Futebol, resultado ou espetáculo?
ESTE TEXTO E DE RESPONSABILIDADE DO AUTOR, NAO REFLETE, NECESSARIAMENTE, A OPINIÃO DO PORTAL.
Por: Gui Veloso
Antes de começar a dita busca de quem nasceu primeiro, se foi o ovo, ou a galinha, ou até mesmo o inexorável clássico bolacha versus biscoito, faço aqui o registro de uma reflexão que a muito atormenta os amantes do futebol.
Futebol é pra início de conversa, é uma modalidade esportiva, pro Atleticano, é segmento do estado de espírito, da conta bancária, do desenrolar da semana. Agora pensando, futebol em sua essência, o que é? Vencer campeonatos, gravar na retina apresentações incríveis? O quê é o futebol? Pra começarmos essa jornada, traremos argumentos para uma reflexão, onde você decidirá o quê de fato o compõe e dá vida. Começo com uma memória, ainda criança, no concreto do estádio, éramos quase cem mil torcedores, dá pra imaginar? Era na virada do milênio, uma final, uma recordação que me assombra até hoje… A torcida, inflamada, gritava, o estádio tremia, não via um ponto vazio, um espacinho, minúsculo que fosse, pra qualquer dúvida, ou medo. Quando o juiz apitou, nem deu um minuto, menos de uma volta no relógio, gol. Gol do Guilherme, foi uma euforia, parecia que o mundo tinha parado de girar pra apreciar aquele instante, e claro, com inveja, de naquele momento, não poder manifestar-se com a torcida que quase derrubou aquele estádio, Mineirão. Foi uma partida duríssima, um espetáculo. O time aguerrido, jogava feito música, orquestra mesmo, Beletti, Marques, Guilherme, uma afinação que fez aquela torcida acreditar, um show. Mas no final, no derradeiro confronto, não erguemos a taça… Ainda assim, esse time, o de 2001, me marcaram de tal forma, pelo que jogavam, pelo que batalhavam, que consegui, finalmente eu depois de muitos anos, entendi as dores de meus coirmãos Atleticanos, de 77, 80,81,82 (menção honrosa a seleção de Tele Santana), 86. Recentemente me recordei desse sentimento.
Quem lembra de 2020? Não vou polemizar a passagem do Argentino Sampaoli, se você gosta dele, ou não, se ele é um ser vivo que destrata o mundo, ou se não, não é esse o ponto. O ponto é que novamente, o Brasil se rendeu a uma máquina que entrava pra valorizar o show, o espetáculo. E com aquele time, não se tolerava chutão, cera, ou qualquer coisa que prejudique a estética do lance. Você tem o direito de sentir raiva, afinal, uma vitória, 1 chutão não dado, uma bola não rifada nos tirou o bicampeonato que matematicamente viriam. É aquele sentimento de quase, de bola na trave… Mas ainda assim, mesmo com tudo isso, que interessante, são times e momentos que a retina gravaram, que tanto o amargo quanto a alegria nos fazem recordar. Você deve ter lembrado de alguma coisa, de muita coisa, de Atleticanos que partiram e não viram alguns desses times e momentos, mas que saudosamente partilhariam de conversas ótimas, ou até mesmo, dividiram alguns desses momentos…
Agora, chega dessa nostalgia, vamos pra coisa séria, a eficiência matemática, a tal conta infalível. Há quem prefira, antes do que toda essa filosofia que começamos acima. Goleadas de 1 a 0, retranca, ou aquele jogo de cozinhar adversário rodando bola. Na era dos pontos corridos, alguns treinadores aprenderam que com uma defesa sólida, se tomar menos gols e jogar por uma bola, bato campeão fim do ano. Olha, dureza, mas, Corinthians, Fluminense, São Paulo, adotaram essa fórmula, e conseguiram de forma até repetida, ganhar o campeonato brasileiro desse jeito. Foi bonito? Não! Empolgaram o país? Não! Foi um futebol burocrático, de aula de matemática em plena segunda feira, para os que não a amam, isso é tortura das piores existentes. Mais recentemente ainda, pra quem gosta de futebol internacional, final da Champions League, Real x Liverpool, por números, o time inglês teve um volume assustadoramente maior que o time espanhol, que em dois chutes ao gol, 1 entrou e decretou o título para os merengues. Placar magro, futebol eficiente, maiores campeões do torneio. Torcida tá em êxtase, nos jornais do mundo inteiro, manchetes como “os maiores campeões “… Sinceramente, não sei a escalação de nenhum desses times de cabeça, mal, mal, me lembro da jogada do gol dessa final. Ou das partidas derradeiras desses… Mas consigo te dizer, que são regularmente campeões, resultadistas e pragmáticos na forma de jogar.
Há quem defenda, que o futebol é a junção dessas duas fases, uma mistura fina entre a arte e exatidão de um relógio suíço. Considero isso o ímpar da vida, Galo de 2021, Flamengo de 2019, Barcelona de 2005. Isso é uma estrela cadente, um fato raro que precisa ser apreciado e exaltado sempre que possível não com o tom imperativo da comparação, porquê repeti-lo é senão impossível, ingrato para quem toma a frente de uma equipe de futebol. E ao final disso, o que é pra você futebol, resultado, ou espetáculo? É ser referência de estilo de jogo, ou campeão? Talvez, só talvez, responder isso possa ajudar a entender o que esperar do nosso time daqui pra frente.
A matemática, abraça o atual técnico e dá aos amantes das estatísticas argumentos mais que suficientes pra sustentar uma continuidade e crença de um ano proveitoso ao Turco. A arte, nesse momento, o deixa mais a perigo de uma interpretação abstrata e sem tantas vibrações para querer manter sua continuidade a frente desse projeto.
E novamente, você, vai pela torcida, pra se emocionar e ver um grande time, ou vale o pragmatismo, a burocracia, pra tentar ser campeão?