Em time que está ganhando se mexe, se faz treinar mais, se busca melhorar e se reforçar sempre
Por Max Pereira @MaxGuaramax2012
Durante muito tempo ouvi e acreditei em uma máxima de autor desconhecido: em time que está ganhando não se mexe. Em outros tempos, certamente lúdicos e românticos, havia carradas de razões para se pensar assim. Por que mexer naquilo que está dando certo?
Nas décadas de 50 e de 60 do século passado o futebol brasileiro assombrou o mundo. Pelé e Garrincha, enquanto faziam os brasileiros gargalharem e comemorarem a conquista dos mundiais de 58 e 62, inundaram o imaginário dos gringos de um misto de êxtase, admiração e de uma preocupação que mudaria para sempre o esporte bretão: como fazer frente a tamanho talento, criatividade e habilidade? Como jogar de igual para igual e até superar o futebol arte dos brasileiros?
A resposta a estas questões indicou que apostar em esquemas táticos rígidos, condicionamento físico típico de atletas de alto rendimento e força mental era a fórmula ideal para se contrapor com eficiência ao futebol plástico e inventivo dos brasileiros. Foi o que fizeram os europeus, Ainda não se falava na importação em massa de sul-americanos.
Ironicamente, uma corrente de especialistas, dentre os quais alguns preparadores físicos e treinadores de grande influência no futebol brasileiro naquela época, passaram a defender a ideia de importar os modelos táticos que estavam sendo desenvolvidos na Europa. E a introdução desses conceitos táticos alienígenas acabou impondo aos atletas tupiniquins uma indesejável camisa de força.
Nada contra copiar experiências exitosas de outros povos, de outras culturas, desde que se busque adaptá-las ao nosso espectro cultural, o que equivale dizer respeitar as características do atleta brasileiro, a relação clube-torcida e a história do esporte no país.
Não à toa, muitos se perguntam se Pelé e Garrincha seriam tão geniais se jogassem nos dias de hoje, enfrentando marcações e esquemas táticos rígidos, em espaços cada vez menores e sendo exigidos física e mentalmente cada vez mais. Eu que tive o privilégio de tê-los visto jogar ao vivo e em cores posso afirmar que, ainda assim, seriam diferenciados.
Mas, sou forçado a reconhecer que a evolução do futebol até os dias atuais ceifou a carreira de muitos atletas reconhecidamente talentosos. A imensa dificuldade de assimilação e de dar as respostas esperadas às exigências do futebol moderno, tático, físico e mental por excelência, tem sido corriqueiramente interpretada como falta de garra, de alma e até de profissionalismo.
Se aproveitando do seu enorme poderio econômico o futebol europeu passou a importar os grandes nomes do futebol sul-americano. Porém, a inadaptação de muitos atletas sul-americanos, brasileiros em particular, aos ritmos de treinamentos, às exigências táticas, físicas e comportamentais, tudo isso somado às diferenças climáticas, de língua, de alimentação e à saudade de seu país, frustraram muitos sonhos e trouxeram muitos prejuízos aos clubes europeus.
Por isso, os clubes europeus passaram a garimpar e a priorizar a contratação de jovens promessas, entendendo que se cuidarem eles mesmos da formação e da transição desses garotos poderiam também minimizar os problemas de adaptação e assim colherem frutos interessantes. Messi, por exemplo, foi o melhor embrião dessa política no futebol espanhol.
Vivendo e acompanhando o mundo da bola e o Galo aprendi que o futebol não é ciência exata, que perder dói, mas faz parte e que, conforme já escrevi muitas vezes, temos que aprender com as lições que a vida nos traz.
Ninguém é perfeito, nem um time de futebol, inclusive o do nosso Atlético, nenhum treinador, inclusive o bom Milito, e os jogos mostram isso. Não sem razão, nenhum time vence sempre e todos nós erramos.
O maior desafio que o futebol de hoje impõe aos clubes e, por tabela, aos atletas, não é chegar à prateleira de cima e, sim, permanecer lá. Assim, como é impossível ficar no topo indefinidamente, o pulo do gato é buscar permanecer nele e próximo dele o maior tempo possível e, na baixa, exatamente o contrário.
E aí, lidar com o erro que é inerente ao ser humano e, portanto, a qualquer trabalho desenvolvido pelo homem, aprender com ele (erro), buscar corrigi-lo e não mais repeti-lo, torna-se missão fundamental e obrigatória. Por melhor que seja a fase de um time, a aprovação do trabalho de seu treinador, da comissão técnica e do comando da agremiação, o erro sempre existe e há sempre algo mais a se fazer, a melhorar, a evoluir.
Cada vez mais tático, físico e mental, o futebol de hoje exige dos clubes planejamento, cuidados e trabalho cada vez mais complexos e tecnológicos. A montagem de um elenco, por exemplo, com foco no equilíbrio e em um leque de opções em qualidade e em quantidade que possibilite ao treinador, seja ele de quem for, trabalhar e escalar o melhor time jogo a jogo, é hoje de transcendental importância para o clube que quiser conquistar títulos.
Contusões, suspensões, convocações, momentos de baixa emocional ou de má fase ou ainda problemas particulares e saídas intempestivas ou deste ou daquele atleta, além, é claro, da dificuldade ou da lenta assimilação das ideias de jogo do treinador por parte de algum jogador, obrigam o técnico a buscar outras opções no elenco. E isso acontece dia sim, o outro também.
O ex-treinador alvinegro Antônio Mohamed sabia disso e, em todas as suas coletivas, fazia questão, no seu costumeiro portunhol, de deixar clara a importância de um elenco largo. Largo em Espanhol quer dizer um elenco prenhe de opções em quantidade e em qualidade.
Nada mais natural e óbvio nos dias de hoje do que cuidar, blindar, proteger cada um dos atletas, provê-los do melhor preparo, físico, tático e mental possível e de cuidados médicos e fisiológicos de ponta, além de administrar de forma parcimoniosa e diligente eventuais saídas e fazer as contratações pontuais necessárias ao equilíbrio do elenco.
Aqui entra o papel da crítica construtiva. Alertar, mostrar os possíveis erros e apontar caminhos é sempre uma contribuição inestimável. E isso vale também para este escriba. Confesso aprender muito com as críticas e com os feed-backs construtivos. Qualquer crítica construtiva é sempre bem-vinda.
Um dos papéis do torcedor é vigiar e cobrar. A relação clube-torcida impõe esta missão. Não basta apenas jogar junto com time nas arquibancadas e nas gerais. Hoje em dia é mais que preciso, é absolutamente necessário e fundamental ser parceiro do clube fora de campo. E, claro, no jogo dos bastidores. É sempre possível melhorar mais, evoluir mais e, mexer no que for necessário, é mais que salutar.