Preto no branco: muitas histórias e pouco futebol
Por: Max Pereira
Lá se vão mais sessenta anos que escutei a primeira vez que os chamados clubes de massa, times do povo, são por excelência convulsivos, esquizofrênicos e palcos de crises intermináveis, ora geradas dentro de seus muros, ora plantadas por agentes externos que, por interesses diversos, destilam seus venenos e corroem os alicerces e projetos dessas agremiações, se aproveitando das suas costumeiras fragilidades e da incúria de seus dirigentes.
E o Atlético indiscutivelmente tem honrado com louvor este pensamento. Quem acompanha minimamente a vida do Glorioso sabe que a política interna do clube sempre se pautou paradoxalmente por cizânias históricas e, ao mesmo tempo, por decisões em seu colegiado máximo, o Conselho Deliberativo, quase sempre polêmicas, impensadas, irrefletidas e criticáveis, ungidas na maioria das vezes por uma não surpreendente, porém, triste e melancólica unanimidade.
Enquanto a temporada atual se aproxima do fim, sem que o Atlético tenha sequer garantido ainda a sua presença na fase de grupos da Copa Libertadores, principal competição do continente, o clube vem se dividindo entre atuações pouco convincentes de um time que não consegue refletir dentro de campo o futebol que, no papel, o seu elenco indica possuir, e um emaranhado de notícias e “notícias” sobre seus bastidores.
Da mesma forma que o time atleticano não consegue mais encantar ao seu torcedor e nem a qualquer apaixonado pelo esporte bretão, mostrando-se pouco ou nada inspirado, desarticulado, sem o viço, o brilho nos olhos e a alegria de antes, fora das quatro linhas, o clube também não vem conseguindo inspirar em seus aficcionados minimamente conscientes da gravidade do momento atual, nenhuma tranquilidade. Ao contrário, vem gerando muitas e muitas incertezas e preocupações.
Sei que os meus artigos nesse ano de 2022 podem estar gerando aquela mesma sensação desagradável que os arranhões nos velhos discos de vinil provocavam e estejam se tornando para muitos uma irritante e infindável repetição de críticas e de alertas. Mas, como escrever diferente e me omitir diante dos recorrentes problemas do clube, cuja solução parece a cada dia que passa ainda longe de acontecer. E pior, não se vê nenhuma luz no fim do túnel e o futuro do clube parece cada vez mais incerto e preocupante.
A SAF atleticana parece ser algo certo e sem volta. Mas, que Sociedade Anônima do Futebol será essa se, ao contrário daquilo que sempre foi alardeado pelo próprio clube, os investidores encontrarão uma associação originária bastante endividada, uma Arena que já nasce sufocada por um passivo significativo e preocupante e, em razão disso, com as suas receitas nos primeiros cinco ou seis anos de sua existência totalmente comprometidas e com o valor de mercado de seus ativos depreciado e ainda em queda incontrolável, graças aos inescondíveis erros de avaliação e as inúmeras escolhas erradas que marcaram a gestão da entidade e que se refletiram pesadamente no rendimento do time dentro de campo?
O bom senso indica que aquele caminho, antes defendido e até certo momento perseguido pelo clube, que seria o de arrumar a casa primeiro, sanear as dívidas, alterar o estatuto e dispor estrategicamente do patrimônio sem desvalorizar os seus ativos de qualquer natureza, era e continua sendo o mais indicado. Mudou por que? Por que mudou?
Ao continuar navegando indefinida e incontrolavelmente ao sabor de muitas histórias e “histórias”, só restará ao Atlético continuar a mostrar dentro das quatro linhas este futebol insosso de um time perdido em campo, onde pontuam jogadores com a autoestima colapsada e correndo de um lado para o outro sem coesão, sem alegria e sem contundência e, no jogo dos bastidores, a deixar antever um futuro nebuloso, preocupante, de muitas perguntas e poucas respostas.
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