Nem que seja por 1/2 a zero…
Foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A
Por Max Pereira
O saudoso CAFUNGA, se ainda estivesse entre nós, falaria que hoje vamos ganhar do Palmeiras nem que seja por ½ a zero. Meio a zero? Sim. O velho mestre contava que ele teria participado de um jogo que terminou assim mesmo ½ a zero para o Atlético. Mas como assim? As bolas daquela época eram de couro costurado e tinham uma câmara de ar por dentro. E no fim da partida houve um pênalti a favor do Galo.
Pedrão colocou a bola na marca da cal e deu aquela pancada. Acontece que uma das costuras se rompeu e a câmara de ar saiu da bola e entrou no gol, enquanto a carcaça de couro teria ficado no meio do caminho. O Juiz não teve nenhuma dúvida: meio gol e logo depois encerrou a partida. Resultado na súmula: Galo ½ x Zero. Era com essas histórias que CAFUNGA, o mais emblemático e mítico goleiro da historia alvinegra, mais do que nos divertia, nos incendiava e nos inebriava com a mística atleticana.
Mais do que nunca esta mística se faz necessária. E, confesso, não foram poucas as vezes que vi e vivi momentos como esse em que o Atlético para continuar buscando alcançar o lugar mais alto do pódio teve que derrotar a si mesmo. Tanto quanto é fundamental e inteligente respeitar o temível adversário que terá diante de si nesta decisão no Alianz Park, o time atleticano tem que entrar em campo acreditando em si, confiante em seu futebol e sabedor de que não estará sozinho.
Muitas vezes um simples, porém decisivo gesto pode ser o diferencial entre o fracasso e o sucesso. E isso me faz lembrar do ítalo-americano Ângelo Dundee, lendário treinador de boxe já falecido. Durante uma luta histórica entre seu pupilo Mohamed Ali, que ainda se chamava Cassius Clay, e Joe Fraser pelo título mundial dos pesos pesados, Dundee, que também treinou o brasileiro Adilson Maguila Rodrigues, ouviu de Ali após o décimo round, que este, completamente extenuado, queria desistir da luta.
Atento, Dundee percebeu que Fraser, sentado em seu corner, também estava em frangalhos, não tinha mais energia e apenas esperava a desistência de Ali. O gongo soou e Dundee disse aos ouvidos de Ali: apenas fique de pé, faça o gesto de que está pronto para voltar a lutar e você ganhará a luta. Ali assim fez e Fraser, sem conseguir se levantar, desistiu. No futebol um gol do adversário, uma expulsão, uma defesa improvável, um gol perdido, uma decisão infeliz da arbitragem ou do VAR são suficientes para balançar terrivelmente qualquer time de futebol.
E basta o adversário manter a pressão ou a pegada para que o time ferido sucumba sem qualquer possibilidade de reação. Curiosamente no jogo de ida o Atlético foi a “knockdown” logo após o Palmeiras marcar o seu primeiro gol se aproveitando de uma bola parada originada de uma falha grotesca de Otávio, provavelmente já cansado mentalmente.
É preciso que os Ali’s atleticanos sejam continuamente estimulados mental e emocionalmente para mostrar aos Fraser’s adversários que sempre estarão prontos para voltar a lutar e que jamais desistirão. O “Eu Acredito” do momento, em razão dessa fase conturbada porque passa o time atleticano, é o jogar junto com a equipe, mostrando a cada um dos jogadores que eles não estão sozinhos, que eles podem vencer, que eles devem acreditar em si e que, nem que seja por ½ a zero, eles podem transformar o sonho de milhões de galistas espalhados por esse mundão de meu Deus em uma realidade gostosa, feliz e apoteótica.
Torça e vibre onde você estiver. E se você tiver o contato de qualquer jogador ou de qualquer pessoa próxima a algum deles ou ainda de qualquer membro da comissão técnica envie mensagens neste sentido. Faça chegar a eles esse voto de confiança, esse acreditar proativo e essa certeza de que eles não estarão sozinhos dentro de campo. Faça-os acreditar que nem que seja por ½ a zero eles podem vencer. E assim, ao final do jogo e de onde estiver, o mestre Cafunga estará gritando: “Oh! Mamãezinha, eu não avisei? Não tem Coré Coré, foi de ½ a zero”. E a barra de todos estará limpa.
ESSE TEXTO NÃO REFLETE, NECESSARIAMENTE, A OPINIÃO DO PORTAL FALA GALO.