Não custa repetir: time ganha jogo, elenco ganha campeonato

Por Max Pereira @MaxGuaramax2012
Parece surreal. Enquanto a maioria absoluta dos grandes times brasileiros, SAF’s e não SAF’s, projetam e claramente se movimentam para reforçar os seus elencos na próxima janela com o objetivo de amealhar as melhores e maiores premiações em disputa e, alguns deles, com o intuito de vencer a Libertadores 2024 e, assim, garantir uma vaga hiper-milionária no super-mundial de clubes da FIFA, o maior de todos os tempos, o Atlético sinaliza uma política de austeridade que não se sustenta diante de qualquer crítica minimamente rasa.
E, garantir uma vaga no Super-mundial da FIFA significa abocanhar um prêmio de 50 milhões de euros, cerca de 370 milhões de reais na cotação atual, independentemente do desempenho da equipe na competição. Mais que incompreensível, é inadmissível que o clube não se movimente e, sequer projete reforçar o seu elenco, qualificando-o e sanando os evidentes desequilíbrios que, jogo a jogo, saltam aos olhos até dos mais incautos observadores.
Em meio a tantas notícias desanimadoras e outros tantos recados controversos costumeiramente distribuídos em variados perfis e veículos das redes sociais e na própria mídia convencional, a verdade é que uma ou outra informação trazida aqui ou ali sobre uma possível mudança de rota não tranquiliza nenhum Galista apaixonado, porquanto não existem motivos para nelas acreditar e comemorar. O atleticano aprendeu, depois de tantas bofetadas que recebeu, a colocar as barbas de molho.
Ao mesmo tempo em que faz questão de deixar claro que além de Bernard e de Júnior Alonso, o clube só fará mais alguma contratação se houver uma oportunidade fortuita de mercado ou se houver alguma saída, em relação a esta última hipótese o Atlético informa clara e categoricamente que é o mercado o senhor absoluto e soberano dessa possiblidade.
Ou seja, não investirá em contratações em razão de uma política adotada pelo clube, enquanto as saídas se darão ao sabor da vontade suprema do mercado. E o que quer dizer oportunidade fortuita de mercado? Algum jogador sem vínculo contratual com outro clube, que não esteja na mira de alguém o que pode inflar o seu salário e, claro, não leve o Glorioso a fugir da folha salarial colimada pelos dirigentes em razão da política de austeridade adotada.
Falar e criticar é fácil, diriam os investidores alvinegros. Afinal, o dinheiro não é nosso. É deles. Mas, uma coisa é seguir acriticamente a cabeça e o coração de um torcedor apaixonado, particularmente se este é um atleticano. Outra coisa, é seguir um planejamento cioso e feito à guisa das variáveis e das demandas impostas pelo futebol dos tempos atuais, o que exige dos dirigentes expertise sobre o mundo da bola.
Planejar e estruturar um elenco exige de um clube que ele se conceba e se organize para este fim. A contratação de profissionais certos e a sua alocação nos lugares certos é fundamental e indispensável. Ninguém é bom em tudo, ninguém sabe tudo. Humildade, ambição racional, diligência, parcimônia e visão é o mínimo que se exige de um dirigente.
Planejar um elenco de um time de futebol é algo que vai além de uma planilha de Excel, de um gráfico ou de uma apresentação de power point. É preciso conhecimento das manhas do futebol dentro e fora de campo, da alma do boleiro como o jogador é chamado e tratado no meio, das exigências táticas, físicas e mentais que o futebol moderno impõe aos clubes e aos atletas e do jogo dos bastidores. É preciso, pois, o comando e o tirocínio de alguém do ramo.
O futebol não é ciência exata, mas uma coisa é tão certa quanto dois mais dois ser igual a quatro: a bola pune, não perdoa. E as derrotas, inevitáveis é verdade, sempre são fontes de lições. E esses dois insucessos sob o comando de Milito, interrompendo uma trajetória surpreendente e mágica, por certo acenderam o alerta vermelho que, em hipótese alguma, pode ser desprezado pelos investidores.
A falta de investimentos gera um elenco curto, desequilibrado. Não é sem razão que o futebol é o esporte mais popular do planeta. Fascinante, imponderável, o futebol, por vezes, produz resultados insuspeitos, nos quais o mais fraco surpreende o mais forte e o de camisa mais pesada é superado pelo de camisa menos tradicional. No futebol o difícil é saber com certeza o que dará certo. Já o fácil, é antever o que dará errado.
No artigo “VENDER, VENDER, VENDER, MALDIÇÃO, NECESSIDADE OU OBSESSÃO?”, publicado no Arquibancada do Galo em 24 de maio passado, escrevi que “vender, vender e vender como foco único nunca é solução. O futebol exige planejamento, diretrizes e cuidados. Investir é uma coisa e simplesmente gastar é outra. Espera-se que o comando alvinegro saiba a diferença”.
E acrescentei: “Ou os donos investem ou passaremos frio com o cobertor curto”, como sabiamente o atleticano Tomaz Araújo (@tomazaraujo13) postou em suas redes sociais. “Milito sabe disso e vai cobrar”, alertei por fim.
Por falar em Milito, a tristeza, o desamparo, a desmotivação e o semblante de quem se mostrava acuado, escancaravam o desalento do treinador atleticano durante e após estas duas derrotas. Mas, ele também não teria que ser cobrado pelos erros que eventualmente possa ter cometido? Claro e não só ele. Os jogadores também. Aliás, qualquer funcionário e qualquer dirigente. Cada qual nos limites de sua responsabilidade e poder de decisão.
E como equilibrar as contratações necessárias com o aproveitamento eficiente das promessas das categorias de base? Não deixa de ser um desafio, particularmente para um clube que prima em não possuir um projeto consistente e efetivo de formação e de transição. Não à toa, o clube tem visto um número extremamente significativo de garotos de bom potencial, ou serem mal lançados e queimados, ou saírem do clube em negócios claramente ruins ou ainda simplesmente liberados sem nenhum retorno para o Glorioso.
No seio da massa atleticana um clamor por contratações que sanem as deficiências e os inescondíveis desequilíbrios do elenco alvinegro está ressoando cada vez mais forte. E não custa sonhar: espera-se que o comando atleticano se sensibilize e perceba que não investir agora é semear problemas e crises no futuro.
E nem o fato de que nessa temporada não tenham feito promessas vazias elimina a preocupação do torcedor e, tampouco, tira de cada atleticano o direito de cobrar. Conforme diz o atleticano Júlio Lazarotti o “papel de qualquer gestor, é antever problemas, para mitigá-los. E o Atlético NÃO FAZ ISSO!”
Nem o exemplo de 2021 quando o clube não vendeu ninguém, ganhou quase tudo que disputou, faturou os maiores prêmios distribuídos no futebol brasileiro até então, fechou o ano no verde, i.e., com superávit, pareceu servir de alguma coisa. Ao contrário, repisar experiências de temporadas nas quais cumpriu com folga a meta de vendas de jogadores prevista em seu orçamento, não ganhou nenhum título importante, fechou os exercícios no vermelho, ou seja, com prejuízo e viu suas dívidas explodirem, parece ser o objetivo insano do clube.
Sabemos todos que time ganha jogo. Sabemos todos que elenco ganha campeonatos. Assim, não custa repetir: queremos todos que o Galo seja forte. Queremos todos um elenco forte e equilibrado. Queremos uma gestão ambiciosa e antenada com os sentimentos e as expectativas da Massa. Queremos que 2021 não seja apenas um ano fora da curva, não é mesmo Julião da Massa?