Não tirar os pés do chão é fundamental. Neste momento, todo cuidado é pouco
Por Max Pereira @Pretono46871088 @MaxGuaramax2012
Enquanto a bola rola e o time dentro de campo aos trancos e barrancos vai superando seus azares e seus problemas, tentando avançar no Brasileirão e sobreviver na Libertadores, fora das quatro linhas o Rei dos Paradoxos vai escrevendo uma história cheia de mistérios para o seu apaixonado e hoje, mais do que nunca, sofrido e desconfiado torcedor. Por isso, neste momento todo o cuidado é pouco.
Se de um lado, o que pode acontecer com o Galo dentro de campo vem tirando o sono de todo atleticano apaixonado, de outro o imaginário atleticano vai se retorcendo em mil e uma conjecturas sobre o futuro do Glorioso a partir do momento em que a sua Sociedade Anônima de Futebol estiver definitivamente constituída e ditando os destinos do clube.
E, cá entre nós, ainda que do ponto de vista legal, a SAF atleticana não esteja formalizada e sequer definitivamente estruturada, já é possível perceber que os seus ares já sopram pelos lados de Lourdes, da Arena e, claro, da Cidade do Galo. Ou não? Alguém duvida disso?
Não precisa ser um profundo conhecedor de futebol para perceber que tudo o que acontece dentro de campo, de bom e de ruim, é consequência direta do que ocorre fora das quatro linhas. O Atlético vinha de uma série de 10 jogos sem vitória. Uma sequência negativa que não se repetia há 31 anos.
E, antes disso, aquele Galo que ganhou quase tudo em 2021 e se ratificou super campeão do Brasil no início de 2022, de repente e, não sem razão, entrou em uma espiral de problemas em seus interiores e de políticas equivocadas em sua gestão que passaram a se refletir negativamente dentro de campo.
A cultura de desfazimento de ativos e de desmonte do grupo campeoníssimo, entremeada por um endividamento exacerbado, incontrolável e nunca explicado, conturbou o ambiente interno, desequilibrou e machucou o elenco, levou o clube a trocar equivocada e precipitadamente de treinadores e, claro, está na raiz do futebol ruim que o time atleticano, independentemente de quem vem entrando em campo vem mostrando desde a temporada passada.
Dizem que não há mal que sempre dure. Mais cedo ou mais tarde o Atlético iria reencontrar o caminho das vitórias. Mas, o bem também costuma ser efêmero, principalmente se ele vier como subproduto apenas daquelas traquinagens armadas pelo futebol que tornam o esporte bretão fascinante e, não atoa, o mais popular do planeta.
E foi contra o São Paulo, diante de um Morumbi lotado, que a fênix atleticana reencontrou o caminho das vitórias. Um resultado que, como não poderia ser diferente, reacendeu as esperanças da Massa em relação ao futuro do Atlético na Libertadores.
Pela primeira vez em muito tempo vimos um time jogando e vibrando no mesmo nível, comprometido, ligado e taticamente fiel a uma planilha de jogo pensada adredemente para aquela partida. Dessa vez, nenhum jogador que esteve em campo destoou negativamente, incluindo Hulk que vinha sendo uma peça nula no time atleticano.
Igor Rabello, Saravia e Battaglia foram os destaques, Hulk fez um gol antológico, Mateus Mendes, esbanjando personalidade e muito potencial, fez a defesa do jogo, Patrick entrou muito bem e Felipão foi muito bem na estratégia de jogo, na escalação inicial e nas mexidas durante a partida.
A arbitragem se não foi perfeita e teve lá seus erros, sobreviveu à gigantesca pressão extracampo de que certamente foi alvo, quanto à que os são-paulinos fizeram durante todo o confronto, tendo inclusive a personalidade e a coragem de marcar um pênalti claro a favor do Galo. E o VAR, por sua vez, também não interferiu negativamente no jogo.
Da mesma forma que os bastidores e o extracampo podem comprometer a atuação deste ou daquele jogador ou até mesmo de todo o time, eles também, por vezes, justificam uma boa atuação ou ainda a evolução de uma equipe ou de um trabalho de um treinador.
A efusiva e justa comemoração dos atletas alvinegros tão logo o árbitro apitou pela última vez, com direito a troca de calorosos abraços com o treinador, evidenciaram não só a boa relação de Felipão com os seus comandados, mas também que, apesar de toda a tempestade que vem se abatendo sobre o Glorioso, o grupo é bom, profissional e quer vencer.
É visível que o elenco do Atlético se fechou em torno da missão de reverter este momento ruim e de dar uma resposta não só à torcida e ao clube, mas e, principalmente, a si mesmos.
Isso evidencia que o futebol ruim, às vezes nada eficiente e quase sempre sem inspiração praticado pelo Atlético nos últimos tempos, se devia a fatores alheios à vontade dos atletas e de seus treinadores, decorrentes de problemas localizados intramuros do clube, porquanto a relação profissional com o Atlético e o ambiente de trabalho são os únicos pontos comuns entre eles.
Nunca se tratou de problemas localizados no grupo ou de má fase deste ou daquele atleta. Quando 8, 9 jogadores ou um time inteiro e outros que estavam no banco jogam mal, sem inspiração, evidenciando baixa autoestima, fragilidade emocional e mental e mostram pouco ou nenhum jogo impositivo, o problema é coletivo e, portanto, o que acontece em campo é consequência e a causa está fora dos gramados.
Se é induvidoso que o time atleticano vem evoluindo nestes últimos jogos e que os jogadores alvinegros estão reencontrando a confiança, a alegria de jogar e estão reacendendo aquela chama e o brilho nos olhos dos times vencedores, também é verdade que ainda é muito cedo para relaxar e, muito menos, acreditar que todos os problemas estão resolvidos.
Na vida nada é retilíneo. Avanços e recuos são normais. E no futebol não é diferente. Os quatro últimos jogos do Atlético mostraram isso à larga. O time jogou bem contra o Grêmio e contra o Flamengo e saiu derrotado em ambos os jogos. Derrotas que machucam, porquanto injustas e construídas graças a erros pontuais do time e do clube, somados a arbitragens ruins e à ação/omissão do VAR lesivas ao interesses atleticanos.
Já diante do Palmeiras, a derrota, não obstante muito doída, foi absolutamente merecida e mostrou que o Atlético ainda está longe do ponto ideal e, claro, muito distante de se ver totalmente livre dos problemas que o têm assolado. O que se viu em campo é auto explicativo e recolocou muitas barbas atleticanas de molho.
Ou seja, se a bela e consistente vitória sobre o tricolor paulista deve ser recebida com alegria e felicidade sim por todos os atleticanos, dentro e fora do clube, não tirar os pés do chão é fundamental. Neste momento todo o cuidado é pouco. Cuidado e caldo de galinha não fazem mal a ninguém.
E não precisa explicar porque este alerta vale tanto para as estratégias de jogo a partir de agora, quanto para as ações, métodos, processos e planejamentos na condução do clube e no jogo dos bastidores.
O coração atleticano, ufanista e apaixonado como sempre, antevê a partir de agora uma sequência vitoriosa, a permanência na Libertadores e um avançar constante na busca de um lugar no pelotão de frente do Brasileirão. Que o diga, o meu amigo Eduardo de Ávila, o Guru da Massa atleticana, símbolo vivo da paixão atleticana.
A razão, entretanto, nos diz que, ainda que isso aconteça dentro das quatro linhas, não significará que, fora de campo, todos os problemas terão sido resolvidos, que todas as dúvidas e incertezas sobre a SAF atleticana estarão sanadas, que todas as perguntas sobre a Sociedade Anônima do Futebol alvinegra estarão respondidas, que todas as dívidas estarão explicadas e quitadas, que todas as questões viárias estarão resolvidas e que a Arena estará definitivamente apta a receber público em sua capacidade máxima e, muito menos, que o Atlético terá se tornado definitivamente uma das maiores potências do futebol mundial.
Tudo isso só será possível com vigilância e cobrança inteligente e construtiva, com trabalho sério e profissional e planejamento. Por ora, nunca é demais repetir que, neste momento, manter os pés no chão é fundamental. Seguro morreu de velho.
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*Este texto é opinativo, de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, o pensamento do FalaGalo.*