Preto no Branco: É sempre tempo de esperançar
Por Max Pereira @Pretono46871088 @MaxGuaramax2012
E o Natal já está bem aí. Tempo de confraternização e de muita reflexão. Independentemente de sua religião, crença, fé ou de sua gnose, i.e., de seu conhecimento e sabedoria, todo ser humano, de uma forma ou de outra deixa-se levar por algum tipo de introspecção e análise do ano que está se findando e, claro, de sua própria existência.
Viver não é fácil para ninguém. A busca do sentido da vida é tarefa insana e angustiante. Perguntas, respostas, fugas, devaneios, dúvidas, mistérios, expectativas, sonhos e os inevitáveis choques com a realidade compõem o mosaico de nossas trajetórias neste mundão de meu Deus, como dizia a velha Zulmira, aquela atleticana que não entendia de futebol, mas da vida era uma doutora que nenhuma Harvard ou Sorbonne do mundo poderia diplomar.
Para Dona Zulmira um gol do Atlético era a redenção de todos os seus pecados e a sua vingança particular contra tudo e todos que, de uma forma ou de outra, lhe tiravam a tranquilidade e mostravam que o mundo era cruel, perverso e muito complicado. Coisa do demônio. Coisa do próprio homem, ela o sabia como ninguém. Coisa nossa.
Ela sabia também que sem o mal o bem não teria nenhum sentido e que a dor era a mola mestra da vida. A velha Zulmira ensinava que era preciso perder e saber perder para vencer e aprender a vencer. Que era preciso sair da zona de conforto para evoluir, crescer e conquistar tudo aquilo que almejamos. E que só a dor, a frustração e a derrota nos dão o combustível de que todos precisamos para seguir em frente.
Para muitos a felicidade se existe é efêmera, fugaz, fugidia. Para o atleticano, então… . 2023 foi um ano tipicamente atleticano. Alguém duvida? Digo isto não para normalizar e vulgarizar os tristes momentos do clube dentro e fora do campo. E, sim, para dizer uma vez mais que É SEMPRE TEMPO DE ESPERANÇAR.
Curiosamente, o atleticano que nas arquibancadas e gerais não só derrotou o vento um sem número de vezes, como também tornou possível o impossível, fora dele tem se mostrado excessivamente refém do mantra do sofrimento e se revelado temerariamente impotente e desesperançoso sobre como participar da vida do clube, nela influenciar, agora que o modelo societário do clube passou pela maior e mais radical transformação de sua história, a constituição e a implementação de sua SAF.
Há muito o que escrever e falar sobre a SAF atleticana. Melhor, há muito o que perguntar, cobrar, criticar e questionar sobre a Sociedade Anônima do Futebol do Galo mais famoso e mais querido do mundo. Por ora e, mesmo sem entrar em detalhes sobre o que deve mudar e o que não pode mudar com o advento da SAF, devo dizer que o sentimento de pertencimento e de identificação do torcedor para com o clube, ainda que colocado em xeque por alguns, é, a meu ver, o grande handicap, a grande âncora de um clube muito especial chamado Atlético Mineiro.
Aliás, conforme escrevi no artigo “EU ACREDITO NA ATLETICANIDADE E VC?”, publicado aqui no Fala Galo em 5.12 próximo passado, ‘o Atlético só é o Gigante que é em razão desse binômio “clube/torcida”. Sem a Massa o Galo sequer existiria. Essa é a lição das arquibancadas’.
E vale a pena repetir: “Quantas e quantas vezes adversários exaltaram a massa atleticana e disseram, com todas as letras, que foram derrotados por ela? Atlético e massa são um só. Se o gigante acordar e souber aquilatar a força que tem, o Atlético se converterá de vez em um time do mundo, vencedor e campeão como poucos. E ser esse despertador é função de qualquer atleticano.
E essa possibilidade aterroriza a gregos e troianos. Essa perspectiva assusta e é a razão, não só dessa raiva incontrolada de várias vozes da mídia do eixo e da própria imprensa local, mas dos ataques e prejuízos históricos que o Galo vem sofrendo há anos. O que se viu no Mineirão neste último jogo do Galo em Belo Horizonte nesta temporada foi um espetáculo de rara beleza e de suprema emoção”.
Mas, o que se viu em Salvador na despedida do Brasileirão, quando o time atleticano entrou em campo com chances matemáticas de título e a bordo do maior mantra de todos os tempos no esporte mundial, o “Eu Acredito!”, soou como uma bofetada na cara do atleticano. Coisas do Atlético? E, ainda que a história do Glorioso nos incline a naturalizar atuações e resultados desse tipo, prefiro acreditar que é coisa para nos cutucar e fazer buscar respostas.
A velha Zulmira, mesmo sendo absolutamente incapaz de fazer qualquer leitura tática do jogo, certamente sairia à busca de respostas. Que clube é esse capaz de uma atuação epopeica como essa diante do tricolor paulista e de três dias depois fazer um jogo pífio, sem inspiração, sem contundência, sem brilho diante do Bahia?
E por que, ao contrário de 2021, o Senhor do Bonfim e os orixás amigos, naquele sincretismo religioso que só tem lugar na Boa Terra de Gil, Castro Alves, João Gilberto, Rui Barbosa, Keno e Mãe Menininha do Gantois, dessa vez viraram as costas para o Galo das Alterosas?
Se tudo o que acontece dentro de campo é fruto do que ocorre fora das quatro linhas, onde o Atlético está errando a ponto de ser tão irregular assim? E, por fim, a a velha Zulmira faria a pergunta que vale um milhão: o que o clube deve e pode fazer e, principalmente, o que nós atleticanos podemos e devemos fazer para ajudar o clube do nosso coração a não cometer tantos erros?
Enfim, como podemos e devemos ser partícipes efetivos da vida do clube fora das arquibancadas e das gerais? Isso é esperançar. Isso é mais que esperar que aquilo que queremos caia no nosso colo de presente, de graça, sem nenhum esforço. Isso é fazer com que o nosso sonho se concretize. É fazer por onde. É ser agente da história do clube. E é sempre tempo de construir. É sempre tempo de esperançar.
Um feliz natal. Um Natal em preto e branco. Acreditando, realizando e esperançando sempre.