde estiverem, sejam torcedores, dirigentes, jogadores ou funcionários, certamente irão continuar jogando juntos, embalando o time em todos os seus desafios. É a lição que fica. É a esperança que nutre e embala a alma atleticana.
ESTE TEXTO E DE RESPONSABILIDADE DO AUTOR, NAO REFLETE, NECESSARIAMENTE, A OPINIÃO DO PORTAL.