Quem tem boca vai à Arena
Por Hugo Fralodeo
25 fev 2024 9h56
Há coisas que são tão inacreditáveis que nos fazem questionar nossa sanidade. Depois desse maluco clássico das multidões no Horto, me senti, como disse John Lennon em ‘Yer Blues’: tão ‘destrutivo’ quando o ‘Mr. Jones’ de Dylan.
A parada não é nem o que o time (não) tem jogado. A gente já está se acostumando a isso. Infelizmente. A verdade é essa. Nem aproveitar o “nascimento” de Alisson a gente pode…. Não deixam.
Mas, na verdade, não sou eu o Mr. Jones. Depois da coletiva de Scolari…. Cara, parecia mesmo que eu tinha entrado na minha sala com meu lápis na mão, vi um cara nu e perguntei “quem é esse homem?” ‘Você tenta mesmo, mas não entende. Algo está acontecendo aqui, mas você não sabe o que é. Não é, Mr. Jones?’
Eu não gosto mesmo de pesar em jogadores e treinadores. Minha linha de análise, comentários e opinião, além do muito que li e do pouco que eu sei, é baseada no respeito ao esporte, às pessoas, sobretudo ao Atlético. Já disse algumas vezes que há momentos em que prefiro me manter calado.
Capítulos atrás, eu disse que Luiz Felipe Scolari não é um dos nossos. Ele não entende o que é o Atlético, não partilha da nossa humildade, não abraça nossas causas, não faz questão de se conectar com a nossa conexão, energizar nossa energia. Um treinador que não vibra a nossa vibração, não sintoniza na nossa sintonia, que não trata o torcedor como o verdadeiro responsável pela bola rolar. Um treinador que não faz ideia do que a gente passou para chegar até aqui.
No início de julho passado, quando Scolari teve de cumprir suspensão diante do Vasco, Pracidelli, seu auxiliar, já havia reclamado do time ter que ser protagonista em uma partida após tomar um gol no início. Hoje, mais uma vez, o técnico se incomoda em ser o time de maior investimento, com maior capacidade técnica e precisar, veja só, atacar o adversário.
Nas décadas de 80, 90 e 00 também era assim. Estou enganado? Claro, com a evolução tática, quando o espaço se tornou fundamental no jogo, algumas coisas mudaram. Mas, vamos falar a verdade, né? Quem tem Hulk, Paulinho, Scarpa, Alisson, Arana, Rubens, Igor Gomes e outros jogadores que, apesar do que não têm rendido, possuem qualidade técnica, quando seu “brucutu” é o Battaglia ou o Otávio, se você não consegue furar uma defesa, realmente tem algo errado mas você não sabe o que está acontecendo.
O “bom jogo” do Atlético era sustentado nas individualidades. O gol de empate, inclusive, só saiu pela insistência de Hulk, a potência no chute do artilheiro e o trabalho de Rubens. Na única jogada em que Paulinho teve “autorização” para sair da ponta-esquerda e se aproximar de Hulk, ficou na cara do gol – o gol dele não sai é por isso, pela distância da área, assim como no início do jejum de vitórias no ano passado. Pouco antes, na única vez que o time trabalhou a jogada, Hulk colocou Saravia em condições de finalizar bem.
Rubens decide jogos e ganha mais minutos no banco como prêmio. Alisson era o melhor em campo e sai para a entrada de um jogador que não vestia uniforme de jogo há um mês! Quem não está preparado mentalmente para partidas como essa somos nós, torcedores. Superamos Tijuana, viramos sobre Corinthians e Flamengo, mas esse tipo de “jogo”, isso é demais.
‘Você entrega seu ingresso e vai assistir ao show’. Antes do quinto dia útil, sábado à tarde, talvez chova. Fase péssima, desacreditados. 1.800 fazem barulho, hostilizam. Não havendo “manobras”, pode ser que 30 a 40 mil tenham se sentido convocados.
Eu também prezo pela continuidade, mas só até quando vejo que tem jeito. É muito raro que um trabalho dê certo sem a ação do tempo. E quando não há trabalho algum? Eu pedi paciência com Dudamel. Eu discuti pelo Sampaoli. Eu perdi a pose com Cuca. Eu fechei com o Turco. Eu mexi o doce com Cuca de novo. Eu fui um dos poucos a ter coragem de pedir um voto de confiança a Coudet, que, diga-se de passagem, foi expulso da Cidade do Galo por muito menos.
Não achem que continuar agora é o antídoto para o que não deu certo antes. Não insistam nisso só pela ideia do “vamos fazer diferente”. Não alimentem a superstição de que os astros se realinharão, os gols de Paulinho voltarão, Everson consagrará a zagueirada toda e “tudo” vai dar certo. Clima no vestiário não deve ser planejamento. O Atlético ainda tem cerca de 45 dias até a coisa começar para valer. Ainda dá tempo.
* Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, o pensamento do portal Fala Galo.